Descrição de chapéu Selic

Com aumento do risco fiscal, mercado prevê manutenção da Selic em 10,50%

Itaú e XP não esperam cortes na taxa nem em 2025, enquanto contratos futuros apontam alta nos juros no próximo ano

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São Paulo

As chances de que novos cortes na Selic sejam feitos pelo Banco Central neste ano diminuíram ao longo das últimas semanas, avaliam analistas.

As recentes derrotas do ministro Fernando Haddad (Fazenda) em seu esforço para aumentar a arrecadação provocaram uma elevação no risco fiscal e, agora, diversas instituições esperam que a taxa básica de juros seja mantida nos atuais 10,50% nas próximas reuniões.

Algumas, inclusive, não antecipam cortes nem em 2025, como é o caso do Itaú e da XP.

O presidente Lula ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em cerimônia no palácio do Planalto.
O presidente Lula ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em cerimônia no palácio do Planalto. O chefe do Executivo é crítico ao patamar dos juros brasileiros. - Pedro Ladeira/Pedro Ladeira/Folhapress

A projeção do Itaú Unibanco foi alterada na última segunda-feira (10). Antes, o banco esperava mais um corte na Selic, chegando a 10,25% em dezembro.

"Em meio às expectativas de inflação crescentes (já parcialmente desancoradas), atividade econômica resiliente e maiores incertezas doméstica e externa, entendemos que não há mais espaço para cortes adicionais de juros", escreveu Mario Mesquita, economista-chefe do banco, em relatório.

Nesta quarta (12), o Santander mudou sua projeção para a Selic ao fim deste ano de 9,75% para 10%, destacando que a inflação, a expansão fiscal e os preços das commodities pioraram desde a última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em maio.

"O caminho mais prudente [para o BC] é interromper o ciclo de corte [na Selic] até que os riscos e a inflação projetada melhorem", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs.

A estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano aumenta desde abril, se afastando cada vez mais da meta estipulada de 3%. Segundo o último Focus, o mercado espera, em média, uma alta de 3,90% no índice deste ano.

Com o mercado de trabalho aquecido e as enchentes no Rio Grande do Sul, o IPCA acelerou de 0,38% em abril para 0,46% em maio, acima das projeções.

"É uma leitura que reforça nosso cenário de que o BC deve interromper o ciclo de corte de juros já na próxima reunião [de junho]", diz Alexandre Maluf, economista da XP.

Outro fator que deve elevar os preços ainda mais é a alta do dólar, que saltou da faixa dos R$ 5,10 para os R$ 5,40 no último mês.

"Caso o câmbio se mantenha nos atuais patamares por um longo período de tempo, diminui a possibilidade de afrouxamento monetário pelo BC no futuro, podendo até subir [a Selic] a depender da magnitude dos efeitos", afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach.

Os juros futuros —contratos que levam em conta a expectativa quanto à Selic futura— apontam para o cenário de alta na taxa de juros em 2025. Nesta quarta, o contrato para julho de 2025 terminou o pregão a 11,07%. Ou seja, uma alta de 0,5 ponto percentual na taxa em um ano.

Segundo Ramos, a desvalorização do real e a alta nos juros futuros são reflexo do aumento da preocupação de investidores com a saúde fiscal do Brasil. "O ambiente, que vem azedando gradualmente, piorou com mais intensidade nos últimos dois meses, com a mudança substancial nas metas fiscais."

Em abril, o governo trocou a meta de 2025 e o objetivo de um superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano que vem deu lugar à intenção de zerar a diferença entre gastos e arrecadação. O mercado, porém, segue com a previsão de déficit próximo a 0,7% do PIB nos dois anos.

"O governo tem pouca vontade política de controlar e cortar o gasto", diz Ramos.

Apesar do cenário de aversão a risco, o economista ainda vê espaço para dois cortes na Selic este ano, considerado que o Fed (banco central dos EUA) também reduza sua taxa, "mas com convicção cada vez menor". Seriam reduções de 0,25 ponto percentual cada uma, uma em novembro e outra em dezembro, levando a taxa para 10%.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, compartilha desta visão. "A percepção de risco maior é que o governo provavelmente terá que revisar a meta fiscal, pois não temos mecanismo para controlar [os gastos]. Acabou a confiança no arcabouço", diz.

Segundo Rafaela, além de as últimas tentativas do ministro Fernando Haddad de elevar a arrecadação terem falhado, os gastos estão maiores do que o previsto no Orçamento. "O gasto subiu muito mais do que o esperado, e esperamos uma atitude [do governo] em resposta que não veio", diz a economista, que alterou sua previsão da Selic ao fim de 2024 de 9,75% para 10,50%.

Para os analistas, a estratégia de equilibrar as contas públicas pelo lado da arrecadação se mostra insuficiente.

"O arcabouço nunca funcionou como âncora fiscal. O mercado nunca comprou essa ideia. É preciso pensar de maneira mais crítica sobre o tamanho do gasto", diz Ramos.

Uma das alternativas para conter as despesas trabalhadas por Haddad e Simone Tebet (Planejamento) é a desnvinculação do salário mínimo a benefícios como o INSS, alvo de críticas por parte de alas do governo.

Sung, da Suno, afirma que o desgaste interno no governo Lula também é um fator por trás do aumento do risco fiscal.

"O maior problema não é apenas a mudança na meta, mas a falta de direcionamento do Executivo em relação à dinâmica de receita e despesa à frente, algo que não foi atacada pelo governo de forma significante", diz Sung.

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