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Biden fora da jogada, nova reforma da Previdência e o que importa no mercado

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Victor Sena
São Paulo

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Sem Biden na jogada

O presidente americano Joe Biden, 81, desistiu de concorrer à reeleição neste domingo (21). O democrata cedeu a pressões de colegas e líderes do partido, que defendem um nome mais forte na corrida deste ano à Casa Branca.

Agentes do mercado financeiro se perguntam se a desistência facilita ou atrapalha o adversário republicano Donald Trump.

↳ O ex-presidente está em alta depois de sobreviver a uma tentativa de assassinato e depois de Biden demonstrar fragilidades físicas e confusões mentais.

Sem consenso. Investidores ouvidos pela agência Bloomberg têm duas visões: a desistência vai melhorar as chances dos democratas ou gerar mais incerteza.

↳ Biden apoia a vice-presidente Kamala Harris para tomar seu lugar. Outros nomes podem entrar na disputa.

Cenário 1. Se a desistência do presidente fortalecer um nome democrata nos próximos dias, os mercados deverão passar por uma recalibragem. Isso porque investidores apostaram na vitória de Trump nas últimas semanas.

↳ Ações do setor de óleo e gás subiram na Bolsa na última semana conforme as chances de Trump cresceram, assim como as criptomoedas. Agora podem cair.

↳ Já os setores "verdes", de energia solar e veículos elétricos, em queda, podem se recuperar.

Cenário 2. Caso a sensação de incerteza domine, os próximos dias terão oscilações fortes. É a tão falada volatilidade.

E o dólar? Com mais chances para os democratas, o dólar tende a cair. Na noite de ontem (horário de Brasília), a moeda seguiu essa lógica e abriu em queda no mercado da Ásia.

Já num cenário de dúvidas, a busca por segurança tende a elevar a moeda americana. Isso poderia também valorizar o ouro, que subiu depois do atentado na última semana.

A agenda Trump. O candidato republicano é crítico à transição energética e apoia indústrias poluentes, como a de petróleo. Também é visto como defensor das criptomoedas.

Outras propostas são: menos impostos, mais gastos e mais tarifas contra produtos importados. Isso é considerado um risco de inflação.

Efeitos. Riscos de inflação impedem o banco central americano (Federal Reserve) de fazer um amplo corte nos juros, como é esperado.

↳ Com taxas de juros altas nos Estados Unidos, o dólar se mantém forte no mundo e países emergentes, como o Brasil, enfrentam dificuldades para baixar os juros.

A agenda Kamala. Análise do The New York Times afirma que um governo Kamala seria mais "progressista" na economia que o de Biden, com taxação de grandes fortunas, por exemplo, e ampliação de programas sociais.

A decisão. Joe Biden anunciou a desistência em carta publicada nas redes sociais. As eleições presidenciais são em pouco mais de três meses.

Esta é a primeira vez que um presidente americano desiste de tentar a reeleição desde Lyndon Johnson, em 1968. Biden afirmou que agora se dedicará a terminar o mandato.

Em queda. Biden enfraqueceu politicamente em meio à inflação alta do país no pós-pandemia, apesar de bons números de emprego e PIB (Produto Interno Bruto).

A postura fragilizada, com menos energia física, também era vista como um ponto negativo. Gafes e confusões mentais se acentuaram nos últimos meses.


Reformar a Previdência. De novo?

Uma nova reforma da Previdência está entre os assuntos discutidos nos corredores da Câmara dos Deputados. Líderes dos partidos avaliam ser preciso iniciar o debate para mudanças em 2025.

Por que importa: Como a Folha mostrou, a Previdência terá um aumento de ao menos R$ 100 bilhões em suas despesas nos próximos quatro anos devido à política de reajustes do salário mínimo que impacta também as pensões. A regra foi instituída pelo governo Lula.

Revisões desses reajustes automáticos foram sugeridas por técnicos nos últimos meses e estavam entre as opções de revisão de gastos que os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet levaram a Lula. O presidente, no entanto, resistiu.

Outras mudanças. Em entrevista à Folha, o especialista Fabio Giambiagi critica a regra, mas cita que uma nova reforma também é necessária. Ele defende, por exemplo, a equiparação de idade entre homens e mulheres.

↳ A última reforma, aprovada em 2019, estabeleceu a idade mínima de 65 anos para homens, e 62 anos para mulheres.

Clima político. Deputados que defendem uma nova reforma apontam essa equiparação como um dos pontos principais. Além disso, a revisão da aposentadoria rural, hoje com regras mais brandas.

Os políticos reconhecem a impopularidade do tema. Afirmam ser preciso ver quais forças sairão das urnas nas eleições municipais.

Também para os militares. A necessidade de revisões tem apoio de outros setores, a exemplo do TCU (Tribunal de Contas da União). O presidente do tribunal, ministro Bruno Dantas, defende mudanças no sistema dos militares como ponto de partida.

Relembre. O ritmo de crescimento das despesas obrigatórias, que inclui a Previdência, levou o governo a anunciar um congelamento de R$ 15 bilhões das despesas discricionárias, as que são livres. A decisão deve interromper emendas parlamentares e obras.

