Galípolo diz que 'inflação fora da meta é desconfortável' e 'subir juros é situação cotidiana' para BC

Diretor do BC afirmou que suas falas recentes não colocaram instituição em situação difícil em relação ao que será feito com a Selic

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São Paulo

O diretor de política monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (22) que suas falas recentes não colocaram o BC em uma situação difícil em relação ao que será feito com a Selic em setembro, e repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário.

Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas hawkish (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.

Um homem com cabelo escuro e liso, vestindo um terno escuro e uma gravata vermelha, está sentado em um ambiente formal. Ele parece pensativo, com a mão direita segurando a parte superior do seu pescoço. O fundo apresenta um padrão geométrico em tons neutros.
Gabriel Galípolo durante sabatina no Senado Federal de para o Banco Central - Gabriela Biló - 04.jul.2023/Folhapress

Durante evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) em São Paulo, Galípolo disse "discordar respeitosamente" das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em um "corner", em referência a uma situação difícil, após recentes falas de diretores —em especial as dele próprio.

Ainda assim, ele manteve o discurso duro: "Na minha interpretação, posição difícil para o BC não é ter que subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável. Subir juros é uma situação cotidiana para quem está no BC".

Galípolo falou que as ferramentas do BC são amplas para que "a autoridade monetária exerça sua função, que é perseguir a meta de inflação". Segundo ele, o mercado percebeu que o BC tem "mais graus de liberdade" para decidir sobre a Selic.

O diretor salientou que subir a taxa de juros, hoje mantida em 10,50% ao ano, está incluso nas "ferramentas" à disposição dos dirigentes, que não sentem nenhum constrangimento para tomar essa decisão se for necessário.

"Estamos abertos, com todas as opções na mesa, consumindo dados para tomar nossa decisão", reforçou o diretor, acrescentando que suas falas não representam nenhum tipo de orientação sobre os próximos passos da política monetária.

Galípolo afirmou estar satisfeito com a interpretação de suas mensagens recentes. Ele também disse querer afastar a ideia de que suas falas representem "algum tipo de dissonância" com dirigentes do BC e com comunicações oficiais do Copom (Comitê de Política Monetária).

Em busca da meta

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão federal ligado ao Ministério da Fazenda), com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Galípolo também citou o fato de que no horizonte relevante da política monetária, de 18 meses à frente, a projeção do BC é de inflação de 3,2% —acima da meta.

Ele afirmou que o BC faz projeções dentro de um intervalo de confiança, acrescentando que em alguns momentos este intervalo foi visto como sinal de possível leniência da instituição na busca da meta.

"De maneira alguma se pensa ou se pode utilizar a banda da meta para reduzir o esforço da política monetária na persecução da meta, que é 3%", reforçou o diretor.

Galípolo também reforçou estar entre os diretores que consideram que o balanço de riscos para a inflação está assimétrico, com maior risco de alta.

Recentemente, a autarquia citou três fatores altistas para a inflação (desancoragem de expectativas, inflação de serviços e câmbio), contra dois fatores baixistas (desaceleração e desinflação global).

Galípolo também repetiu que não existe uma relação mecânica entre a variação do dólar ante o real e a política monetária. "Quando falamos que estamos dependentes de dados, de maneira alguma estamos dependentes de um dado só. Estamos olhando para diversas variáveis, não apenas para a taxa de câmbio", afirmou.

Ao falar dos diferentes números, Galípolo voltou a expressar desconforto com a desancoragem das expectativas de inflação.

No mais recente boletim Focus, economistas ouvidos pelo BC elevaram a previsão da inflação para 4,22% neste ano pela quinta semana consecutiva e subiram a estimativa da taxa Selic para 3,91% em 2025.

"Quando olhamos para 12 meses a inflação corrente já começa a ameaçar a banda superior do teto da meta", disse.

Com Reuters

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