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O dólar na pauta de Lula, impostos sobre a carne em debate e o que mais importa no mercado

Presidente se reúne com ministros para discutir estresse no mercado, gastos e câmbio nesta quarta

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Victor Sena
São Paulo

Esta é a edição da newsletter FolhaMercado desta quarta-feira (3). Quer recebê-la de segunda a sexta, às 7h, no seu email? Inscreva-se abaixo:


Dólar na pauta de Lula

A alta do dólar preocupa o presidente Lula (PT). Ele disse que o assunto será tema de uma conversa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quarta (3).

↳ A moeda fechou o dia a R$ 5,66, maior valor desde janeiro de 2022.

↳ A alta acumulada desde o início do ano é de 16%.

Por que importa: o dólar impacta a inflação no Brasil ao encarecer combustíveis (o Brasil importa 30% do que consome), matérias-primas para a indústria e estimula a exportação dos alimentos produzidos aqui, o que aumenta os preços no mercado interno.

E agora? Haddad nega que irá discutir no encontro formas de baixar o preço da moeda americana "na marra", com aumento de impostos sobre transações. A hipótese circulou ontem no mercado financeiro.

O Banco Central é quem poderia intervir no câmbio, com a venda de suas reservas em dólar para aumentar a oferta. Economistas afirmam que o momento não exige a atuação.

Me dê motivos… Há diversas visões sobre o que pode ter causado alta. Lula, Haddad e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, veem o cenário de maneira diferente. O que eles disseram nos últimos dias:

↳ Lula afirmou quem diz que suas falas causam queda no valor do real é "cretino". Levantamento da Folha mostra que a moeda subiu nas últimas semanas em reação a críticas do presidente Lula ao Banco Central e à agenda de cortes de gastos.

  • "Óbvio que me preocupa essa subida do dólar, é uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o real nesse país."

↳ Haddad falou duas vezes com jornalistas em menos de 24 horas. A avaliação em Brasília é de que tenta coordenar a comunicação para diminuir o sentimento de risco no mercado de câmbio. Auxiliares ouvidos pela Folha defendem moderação nas falas do presidente.

  • "O melhor a fazer é acertar a comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central, como o presidente fez, quanto em relação ao arcabouço fiscal"

↳ Roberto Campos Neto vê como motivo dúvidas nas expectativas em relação à futura gestão do Banco Central no combate à inflação e as incertezas com as conta públicas.

  • ""Isso [pausa] tem muito mais a ver com os ruídos criados do que com os fundamentos. Os ruídos estão relacionados a dois canais: um é a expectativa sobre a política fiscal e o outro é a expectativa sobre o futuro da política monetária","

O outro motivo. Os juros altos por mais tempo do que o previsto nos EUA impactam aqui. A taxa alta lá, valoriza o dólar, pois aumenta a sua demanda. Você precisa comprar as verdinhas se quiser aproveitar os títulos do país.


O barato que sai caro

A inclusão da carne na cesta básica, livre de imposto, deverá ter como consequência o aumento do tributo que será pago em todos os outros produtos. A isenção do alimento é defendida pelo presidente Lula (PT) na regulamentação da reforma tributária, em discussão na Câmara.

Tudo junto. O novo sistema tributário prevê a fusão de cinco impostos atuais do Brasil, que incidem sobre empresas, em um só. O valor da alíquota geral está prevista em 26,5%, mas pode passar de 27% com a isenção para as carnes.

A criação de um imposto abrangente é um dos pilares da reforma aprovada em 2023. Ele servirá para todo tipo de bem e serviço. O projeto de 2023, porém, criou diversas exceções. Ou seja: produtos e setores com cobrança menor.

↳ Há a cesta básica com isenção total, regimes especiais para médicos, advogados e economistas, a zona franca de Manaus… entre outros.

Entenda: quanto mais exceções e regimes especiais, maior a cobrança sobre o que fica fora. Funciona como uma compensação. Caso contrário, pode haver perda de arrecadação.

↳ As exceções são uma das principais críticas de especialistas à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma.

Em tramitação. O Grupo de Trabalho que discute a regulamentação da reforma deve apresentar seu texto nesta quarta (3) ao presidente Arthur Lira. Explicamos o projeto em 10 pontos aqui.

Neste meio tempo, setores abordam deputados pedindo novas exceções e ajustes. Um exemplo é a indústria da construção, que pede um imposto menor sobre imóveis.

Acém e filé mignon. O presidente Lula e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, aproveitaram para pleitear a inclusão da carne na cesta básica. Mas há um problema: a classificação do produto.

