Descrição de chapéu Financial Times

Fabricante de superiate de luxo que afundou diz que naufrágio durou 16 minutos e critica capitão

CEO da The Italian Sea Group responsabiliza comandante e diz que procedimentos não foram cumpridos; seis pessoas morreram e uma está desaparecida

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Marianna Giusti
Porticello (Itália) | Financial Times

O CEO da fabricante do superiate de luxo Bayesian que afundou na costa da Sicília, na Itália, afirmou que a embarcação era "absolutamente segura" e que a tripulação teve tempo para retirar todos os passageiros. O acidente matou seis pessoas e ainda há uma desaparecida.

Entre as mortes confirmadas estão a do empresário de tecnologia Mike Lynch e também de Jonathan Bloomer, presidente do conselho de administração do banco Morgan Stanley Internacional.

Em entrevista ao Financial Times, Giovanni Costantino, diretor executivo do The Italian Sea Group, que é dono do Perini Navi, responsável pela fabricação do Bayesian, afirmou que o superiate "foi projetado para ser absolutamente estável e carregar... o segundo maior mastro do mundo".

Mergulhadores transportam corpo encontrado nos destroços do superiate de luxo Bayesian, que afundou na costa da Sicília, na Itália
Mergulhadores transportam corpo encontrado nos destroços do superiate de luxo Bayesian, que afundou na costa da Sicília, na Itália - Alberto Pizzoli/AFP

"O barco afundou porque entrou água", disse Costantino, sugerindo que os procedimentos adequados não foram seguidos.

Ele afirmou que a grande abertura logo acima da linha d'água na popa, que se inclina para baixo para formar uma plataforma de banho e ponto de lançamento para pequenos barcos, poderia estar aberta, o que pode ter causado a inundação. A mesma hipótese também se aplica a outra abertura na lateral da embarcação.

As autoridades italianas e britânicas, que estão investigando as circunstâncias do incidente, ainda não disseram quando o barco foi tomado pela água, se alguma escotilha estava aberta ou se a tripulação ligou o motor e tentou manobrar para sair do perigo.

A Guarda Costeira da Itália informou que mergulhadores não encontraram brechas no casco e o mastro estava intacto. A embarcação —um iate de 540 toneladas, registrado no Reino Unido, projetado por Ron Holland e construído em 2008— estava no fundo do mar (a cerca de 50 m de profundidade) de lado a estibordo.

James Cutfield, o capitão do Bayesian, não respondeu imediatamente ao pedido de comentário do FT. Seu irmão disse ao jornal New Zealand Herald que Cutfield era "um marinheiro muito bom" e "muito respeitado" no Mediterrâneo.

Costantino informou que houve um intervalo de 16 minutos entre o momento em que o barco foi atingido pela tempestade e começou a arrastar sua âncora perto de Porticello até finalmente afundar. Na sua avaliação, este tempo permitiria à tripulação realizar operações para salvar os passageiros.

A tortura durou 16 minutos. Ele afundou, não em um minuto como alguns cientistas disseram. Ele afundou em 16 minutos

Giovanni Costantino

CEO do The Italian Sea Group

"Você pode ver isso nos gráficos, no gráfico de rastreamento do AIS [Sistema de Identificação Automática]", completou o CEO.

O FT verificou que os dados do AIS são consistentes com os tempos de Costantino, mas não é possível neste estágio comprovar o que pode ter ocorrido durante esse período.

O Bayesian tinha 22 pessoas a bordo, sendo 12 tripulantes e 10 passageiros. O chef de cozinha Recaldo Thomas foi o único tripulante a morrer. As outras vítimas confirmadas são Lynch, Bloomer, o advogado Christopher Morvillo, e as esposas de Bloomer (Judy Bloomer) e Morvillo (Neda Morvillo), que já tiveram os seus corpos resgatados.

As equipes de resgate ainda buscam Hannah Lynch, filha do empresário britânico, segundo as autoridades italianas.

"O capitão deveria ter preparado o barco e colocado em estado de alerta e segurança, assim como o barco (Sir Robert Baden Powell) ancorado a 350 metros de distância, que foi construído em 1957 e lidou brilhantemente com o evento (climático)", disse Costantino.

Karsten Borner, o capitão desse barco, descreveu aos repórteres na Sicília como ele ligou seu motor e manobrou para controlar sua embarcação e evitar uma colisão com o Bayesian. Ele viu o superiate de luxo inclinar-se e depois perdeu-o de vista, antes de avistar um sinalizador vermelho do bote salva-vidas do Bayesian. Borner foi quem resgatou os 15 sobreviventes na segunda-feira (19).

Costantino afirmou que Cutfield, um neozelandês de 50 anos, deveria feito uma série de procedimentos que evitariam a tragédia. "Ele deveria ter trancado tudo, reunido todos os passageiros no ponto seguro. Isso é protocolo. Ninguém deveria estar em sua cabine. (Você deve) ligar o motor, levantar a âncora, (apontar a) proa para o vento e baixar a quilha. Isso teria adicionado estabilidade, segurança e conforto."

Karsten Borner é capitão de um barco que estava próximo do Bayesian e resgatou os 15 sobreviventes do naufrágio
Karsten Borner é capitão de um barco que estava próximo do Bayesian e resgatou os 15 sobreviventes do naufrágio - Guglielmo Mangiapane/Reuters

Não foi confirmado pelos mergulhadores se a longa quilha retrátil do Bayesian estava na posição mais segura, abaixada, ou levantada para permitir a entrada em águas rasas.

De acordo com o ISG, quando a quilha do barco está levantada, o Bayesian pode suportar uma inclinação de até 73º; quando a quilha está abaixada, ela pode inclinar até 88º —uma posição quase plana com o mastro na água— sem virar.

Mas Costantino não acredita que a posição da quilha fosse o problema. Ele disse que, uma vez que tenha sido notado que a água estava entrando na embarcação —imagens de câmeras de segurança do local mostraram as luzes se apagando, presumivelmente quando a água atingiu os geradores ou os painéis elétricos, disse o CEO— deveria ter havido tempo para tirar todos do barco e colocá-los nos botes salva-vidas.

"Jesus Cristo! O casco está intacto. A água entrou por (escotilhas) deixadas abertas. Não há outra explicação possível. Se manobrado corretamente, o barco teria lidado confortavelmente com a situação", avaliou.

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