Jaques Wagner critica Campos Neto e diz que chefe do BC deveria ser 'gelado, sem reações'

Senador faz coro às críticas do presidente Lula, que disse que BC é instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro

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Salvador

Líder do governo no Senado, o senador Jaques Wagner (PT-BA) defendeu o direito do presidente Lula (PT) em reagir às decisões do Banco Central e criticou Roberto Campos Neto, presidente da autarquia, a quem acusou de polemizar e agir de forma política.

"Eu acho que tem posturas dele que não são condizentes com a figura do Banco Central. Em geral, um presidente de Banco Central, e é só olhar para fora do país, é um cabra gelado, que não tem reações. Não dá para o cara ficar se enfiando na questão política", afirmou o senador.

As declarações foram dadas nesta sexta-feira (20) no cortejo do 2 de Julho, que celebra o fim da guerra de Independência do Brasil na Bahia. O ato teve participação de Lula, que percorreu as ruas do centro antigo de Salvador.

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Líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT), em cerimônia no Palácio do Planalto

Na avaliação de Jaques Wagner, o presidente foi eleito pela população e tem o direito de externar suas opiniões sobre as decisões do Banco Central. Mas esta não deveria ser a postura do presidente do BC, que deveria se manter afastado das querelas políticas.

"O Banco Central deveria ser um negócio sagrado, o cara não poderia estar se metendo. E ele está polemizando. Eu não polemizo com ele porque acho que não vale à pena" disse Wagner, destacando que as tensões devem acabar com o fim do mandato de Campos Neto, em 31 de dezembro.

Também presente dos festejos cívicos em Salvador, o ministro Rui Costa (Casa Civil) evitou criticar o presidente da autoridade monetária, mas defendeu uma retomada da trajetória de queda de juros no país.

"Eu acho que todos querem juros baixos. Eu não conheço ninguém que quer juros altos. A dona de casa quando vai comprar uma geladeira, um fogão, uma televisão, todo mundo quer pagar uma prestação com juros baixos. Então, a questão que se coloca é sempre essa", afirmou.

O ministro ainda destacou que o país tem a inflação estabilizada, registra queda no desemprego e crescimento da economia.

As declarações dos aliados fazem coro ao presidente, que afirmou nesta terça-feira (2) que o Banco Central é uma instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele também voltou a dizer que Roberto Campos Neto tem viés ideológico.

"A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que seu presidente não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é democrata, permite que isso aconteça. Quando é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere da instituição", afirmou Lula em entrevista à rádio Sociedade da Bahia.

O presidente tem repetido suas críticas ao BC e ao presidente da entidade em suas viagens pelo país. Desde que questionou em entrevista ao UOL, na semana passa, a necessidade de cortar gastos, o dólar engatou uma sequência de alta, e fechou na segunda (2) a R$ 5,65, no maior patamar desde janeiro de 2022.

Nesta terça, o presidente disse que não cortará benefícios direcionados aos mais pobres para fazer ajuste fiscal, mas abriu a porta para corte de gastos.

As recorrentes falas do presidente criticando atuação do BC e colocando em xeque a necessidade de cortar gastos contribuíram para azedar o humor no mercado financeiro e ampliar as desconfianças em relação ao compromisso do governo com o ajuste nas contas públicas.

Pela manhã, em evento em Portugal, Campos Neto foi questionado sobre as críticas recorrentes de Lula e afirmou que o presidente do BC "tem que sair da arena política" e "avançar com o trabalho técnico". "Toda essa narrativa de que o Banco Central tem sido político, [nós] temos que nos afastar disso e explicar o que estamos fazendo. Acho que o que estamos fazendo tem sido muito técnico", disse.

Reportagem da Folha mostrou que o presidente do BC tem sido aconselhado por importantes líderes políticos do centro a não cair na provocação do presidente Lula e de bolsonaristas.

Essas lideranças, que dão sustentação à política econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda) no Congresso, avaliam que o chefe da autoridade monetária precisa defender a autonomia operacional da instituição, aprovada em 2021 e validada depois pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

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