Dólar sobe 2% e Bolsa interrompe sequência de altas com EUA em foco

Investidores seguem tendência de outros mercados no exterior, conforme crescem apostas de uma redução mais gradual nos juros americanos

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São Paulo

O dólar tinha forte alta nesta quinta-feira (22), em linha com o exterior, enquanto os investidores seguiam de olho na trajetória dos juros e dos dados econômicos dos Estados Unidos.

Às 15h40, a moeda norte-americana subia 2,04%, cotada a R$ 5,592 na venda. Já a Bolsa interrompia a sequência de altas que levaram o Ibovespa a patamares recordes, com queda de 1,17%, aos 134.872 pontos, em meio à realização de lucros.

A imagem mostra uma tela com um gráfico de mercado financeiro em fundo escuro. O gráfico apresenta uma linha azul que sobe, indicando um aumento, com o valor de 21.039,36 em destaque. Há também informações numéricas e percentuais abaixo do gráfico, que parecem indicar variações de preço e volume. Uma pessoa, vista de costas, está observando a tela.
Na quarta-feira, o dólar fechou em leve queda de 0,08%, a R$ 5,481, e a Bolsa brasileira renovou o recorde histórico pelo terceiro pregão consecutivo, com alta 0,28%, aos 136.463 pontos - Carla Carniel/Reuters

A tônica dos mercados segue sendo o estado da economia e a política monetária dos Estados Unidos.

Nesta quinta, novos dados eram destaque. O número de pedidos de auxílio desemprego subiu para 232 mil na semana encerrada em 17 de agosto, ante expectativa de 230 mil de analistas consultados pela Reuters. Na leitura semanal anterior, haviam sido 228 mil pedidos.

O resultado reforça a percepção de resfriamento do mercado de trabalho, após uma revisão na véspera mostrar que os Estados Unidos criaram 818 mil empregos a menos do que o divulgado anteriormente nos 12 meses até março.

Além disso, o setor empresarial desacelerou para uma mínima de quatro meses em agosto, e as empresas continuaram a ter dificuldades em repassar preços mais altos para os consumidores, segundo informações do PMI (índice de gerentes de compras, na sigla em inglês) da S&P Global.

O indicador ficou em 54,1, um pouco abaixo da leitura final de 54,3 em julho, mas ainda acima de 50, o que representa expansão. O número reforça a probabilidade de que a inflação permaneça em uma tendência de queda nos próximos meses.

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto dados de inflação e do mercado de trabalho. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", no qual o índice inflacionário converge para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

A meta de inflação é de 2%, e, nas últimas leituras, os indicadores têm mostrado uma desaceleração na alta de preços. Somado a isso, temores em relação aos números de desemprego têm criado uma ansiedade adicional sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário americano.

Com o arrefecimento da inflação, "o mercado de trabalho tem sido, nas últimas semanas, o principal vetor para os próximos passos do Fed na condução da política monetária", afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

"Os dados mostram que a economia dos Estados Unidos caminha para uma desaceleração, o que aumenta a possibilidade de que o Fed adote uma postura mais contundente na próxima reunião, em setembro."

A autoridade monetária divulgou, na quarta-feira, a ata da reunião de julho, cuja resolução foi por manter a taxa de juros inalterada na faixa de 5,25% e 5,50%.

A minuta indicou que a grande maioria dos diretores de Política Monetária está inclinada a um corte na taxa a partir do encontro de setembro "se os dados permanecerem dentro do esperado".

Vários deles, aliás, se mostraram dispostos a um corte na própria reunião passada. O documento ainda trouxe que "muitos" diretores consideraram a taxa restritiva, com argumentos de que, em meio a um resfriamento contínuo das pressões inflacionárias, nenhuma mudança nos juros poderia acentuar a desaceleração da economia.

Os operadores financeiros dão como certo que a flexibilização terá início na próxima reunião, em setembro. Agora, 72% dos investidores apostam em um corte de 0,25 ponto percentual, enquanto os 28% restantes vêem probabilidade de uma redução maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

As apostas em um afrouxamento mais gradual faziam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, saltarem. O rendimento do Treasury de dois anos —que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo— tinha alta de 0,06 ponto percentual, a 3,98%.

Quanto mais crescem os rendimentos dos Treasuries, melhor para o dólar, que se torna comparativamente mais atraente do que ativos de maior risco, prejudicando o apetite por moedas de países emergentes, incluindo o Brasil.

A procura por ativos mais seguros também tirava o apetite por investimentos na Bolsa brasileira, em meio, também, à realização de lucros após o Ibovespa renovar recordes históricos por três pregões seguidos. Na quarta, chegou a primeira vez ao patamar de 137 mil pontos durante o período de negociações.

De acordo com analistas do Itaú BBA, o principal índice acionário do país está em tendência de alta no curto prazo e atingiu, na véspera, mais um objetivo. Aos poucos, disseram eles, os mercados avançam e buscam convencer os investidores de que mais uma rodada de alta pode estar por vir.

"O fato é que a sequência de altas recentes das duas últimas semanas pressiona os investidores de curto prazo a proteger os ganhos, e isso tem amarrado os demais índices em torno de resistências, deixando ainda uma possibilidade de realização de lucros."

Estrategistas do JPMorgan afirmaram que o Ibovespa pode estar perto de alcançar os 140 mil pontos e, considerando determinadas premissas do banco, superar esse patamar, chegando a 143 mil pontos.

Olhando para frente, o foco está no encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, que começa nesta quinta e vai até sábado.

Jerome Powell, presidente do Fed, discursa na sexta-feira. A expectativa é que ele faça indicações sobre os planos do banco central para a reunião do mês que vem.

Na cena doméstica, os olhos estão voltados ao BC (Banco Central), uma vez que os investidores buscam sinalizações sobre como o Copom (Comitê de Política Monetária) poderá agir na próxima reunião, também em setembro.

O diretor de Política Monetária e favorito à presidência da autarquia, Gabriel Galípolo, comparece ao 32º Congresso & Expo Fenabrave, em São Paulo, às 14h30.

A curva de juros brasileira apontava nesta manhã para uma alta na Selic, atualmente em 10,50% ao ano, com a taxa do DI para janeiro de 2025 —que reflete a política monetária no curtíssimo prazo— em 10,835%, em alta de 0,10 ponto percentual.

Na quarta-feira, o dólar fechou em leve queda de 0,08%, a R$ 5,481, e a Bolsa brasileira renovou o recorde histórico pelo terceiro pregão consecutivo, com alta 0,28%, aos 136.463 pontos.

Com Reuters

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