Descrição de chapéu Financial Times

Capitão que salvou 15 pessoas diz que superiate afundou porque tinha mastro alto demais

Bayesian tinha equipamento com 72,3 m de altura, um dos mais altos do mundo, e afundou com 22 a bordo; sete morreram

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Marianna Giusti Giuliana Ricozzi
Porticello (Itália) | Financial Times

Um experiente capitão de barco, cuja embarcação estava ancorada perto do superiate de luxo Bayesian que afundou em uma violenta tempestade na costa da Sicília na segunda-feira (19), disse que a embarcação em dificuldades pareceu virar por causa de seu mastro extremamente alto.

"Na minha opinião, há algo errado com a estabilidade", disse o capitão holandês Karsten Borner ao Financial Times sobre o naufrágio do Bayesian, com 540 toneladas e 56 m de comprimento, que causou a morte do bilionário britânico Mike Lynch e de outras seis pessoas, incluindo a filha do empresário de tecnologia.

"O centro de gravidade é muito alto com este mastro tão alto", disse Borner, referindo-se ao mastro de 72,3 m de altura, feito de alumínio e que era um dos mais altos do mundo.

A foto mostra Karsten Borner, um homem com cabelo grisalho e barba está pilotando um barco inflável em águas calmas. Ele usa uma camiseta escura e shorts claros, sorrindo enquanto segura o volante do barco. O barco é verde na parte superior e possui um motor na parte traseira.
Karsten Borner resgatou os 15 sobreviventes de naufrágio do superiate de luxo Bayesian, na Itália - Guglielmo Mangiapane/REUTERS

Ele rejeitou uma avaliação inicial da Guarda Costeira italiana de que o Bayesian estava "no lugar errado na hora errada". "Eu estava no mesmo lugar. Tenho dois mastros e eles têm 28 e 29 metros acima do convés, ela tem um, 73 metros acima do convés", avaliou o capitão.

De seu próprio barco, Borner testemunhou o naufrágio do Bayesian na tempestade feroz antes de resgatar 15 sobreviventes do iate da família Lynch.

Ele disse que o vento estava "violento, muito violento" e estimou que atingiu força 12 na escala de Beaufort —equivalente a de um furacão.

Eram toneladas de água caindo. Nunca vi isso antes, havia um tornado de água

Karsten Borner

capitão de barco

Borner, de 69 anos e 41 de experiência na indústria, disse que os sobreviventes que ele resgatou lhe contaram que o Bayesian afundou em menos de dois minutos.

Imagens de circuito fechado de TV da costa mostram o iate, com seu mastro iluminado, inclinando-se ao vento antes que a imagem ficasse obscurecida pela chuva e as luzes desaparecessem.

Borner, que viu as imagens, acredita que elas mostram o Bayesian virando em questão de segundos.

Giovanni Costantino, CEO do Italian Sea Group, dono do Perini Navi, que construiu o Bayesian, disse ao Financial Times que o Bayesian "foi projetado para ser absolutamente estável" e carregar seu mastro ultra-alto.

Ele sugeriu que a tripulação do iate não seguiu os procedimentos de segurança adequados. O fabricante da embarcação recusou-se a comentar as conclusões de Borner.

O capitão do Bayesian, James Cutfield, ainda não falou publicamente sobre o desastre, embora tenha prestado depoimento aos investigadores durante a semana.

Borner disse que a tripulação do Bayesian lhe contou que eles "fecharam o navio", contradizendo a sugestão da ISG de que as escotilhas do iate foram deixadas abertas.

Ele também disse que Cutfield, que estava entre os 15 sobreviventes resgatados pelo barco de Borner antes do amanhecer de segunda-feira, "estava completamente envolvido no resgate."

Cutfield permaneceu no barco de Borner para continuar a busca por sobreviventes e depois foi transferido para a Guarda Costeira.

O iate Sir Robert Baden Powell, que é capitaneado por Borner, estava ancorado perto do Bayesian, em um ancoradouro no porto de Porticello, quando a tempestade chegou ao local.

Barco Sir Robert Baden Powell, do capitão Karsten Borner, que estava ancorado próximo ao Bayesian, que naufragou na última segunda-feira (19)
Barco Sir Robert Baden Powell, do capitão Karsten Borner, que estava ancorado próximo ao Bayesian, que naufragou na última segunda-feira (19) - Alberto Pizzoli/AFP

Com o mau tempo, Borner tentou manter seu navio na posição, ligando o motor e mantendo a proa contra o vento.

O Bayesian —com o qual ele repetidamente procurou evitar uma possível colisão durante a tempestade— estava atrás deles. "[Eles] fizeram o mesmo, eu acho", disse o experiente capitão.

Em um ponto, os passageiros de Borner o alertaram sobre o que pensavam ser "uma estrutura acima da água" perto deles.

Borner disse que se virou e, durante um relâmpago, viu um grande triângulo. "Acho que eles viram o navio virar e quando me virei vi a proa, depois ela afundou", acrescentou.

Se o barco registrado no Reino Unido, projetado por Ron Holland e construído em 2008, realmente virou, um fator pode ter sido a chamada quilha elevatória.

De acordo com a ISG, quando a quilha do iate é levantada para permitir que ele entre em ancoradouros ou portos rasos, o Bayesian pode suportar uma inclinação de até 73° sem virar.

Quando a quilha é abaixada —a posição mais segura— ela pode inclinar até 88°, uma posição quase plana com o mastro na água. Ainda não se sabe se a quilha estava levantada ou abaixada.

Até o momento, investigadores da Itália e do Reino Unido, que está realizando uma apuração paralela, dizem que não há indicativo que havia escotilha aberta e nem de ruptura no casco que teria levado ao naufrágio.

Neste sábado (24), o chefe da Promotoria Pública de Termini Imerese, Ambrogio Cartosio, anunciou que foi aberta investigação por homicídio culposo (sem intenção) e naufrágio negligente. Os promotores afirmaram que a apuração não tem uma pessoa específica e que nenhuma hipótese está descartada.

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