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Coreia do Sul é acusada de escravidão moderna com esquema de trabalhadores sazonais

Trabalhadores afirmam que tinham seus passaportes e documentos confiscados e remuneração enganosa

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Mariejo Ramos
Londres | Reuters

Filipinos vulneráveis e mal remunerados têm sido explorados, enganados e abusados em um esquema de trabalhadores migrantes lançado pela Coreia do Sul para suprir sua grave escassez de mão de obra, afirma investigação da Thomson Reuters Foundation.

De acordo com esquema —que também recruta trabalhadores do Nepal, Vietnã, Mongólia, Laos, Camboja, Uzbequistão e Tailândia— agricultores e pescadores de outros países são transferidos para Coreia do Sul para trabalharem de cinco a oito meses, com a promessa de receberem grandes salários.

Mas a Thomson Reuters Foundation conversou com uma dúzia de ex-trabalhadores que afirmam que o esquema é enganoso —muitos dizem que voltaram de mãos vazias e alguns correram o risco de perder terras para os corretores que fecharam seus contratos temporários.

Segundo investigação, filipinos têm sido explorados em um esquema de trabalhadores migrantes lançado pela Coreia do Sul para suprir escassez de mão de obra. - Kim Hong-Ji/Reuters

Os trabalhadores afirmaram que os corretores cobraram taxas excessivas para lhes garantir trabalho árduo, controlaram seus movimentos confiscando seus passaportes e documentos e os enganaram quanto aos salários prometidos.

"Isso demonstra claramente a vulnerabilidade dos trabalhadores sazonais ao tráfico humano e ao trabalho forçado", disse Ko Gibok, do JCMK (sigla em inglês para Comitê Conjunto com Migrantes na Coreia), uma coalizão de grupos que trabalham para melhorar os direitos dos migrantes.

Ko chamou o programa de uma nova forma de escravidão moderna.

"É como o tráfico humano nos dias de hoje. Os corretores tratavam os trabalhadores sazonais como escravos", disse Ko.

O governo sul-coreano recusou pedidos de comentários.

O governo filipino disse que o esquema era administrado em uma base estadual —pelo menos 45 governos locais participaram —e que não tinha jurisdição sobre o nível local.

O país tem um total de 1.600 unidades de governo local que podem entrar em acordos com suas contrapartes na Coreia do Sul.

Essa postura de não interferência significa que é difícil contabilizar o número de trabalhadores afetados ou rastrear a extensão dos abusos.

Buscando uma melhor supervisão, a Filipinas anunciou planos em março para canalizar todos os futuros trabalhadores migrantes por meio de um acordo bilateral.

Nenhum acordo bilateral sobre o programa de trabalhadores agrícolas sazonais foi alcançado até o momento.

A Thomson Reuters Foundation entrou em contato com vários governos locais coreanos para comentar o assunto —nenhum deles respondeu.

PROMESSAS VAZIAS?

Mais de 3.500 filipinos foram recrutados desde 2022, quando a Coreia do Sul lançou acordos de cidades-irmãs que unem estados filipinos locais com suas contrapartes coreanas mais ricas.

Os trabalhadores foram atraídos para o esquema pela promessa de ganhar até cinco vezes mais do que podem ganhar em casa.

Para a Coreia do Sul, os migrantes suprem um déficit crônico de mão de obra, exacerbado pelo envelhecimento e diminuição da população, com os trabalhadores estrangeiros assumindo empregos de baixa remuneração que muitos locais evitam.

A Thomson Reuters Foundation analisou os documentos de 12 ex-trabalhadores sazonais —documentos que revelaram violações sistêmicas de contratos, acordos geralmente fechados por corretores independentes.

Entre as reclamações: violações do bem-estar, taxas exorbitantes de corretores, condições adversas, remuneração diluída e falta de qualquer reparação.

Muitos filipinos também disseram que tinham muito medo de se manifestar por receio de serem excluídos de futuras perspectivas de emprego.

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