UE anuncia mais taxas para carros elétricos chineses, e Pequim diz que tomará medidas

Bloco vai impor tarifas extras de até 38,1% sobre os veículos importados a partir de julho

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Philip Blenkinsop
Reuters

A Comissão Europeia disse que irá impor taxas extras de até 38,1% sobre carros elétricos chineses importados a partir de julho, arriscando retaliação da China. O país asiático disse nesta quarta-feira (12) que tomará medidas para proteger seus interesses.

Menos de um mês depois dos Estados Unidos anunciarem planos de quadruplicar tarifas para carros elétricos chineses para 100%, Bruxelas disse que combaterá subsídios excessivos com tarifas adicionais variando de 17,4% para a BYD até 38,1% para a SAIC, além da tarifa padrão de 10% para carros.

Isso equivale a bilhões de euros em custos adicionais para as montadoras em um momento em que lidam com a desaceleração da demanda e queda de preços nos países da União Europeia, de acordo com cálculos da agência de notícias Reuters com base em dados comerciais do bloco de 2023.

Enquanto isso, as montadoras europeias estão sendo desafiadas por uma onda de carros elétricos de baixo custo de rivais chineses. A Comissão estima que a participação deles no mercado da UE subiu para 8% ante menos de 1% em 2019 e poderia chegar a 15% em 2025. Os preços costumam ser 20% mais baixos do que os modelos feitos na UE.

Um estacionamento lotado de carros, predominantemente de cores escuras, com um veículo vermelho se destacando em meio à uniformidade.
Pátio com carros da Tesla na Califórnia. - Stephen Lam/Reuters

Andrew Kenningham, economista-chefe da Europa na Capital Economics, disse que a decisão da UE marca uma grande mudança em sua política comercial, pois, embora use frequentemente defesas comerciais contra a China, não havia feito antes o mesmo para uma indústria tão importante.

Os formuladores de políticas europeus estão ansiosos para evitar uma repetição do que aconteceu com os painéis solares há uma década, quando a UE tomou apenas ações limitadas para conter as importações chinesas e muitos fabricantes europeus faliram. A UE lançou uma investigação anti-subsídios para carros elétricos chineses em outubro.

As ações de algumas das maiores montadoras da Europa, que têm uma grande parte de suas vendas na China, caíram com receio de retaliação chinesa. Algumas, como a BMW, agora também incorrerão em tarifas sobre seus carros elétricos fabricados na China e vendidos na Europa.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que investigação da UE é um "caso típico de protecionismo" e que as tarifas prejudicarão a cooperação econômica China-UE e estabilidade da produção global de automóveis e cadeias de suprimentos.

A China, segundo ele, tomará todas as medidas necessárias para proteger seus direitos de forma firme seus direitos e interesses legítimos.

A CPCA (Associação Chinesa de Carros de Passageiros) pareceu menos preocupada.

"As tarifas provisórias da UE estão basicamente dentro de nossas expectativas, com uma média de cerca de 20%, o que não terá muito impacto na maioria das empresas chinesas", disse o Secretário Geral da CPCA, Cui Dongshu.

"Aqueles que exportam carros elétricos feitos na China, incluindo Tesla, Geely e BYD, ainda têm um enorme potencial de desenvolvimento na Europa no futuro", disse Cui.

Fabricantes e fornecedores chineses de carros elétricos também estão começando a investir na produção europeia, o que evitaria tarifas.

A CHINA VAI RETALIAR?

A China aprovou uma lei em abril para fortalecer sua capacidade de revidar caso os EUA ou a UE imponham tarifas às exportações da segunda maior economia do mundo.

Já lançou uma investigação antidumping (barreiras tarifárias para importação de produtos) principalmente sobre importações feitas na França de conhaque, e os produtores franceses de conhaque estão "profundamente" preocupados com retaliações pelas tarifas de carros elétricos, disse um órgão comercial nesta quarta-feira.

As tarifas provisórias da UE devem entrar em vigor em 4 de julho, com a investigação prevista para continuar até 2 de novembro, quando tarifas definitivas, normalmente por cinco anos, poderiam ser impostas.

A Comissão disse que aplicaria um adicional de 21% para empresas consideradas terem cooperado com a investigação e 38,1% para aquelas que, segundo ela, não colaboraram. As tarifas indicativas estão acima das expectativas dos analistas, entre 10% e 25%.

Montadoras ocidentais como Tesla e BMW que exportam carros da China para Europa estão entre as empresas que cooperaram com o bloco, disse a Comissão da UE, acrescentando que a Tesla, atualmente a maior exportadora de carros para a Europa da China, solicitou ter uma taxa específica para a empresa.

A Comissão ainda precisa determinar se aplicará tarifas retroativamente por três meses, disse um oficial.

Bruxelas disse que entrou em contato com as autoridades chinesas para discutir suas descobertas e explorar maneiras de resolver os problemas identificados.

A BYD se recusou a comentar. SAIC e Geely, as outras duas empresas investigadas pela Comissão, e a Tesla não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

A maior montadora da Europa, a Volkswagen, alertou que os efeitos negativos das tarifas superariam quaisquer benefícios potenciais, especialmente para indústria automobilística alemã.

A Mercedes-Benz disse que a Alemanha, como nação exportadora, não precisa de barreiras comerciais aumentadas. A BMW disse que as tarifas planejadas eram "o caminho errado a seguir".

A China representou cerca de 30% das vendas das montadoras alemãs no primeiro trimestre.

Alguns economistas disseram que o efeito imediato das tarifas adicionais seria muito pequeno em termos econômicos. A UE importou cerca de 440 mil carros elétricos da China nos 12 meses até abril, no valor de 9 bilhões de euros (cerca de R$ 52 bilhões) ou cerca de 4% dos gastos das famílias com veículos.

O Instituto Kiel para a Economia Mundial previu que uma tarifa de 20%, em torno da média extra a ser imposta pela UE, reduziria as importações de carros elétricos chineses em 25%, em grande parte compensadas por uma maior produção na Europa, embora as montadoras europeias não necessariamente preencheriam a lacuna deixada pela China.

Will Roberts, chefe de pesquisa automotiva na RHO Motion, disse que os fabricantes chineses deveriam ser capazes de absorver parte das tarifas em suas margens de lucro.

"O verdadeiro teste a partir do anúncio desta quarta será se Pequim retaliará da mesma forma, ou chegará a uma solução amigável", disse ele.

A Itália recebeu bem a decisão da UE, enquanto o grupo de lobby de carros francês PFA (A Plataforma Automotiva) disse que a Comissão precisava defender os interesses europeus contra práticas anticompetitivas.

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