Descrição de chapéu Governo Lula

'Taxa das blusinhas' pode ser cobrada em compras feitas antes de 1º de agosto; entenda

Data de início da cobrança vale para emissão da declaração, que pode ocorrer dias após o pedido feito pelo cliente nas plataformas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A taxação das remessas internacionais de até US$ 50, a chamada "taxa das blusinhas", pode incidir em compras feitas antes de 1º de agosto, disse nesta sexta-feira (28) a Receita Federal.

O subsecretário de Administração Aduaneira da Receita Federal, Fausto Coutinho, afirmou que o imposto é devido a partir do registro da DIR (Declaração de Importação de Remessa), que pode ser feito alguns dias após o pedido do consumidor.

Como há essa defasagem entre a realização da compra e a emissão da DIR, Coutinho reconheceu que compras feitas no final de julho podem já ser taxadas. "A possibilidade é factível. Não tem como garantir que não tenha isso", afirmou em entrevista coletiva para detalhar a medida.

Pedro Ladeira - 28.dez.2023/Folhapress
O secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, durante entrevista coletiva no Ministério da Fazenda - Pedro Ladeira/Folhapress

Segundo Coutinho, cada plataforma tem sua gestão e metodologia de entrega da declaração. A Receita disse não ser possível precisar um prazo médio para guiar os consumidores sobre a data a partir da qual seria justa a cobrança do imposto na compra até US$ 50.

"Nossa orientação para as plataformas é que façam a comunicação o mais rápido possível para que essa informação esteja clara", afirmou o subsecretário. "O que a gente pôde fazer a gente fez."

Caso o consumidor faça uma compra no fim de julho sem recolher o imposto, mas a plataforma só registre a DIR após 1º de agosto, o destinatário pode precisar fazer o pagamento da taxa no Brasil para receber a encomenda.

No início da entrevista coletiva, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, fez um pronunciamento e disse que o tempo de transição foi adotado "para que contribuinte não seja surpreendido". Ele não permaneceu no local para responder às perguntas dos jornalistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta quinta-feira (27) a lei que acaba com a isenção das compras internacionais até US$ 50 feitas por pessoas físicas. A proposta foi incluída pelo Congresso Nacional na lei que criou o Mover, programa de incentivo à descarbonização de carros.

Hoje, produtos de até US$ 50 vendidos em plataformas como Shein, Shopee e AliExpress já são taxados pelo ICMS, imposto estadual, com alíquotas que variam entre 17% e 19%. Mas o Imposto de Importação, federal, estava zerado.

Com a nova lei, a taxa de importação será de 20% para itens até US$ 50. Acima desse valor, a alíquota é de 60%, com um desconto de US$ 20 para compras até US$ 3.000. As regras valem para compras feitas em plataformas que aderiram ao Remessa Conforme.

Nesta sexta-feira (28), o chefe do Executivo editou uma MP (medida provisória) para estabelecer o início da cobrança em 1º de agosto deste ano. O texto prevê também que a importação de medicamentos de até US$ 10.000 por pessoas físicas, para uso próprio ou individual, será isenta.

Coutinho disse que o adiamento da vigência da cobrança foi necessário para "evitar um apagão", uma vez que os sistemas não estão preparados para incorporar a taxação sobre as compras até US$ 50. Tanto as plataformas quanto os Correios, segundo ele, procuraram a Receita para pedir a postergação.

Segundo ele, o Brasil tem recebido 18 milhões de remessas ao mês, em média. "Houve um curto espaço de tempo entre a aprovação e a sanção para termos os sistemas adequados para a nova tributação. Imagina ficar um mês parado", afirmou.

O subsecretário disse ainda que a Receita não estimou ainda o potencial de arrecadação com a taxação, uma vez que o cálculo depende não só das alíquotas, mas também do comportamento dos consumidores. Alguns podem deixar de comprar itens vindos do exterior por causa da cobrança do imposto.

Ele ressaltou também que o Imposto de Importação é um tributo regulatório, cuja finalidade é regular atividades econômicas. "Essa não é uma medida arrecadatória", disse.

Para dar alguma dimensão do potencial, Coutinho afirmou que a Receita arrecadou R$ 220 milhões de janeiro a maio com a taxação de compras até US$ 50 feitas em plataformas fora do programa Remessa Conforme —casos em que já havia cobrança de alíquota de 60%, sem isenção.

Mesmo com a sanção da "taxa das blusinhas", Lula seguiu criticando a medida publicamente. Ele chamou a taxação de "irracional" e lembrou que brasileiros com condições de viajar ao exterior podem fazer compras de até US$ 1.000 isentas de imposto.

"Agora, quando chega a tua filha, minha filha, minha esposa que vai comprar 50 dólares, eu vou taxar os 50 dólares? Não é irracional? Não é uma coisa contraditória?", questionou em entrevista ao portal UOL na quarta-feira (26).

A medida é considerada por governistas como altamente impopular. No ano passado, a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a acabar com a isenção, mas precisou recuar após as reações negativas. Na época, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, atuou diretamente na articulação para reverter a cobrança.

Agora, Lula fechou um acordo com o Congresso para sancionar a proposta.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.