Entenda. Com a regra de valorização acima da inflação, os gastos com Previdência crescem num ritmo acima dos 2,5% permitidos para a despesa total de acordo com a nova regra fiscal.

Isso implica que outras despesas sejam congeladas. Caso contrário, o déficit aparece.

Pente fino. Para 2025, uma revisão nos gastos com benefícios foi anunciada para cumprir a regra de déficit zero, acabando com fraudes. A estimativa é que as revisões reduzam a despesa do ano em R$ 25,9 bilhões. Especialistas ouvidos pela Folha, no entanto, apontam que pode ser insuficiente.


Encomendas a caminho

O governo Lula quer incentivar as companhias aéreas a comprarem aviões construídos pela brasileira Embraer. A ideia é que as encomendas sejam uma contrapartida ao crédito barato oferecido pelo banco público BNDES.

Ajuda. O presidente da instituição, Aloizio Mercadante, defende auxiliar as empresas. Latam, Gol e Azul precisam de aviões novos, mas têm restrições financeiras ainda devido à pandemia. Entre 2020 e 2021, o transporte aéreo praticamente parou.

Mercadante afirma que o anúncio oficial da parceria será feito em breve. Segundo ele, apenas 12% das frotas das companhias aéreas brasileiras são de aviões Embraer.

Lá fora. O BNDES costuma financiar as vendas de aviões da Embraer a companhias aéreas internacionais. Na última semana, um crédito para a compra de 32 aviões pela American Airlines foi divulgado.

↳ A companhia dos Estados Unidos encomendou 90 aviões no início do ano, com direito a outros 43.

↳ Se todas as encomendas forem feitas, o acordo deve superar os US$ 7 bilhões ( R$ 38,8 bilhões).

"Vacas gordas". A Embraer viu suas encomendas saltarem 20% no segundo trimestre. Elas somaram US$21,1 bilhões (R$116,9 bilhões), o maior valor em sete anos.

O motivo? Aumento na demanda por aviões de médio porte e problemas na concorrente Boeing.

Dinheiro no bolso. Investidores têm tido forte apetite pelas ações da companhia. Em um ano, elas subiram 135%.

Sucesso no mercado. A empresa é procurada também por forças armadas de outros países. Tensões geopolíticas reforçaram encomendas do avião de apoio militar KC-390.

↳ A empresa prevê um aumento da produção até 2030 para dar conta das encomendas atuais. Conheça o avião aqui.

↳ Índia e Arábia Saudita negociam a compra do modelo.

"Carros voadores". A Embraer cresce também no mercado inicial de eVTOLs, aeronaves elétricas de pouso vertical, mais leves e silenciosas que helicópteros. Elas são voltadas para viagens curtas de passageiros em cidades. Conheça mais aqui.

A empresa Eve, criada pela Embraer, apresentou pela primeira vez neste mês um protótipo em escala real desses "carros voadores". A Eve tem quase 3.000 pré-encomendas, apesar da regulamentação ainda em discussão.

A Eve espera alcançar até 2026 a certificação da aeronave, quando fará as primeiras entregas aos clientes.

↳ A ideia do protótipo é testar a aerodinâmica já que funciona com controle remoto.

↳ A Eve espera fazer o primeiro voo do protótipo até o início de 2025.


De olho na Bolsa

↳ Ações do GPA caíram 13,9% na última semana

O GPA, dono das redes Pão de Açúcar e Extra, estará sob a atenção dos investidores neste pregão. As ações da companhia tiveram a maior queda da Bolsa na última semana: desvalorização de 13,91%.

O motivo. A queda foi uma reação às notícias de bastidor que afirmam que o grupo francês Casino, maior acionista do GPA, venderá sua fatia de 22,5% na companhia.

O Casino já deteve o controle do GPA, quando tinha 41% do capital. Uma emissão de ações no início de 2024 diminuiu a participação dos franceses.

Quem quer comprar. O colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, afirma que a rede chilena Cencosud, dona do Giga Atacado, negocia a compra da fatia. Investidores reagiram mal.

Sim, mas… O GPA disse desconhecer qualquer negociação do tipo na última semana, mas nada adiantou. A reação negativa seguiu na Bolsa.

Elogios. Em relatório publicado no fim de maio, o banco Itaú BBA elogiou a reestruturação que o Casino fez no GPA nos últimos anos. A companhia direcionou as marcas Extra e Pão de Açúcar para atuar em unidades menores, conhecidas como "de proximidade".

O que esperar. Quedas acima de 10% costumam dar espaço para um "ajustes". Nesses casos, as ações têm chance de recuperar uma parte do que foi perdido se os agentes do mercado interpretarem que o tombo foi forte demais.

A incerteza política nos Estados Unidos depois da desistência de Biden à candidatura pode aumentar a cautela dos investidores nesta segunda-feira.

↳ Qualquer informação oficial sobre a negociação também impacta as ações.

O GPA. Um dos maiores varejistas de alimentos da América Latina, com mais de 700 lojas e 14 centros de distribuição no Brasil. Faturou R$ 20,6 bilhões em 2023, ocupando a 4⁠ª posição no ranking de maiores redes de supermercado.

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