Lula defendeu a isenção de carnes 'que o povo consome', mas essa diferenciação não existe tecnicamente para a Receita Federal. É tudo carne bovina, seja de primeira ou segunda. Deputados afirmam que o tempo é curto para alterações na classificação.

↳ A coluna ‘Que imposto é esse?’ explica em detalhes.


Os salários dos CEOs brasileiros

Os presidentes das maiores empresas do Brasil com ações na Bolsa ganham, em média, R$ 15,3 milhões ao ano.

O cálculo considera a remuneração das 83 companhias de capital aberto que integram hoje o Ibovespa –o índice das ações mais negociadas.

↳ São considerados salário fixo, salário variável (bônus e participação nos lucros), plano de ações (stock options) e benefícios pagos no ano.

Os mais bem pagos:

  1. Milton Maluhy Filho, do Itaú Unibanco (R$ 67,7 milhões);
  2. Jorge Fontoura de Lima, da Hapvida (R$ 67,4 milhões);
  3. Gilberto Tomazoni, da JBS (R$ 58,1 milhões);
  4. Eduardo Bartolomeo, da Vale (R$ 52,6 milhões);
  5. Roberto Monteiro, da Prio (R$ 40,6 milhões).

Completam o ranking os CEOs da Localiza (R$ 38,5 milhões), Cosan (R$ 38,2 milhões), B3 (R$ 37,6 milhões), Suzano (R$ 37,5 milhões) e Natura&Co (R$ 33,5 milhões).

Disparidades. Cinco dos empresários com maior remuneração também dirigem companhias com as maiores disparidades salariais.

↳ Na JBS, o salário de Gilberto Tomazoni é 1.100 vezes superior ao da média salarial da empresa. Na Localiza, 559 vezes, e na Vale, 515.

↳ Essas proporções são muito superiores à média do Ibovespa, onde a relação entre o maior salário e a média paga à equipe é de 184 vezes.

Por que importa: professores especializados em gestão ouvidos pela Folha criticam a discrepância. Isso porque ela é um indicador de governança corporativa, ao apontar o quanto a empresa está preocupada com uma gestão igualitária.

O caso das Americanas. A pivô do escândalo contábil que voltou à tona na última semana era uma das empresas com maior disparidade salarial em 2021 e 2022, antes de sair do índice Ibovespa devido à recuperação judicial.

↳ Os ganhos do então CEO Miguel Gutierrez eram equivalentes a 431 vezes à média paga à equipe.

↳ A proporção deu um salto em 2022, às vésperas de escândalo: 740 vezes.

Relembre: Gutierrez teve mandado de prisão emitido pela Justiça na última semana. Como reside na Espanha desde 2023, foi considerado foragido e entrou na lista da Interpol. Foi preso por apenas um dia, mas solto depois que entregou seu passaporte.

Ele é suspeito de comandar a fraude que mascarou as contas da empresa para melhorar seu valor de mercado. Também é alvo de investigação sobre lavagem de dinheiro. Se condenado, a pena pode chegar a 26 anos.


Revés para o Instagram

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados, ligada ao Ministério da Justiça, emitiu a primeira medida de sua história contra a Meta, empresa americana dona do Instagram, Facebook e WhatsApp.

↳ O uso de dados de usuários para "treinar" a inteligência artificial foi suspenso de forma imediata.

Entenda: a Meta começou a integrar funções de IA nas redes em maio. Elas permitem pesquisa em texto dentro do Instagram e criação de figurinhas e de imagens. No WhatsApp, haverá um chatbot, que pode manter conversas com os usuários.

Para isso, ela coleta dados e comportamentos dos usuários e "alimenta" seu modelo de inteligência artificial, batizado de Llama 3.

O risco. O órgão brasileiro justificou a decisão pelo risco de "dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais dos titulares afetados". Em caso de descumprimento, a multa é de R$ 50 mil por dia.

O que diz a Meta? Afirma cumprir as leis de privacidade e regulações do país. Também diz que a decisão atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas.

↳ O Brasil tem 113 milhões de contas ativas no Instagram e 102 milhões no Facebook.

Mesmo antes da decisão, usuários brasileiros já podiam negar o acesso aos seus dados.

↳ Nos EUA, onde não há legislação de proteção de dados, usuários reclamam de negativas da Meta caso questionem o uso, de acordo com reportagem do New York Times.

↳ Na União Europeia, a companhia suspendeu o lançamento dos serviços depois que autoridades pediram detalhes. A Europa já tem regras para o uso de inteligência artificial.

Para aprofundar:

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