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Alta de juros não é cenário de referência do BC, diz Campos Neto

Presidente da autoridade monetária reforçou opção do Copom por não sinalizar seus próximos passos

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Brasília e São Paulo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (27) que alta de juros não é o cenário de referência trabalhado hoje pela autoridade monetária.

Segundo o chefe da instituição, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC optou por deixar seus próximos passos em aberto, mas se manterá vigilante.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na última coletiva de imprensa do ano de 2023 em Brasília - Gabriela Biló - 21.dez.2023/Folhapress

"Alta de juros não é nosso cenário-base. A gente entende que a linguagem adotada é compatível com não ter dado ‘guidance’ [sinalização] para o futuro", afirmou Campos Neto em entrevista a jornalistas em São Paulo após apresentação do relatório trimestral de inflação.

"Não teve intenção em nenhum momento na comunicação oficial de passar essa mensagem [de alta de juros]. A mensagem é que a gente prefere não dar ‘guidance’, mas seguimos vigilantes", acrescentou.

Na semana passada, o Copom interrompeu o ciclo de cortes de juros e manteve a taxa básica, a Selic, em 10,5% ao ano, em decisão unânime.

Na ata da reunião, o colegiado do BC havia dito que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros" serão ditados pelo "firme compromisso" de levar as expectativas de inflação em direção à meta.

A hipótese de retomada do ciclo de altas da Selic ganhou ainda mais força com o uso da palavra "vigilante", que costuma ser incorporada pela autoridade monetária em seus comunicados como uma senha para nova elevação do juro.

"O comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", escreveu o Copom na ata.

Para Campos Neto, a percepção do mercado de possível influência política na decisão do Copom é um dos componentes por trás do risco de investir no Brasil. "A gente precisa explicar que, quando tem momentos de divisão [no colegiado], ela não é política, é técnica. Acho que isso está mais explicado agora", disse.

No último Copom, houve consenso entre os quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) –incluindo o diretor Gabriel Galípolo (Política Monetária)– e o atual chefe da instituição.

Além da ata reforçar os pontos de convergência do colegiado do BC, Galípolo destacou a coesão do grupo em sua primeira fala pública depois da divulgação do comunicado.

Segundo Campos Neto, a última reunião teve um "espírito de equipe" muito grande entre os participantes. O tema ganhou relevância depois de um racha nos votos do Copom, em maio, ter colocado em xeque a credibilidade do BC.

Isso levou a uma piora das expectativas de inflação e também a uma desvalorização do câmbio. A perda de valor do real frente ao dólar continuou se intensificando, sobretudo após declarações do presidente Lula que desagradaram ao mercado financeiro.

O dólar registrou alta de 1,16% e fechou cotado a R$ 5,518 na quarta-feira (26). Apesar disso, o BC não fez qualquer tipo de intervenção extraordinária no mercado de câmbio.

De acordo com presidente do BC, a autoridade monetária atua sob o princípio de separação, no qual ele atua via política monetária e medidas macroprudenciais, mas deixa o câmbio livre.

"Como tratamos o câmbio como flutuante no nosso princípio de separação, entendemos que as atuações têm que ser causadas por alguma disfuncionalidade pontual no mercado de câmbio, e que nós não fazemos intervenção de câmbio visando ou mirando nenhum tipo de nível ou com nenhum preço pré-determinado", disse o economista.

Ele disse ainda que a desvalorização do real está em linha com algumas outras variáveis que também simbolizam o aumento do Risco Brasil.

"Como o prêmio de risco sofreu uma piora nas últimas semanas, fazer uma intervenção pontual no mercado tem pouca efetividade porque você transborda a demanda por hedge [proteção] de um mercado para o outro, e você acaba não atingindo o seu objetivo. O objetivo do Banco Central é que o câmbio flutuante sirva como um fator que absorva os choques", afirmou Campos Neto.

Meses atrás, o presidente do BC havia dito que a instituição não faz intervenções no mercado de câmbio quando os agentes econômicos precificam o risco de investir no Brasil.

Em 2023, o BC não realizou leilões extras de dólar —o que caracterizou a menor intervenção da autoridade monetária desde a adoção do regime de câmbio flutuante no país, em 1999. Neste ano, em abril, o BC vendeu 20 mil contratos de swap cambial ofertados em leilão adicional —o equivalente a US$ 1 bilhão.

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