Engraxates de Wall Street se voltam ao tênis para sobreviver ao domínio do casual

Tipo de comércio centenário enfrenta dificuldades após empresas passarem a priorizar o conforto

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Ignacio Gonzalez
Bloomberg

A Roman Shoe Repair, de Nova York, abriu sua loja em Wall Street em uma sexta-feira de manhã às 7h, como faz todos os dias úteis desde 1998. Três horas depois, recebeu seu primeiro cliente.

Esse tipo de comércio centenário enfrenta dificuldades após os escritórios passarem a priorizar o conforto. Vários setores, incluindo o financeiro, começaram a flexibilizar os códigos de vestimenta ainda antes da pandemia, e a tendência se acelerou após anos de trabalho em casa de chinelo e moletom.

Agora, para se adaptar, alguns engraxates estão oferecendo serviços de limpeza de tênis. "O setor não é mais o mesmo", disse Charlie Colletti, dono da Cobbler Express, uma loja de engraxate e reparo em sua terceira geração no sul da ilha de Manhattan. "Trabalhamos um pouco com tênis, tentamos acompanhar os novos tempos".

Mulher caminha de tênis em Wall Street; ao fundo, a Bolsa de Nova York - Brendan McDermid - 19.mar.2021/Reuters

O CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, usa tênis (ele gosta de um par de Common Projects pretos), e o casual chegou até ao Senado dos EUA. Os serviços de limpeza de tênis ajudaram a Anthony's Shoe Repair, perto do Grand Central Terminal, a sobreviver à pandemia. Assim como lustrar sapatos sociais, é um serviço especializado.

"Muitas pessoas não sabem como limpá-los", disse o dono, Teodoro Morocho. "Você precisa do equipamento e material certos para fazer bem feito".

O interesse de busca por tênis para trabalhar aumentou 181% desde janeiro de 2021, e as marcas de calçados esportivos estão apostando em opções mais casuais adequadas aos escritórios.

Parte da proposta da coleção de sapatos para o dia a dia da Allbirds é o conforto para "passar algumas horas na sua mesa", enquanto a Nike também sugere abandonar botas pesadas ou saltos pontiagudos por calçados mais confortáveis.

A tendência dos tênis surge no momento em que o número de trabalhadores que vão ao escritório na área metropolitana de Nova York atingiu cerca da metade do nível pré-Covid 19.

"Se eu ficar no corredor e olhar as pessoas passarem, a cada 10 pessoas que passam, oito delas estão de tênis", disse Colletti. "Mudou muito. Wall Street não é mais Wall Street, então estamos vendo menos pessoas vindo para engraxar os sapatos".

Os custos crescentes também afetaram os engraxates. Na Anthony's Shoe Repair, o preço do serviço subiu de US$ 5 para US$ 10 (R$ 54) neste ano, à medida que a inflação atingiu os custos trabalhistas e materiais como couro e graxa para sapatos nos últimos anos. Mas eles ainda estão lutando.

"Não é como antes, nunca será como antes", disse Morocho.

A Edisson's Shoe Repair, a 10 quarteirões ao norte da Anthony's Shoe Repair, também oferece serviços de limpeza de tênis —mas a diversificação não foi suficiente para algumas empresas.

Engraxates estão fechando lojas e reduzindo funcionários. A Arnold Shoe Repair, localizada a dois minutos a pé da loja de Morocho, fechou permanentemente no início deste ano e a Edisson's Shoe Repair fechou três lojas após a pandemia. Colletti costumava ter 16 funcionários, e agora sobraram três, ele e mais dois, um em meio período.

"Estávamos tão ocupados", disse Colletti. "Nos anos 1990, eu tinha um contrato com a Merrill Lynch", disse, acrescentando que "ganhou muito dinheiro."

Alguns engraxates disseram que a arte está em risco de extinção, já que menos jovens entram na área. "Eles não querem aprender essa arte", disse Morocho. "Imagino que em cerca de 20 anos, será difícil encontrar pessoas que trabalhem com isso, que estejam interessadas".

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