Dólar ultrapassa R$ 5,40 com derrotas de Haddad e fala de Lula

Redução de pessimismo com economia americana arrefeceu alta, mas real fechou na contramão de moedas globais

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São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro

O dólar atingiu a marca de R$ 5,430 nesta quarta-feira (12), em meio a uma percepção de enfraquecimento político do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de ruídos sobre a condução da política fiscal. No fim da sessão, a moeda recuou e fechou a 5,405, uma alta de 0,83% em relação ao dia anterior, sob influência principalmente de notícias da economia americana.

A Bolsa fechou em queda de 1,39%, aos 119.936 pontos.

Incertezas sobre a condução da política econômica vêm assustando investidores e descolando os índices brasileiros dos mercados globais. "Há um temor crescente de que a visão mais ponderada de Haddad está perdendo força dentro do governo", afirmou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Derrotas recentes do ministro contribuem para essa percepção. Na terça-feira, o Congresso Nacional recusou a medida criada pelo governo para restringir o uso de créditos tributários por parte de empresas, em um novo revés para Haddad no debate fiscal.

A MP (medida provisória) havia sido enviada aos parlamentares apenas uma semana antes, alterando regras do PIS/Cofins, como forma de compensar parte das perdas de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos a empresas e municípios. O ministro já havia sofrido derrotas durante os debates sobre a tributação da folha.

"Se, por um lado, o fracasso da MP dá algum conforto para setores produtivos que seriam mais impactados com a limitação dos tributos federais, por outro segue o enorme desafio de equilibrar as contas públicas em 2024 e nos próximos anos", diz a equipe da Levante Investimentos.

Entre os grupos beneficiados com a desoneração está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad. - Diogo Zacarias -08.nov.2023/Ministério da Fazenda

Como mostrou a Folha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou de erros do governo ao tentar criar uma medida de compensação para a desoneração da folha. Segundo relatos feitos por quatro participantes, Lula afirmou que sua equipe deveria ter negociado uma fonte de receitas no momento em que firmou um acordo para manter a redução de tributos sobre salários.

Integrantes do governo apontam que as críticas de Lula foram direcionadas para toda a equipe. A proposta da MP foi elaborada pelo Ministério da Fazenda no final de maio, recebeu aval da Casa Civil e foi apresentada à equipe de articulação política. A medida foi assinada por Lula no dia 4 de junho.

LULA DEFENDE AUMENTO DA ARRECADAÇÃO

Em meio às incertezas sobre Haddad, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento no Rio de Janeiro, também influenciaram o mercado financeiro. O petista afirmou que o governo está "arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal", mas sem mencionar corte de gastos.

"O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público", disse.

Para Felipe Moura, analista da Finacap, o mercado "perdeu a paciência" com a atual gestão da equipe econômica e não tem mais confiança no compromisso fiscal proposto pelo governo.

"Já houve muita retirada de saldo estrangeiro da Bolsa com essa série de desdobramentos negativos no front fiscal", afirmou.

Diante dos problemas enfrentados pelo ministro da Fazenda, os líderes do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), e no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmaram que ele está firme no cargo.

"Eu prefiro dizer que quem contratou e quem demite não está pensando nisso [em demissão]. Nem o Haddad está pensando nisso. Agora, as pessoas adoram especular", disse Wagner a jornalistas.

Randolfe disse que o ministro ficaria "enfraquecido", se o próprio presidente tivesse retirado a MP de Pis/Cofins —o que não ocorreu. "Tem setores que querem ganhar um pouquinho mais com o dólar e espalham o boato."

BRASIL PERDE ONDA DE OTIMISMO GLOBAL

Com a deterioração do cenário fiscal no Brasil, os indicadores locais foram na contramão do exterior. Nos EUA, o S&P 500 e o Nasdaq fecharam em níveis recordes, e o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, caía 0,53% no início da noite desta quarta.

O otimismo nos mercados americanos teve influência, principalmente, da divulgação do índice de inflação CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês), que caiu para 3,3% em maio, levemente abaixo das previsões do mercado, de 3,4%, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.

A euforia manteve-se após a divulgação da nova decisão sobre juros do Fed, que confirmou as expectativas do mercado e manteve as taxas inalteradas na faixa entre 5,25% e 5,50%, mas sinalizou apenas um corte de juros neste ano.

A perspectiva de corte de juros nos EUA joga contra a moeda americana pois reduz os rendimentos da renda fixa do país, fazendo com que investidores considerem mercados de maior risco. O real chegou a ensaiar uma recuperação, e o dólar voltou ao patamar de R$ 5,37, mas o movimento durou pouco, e o valor voltou aos R$ 5,40 no fim da tarde.

Com isso, o real acumula queda de mais de 10% em relação ao dólar neste ano, registrando o pior desempenho entre as principais moedas do mundo. Na comparação diária, a moeda brasileira ganha apenas do peso mexicano.

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