Fed mantém juros inalterados nos EUA e sinaliza apenas um corte neste ano

Decisão vem após dados de inflação no país mais fracos que o esperado

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São Paulo

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, decidiu manter a taxa básica de juros do país na faixa entre 5,25% e 5,50% nesta quarta-feira (12) e sinalizou que pretende fazer apenas um corte de 0,25 ponto percentual nos juros neste ano.

A decisão não surpreendeu o mercado, que já esperava a manutenção das taxas no atual patamar, o maior nível em 23 anos. Já a previsão de apenas um corte em 2024 divergiu das apostas da maioria dos negociadores, que projetam duas reduções de juros neste ano.

A sinalização, no entanto, não desanimou os mercados americanos, que se mantiveram em forte alta mesmo após a divulgação da decisão. Mais cedo, dados de inflação mais fracos que o esperado no país já haviam desencadeado otimismo global, fazendo com que o S&P 500 e o Nasdaq registrassem nesta quarta.

Prédio do Fed (Federal Reserve), em Washington - Joshua Roberts/Reuters

Isso porque, apesar da piora nas projeções para corte de juros —em março, as autoridades previam três cortes até o fim do ano—, houve indicações positivas na decisão de política monetária desta quarta.

Os membros do Fomc (comitê de política monetária americano) reconheceram em seu comunicado que houve "modesto progresso adicional" em direção à meta de inflação, de 2%, numa afirmação mais assertiva que a do mês anterior, que mencionava "ausência de evidências" de avanços.

Além disso, houve divergência entre os diretores da instituição sobre a previsão de cortes de juros para este ano. Dos 19 membros do comitê, quatro afirmaram que não esperavam realizar nenhum corte em 2024, enquanto sete projetaram apenas um corte de 0,25 ponto. Oito dos 19 membros apoiaram dois cortes, mostrando que boa parte dos diretores ainda apoiam um cenário de afrouxamento maior.

Após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que houve grande progresso na batalha contra a inflação e que as autoridades não têm possíveis novos aumentos de juros em mente. Ele voltou a dizer, no entanto, que o banco vai aguardar novos dados para ter confiança no processo de desinflação.

Mais cedo, o Departamento de Trabalho dos EUA divulgou que o índice de inflação CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) caiu para 3,3% em maio, levemente abaixo das previsões do mercado, de 3,4%.

Além de ter desencadeado alta nos índices de Wall Street, os números derrubaram os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e melhoraram as previsões para os juros do país, com negociadores chegando a atribuir 84% de chance de uma redução nas taxas americanas em setembro, aumento considerável em relação aos 60% registrados anteriormente.

"Vínhamos observando sinais de desaquecimento no mercado de trabalho, imóveis e serviços, mas o dado que realmente importa é o CPI. E hoje ele mostrou que a história de desaceleração é a mais provável", diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.

Os novos números não chegaram a ser considerados pelo Fed na reunião desta semana, mas Powell comentou, em entrevista a jornalistas, que foi surpreendido pela desaceleração da inflação.

O comitê, no entanto, aumentou sua previsão para a inflação americana no fim do ano, passando-a de 2,4% para 2,6%.

Após a divulgação das projeções do Fed, os mercados chegaram a ter ligeira piora, mas mantiveram as trajetórias positivas registradas desde o início do dia. As expectativas de um corte em setembro também tiveram leve redução, para 64% de chance.

A postura cautelosa da autoridade monetária americana já era esperada pelo mercado, em especial considerando que os últimos dados de emprego nos EUA, divulgados na última sexta (7), mostraram força da economia.

O último relatório de emprego americano, conhecido como "payroll", mostrou que foram criadas 272 mil novas vagas de trabalho nos EUA em maio, bastante acima das expectativas de 180 mil postos de economistas consultados pela Bloomberg.

Marcelo Vieira, chefe da mesa de renda variável da Ville Capital, lembra que o mercado de trabalho costuma ser acompanhado de perto pelo Fed e é um dos principais fatores que influenciam as decisões de juros da autoridade monetária.

"O mercado de trabalho aquecido gera mais custos para as empresas, que terão que repassar esses valores. Além disso, há o aumento de renda, que gera mais consumo. São dois fatores muito fortes para a inflação", diz Vieira.

Ele afirma, ainda, que a proximidade das eleições americanas deve limitar o poder de ação do banco central americano, que costuma se manter fora das discussões políticas. A previsão de desastres naturais com a temporada de tempestades americanas, que pode gerar picos inflacionários, também está no radar.

O dado de inflação desta manhã, por outro lado, pode amenizar o cenário para a próxima reunião.

Vale lembrar que, antes do CPI desta terça, previsões mais pessimistas já consideravam que não haveria nenhum corte nas taxas americanas neste ano. Por isso, a sinalização do Fed de uma redução foi encarada com otimismo por parte do mercado.

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