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Los Angeles prometeu as Olimpíadas sem carro, mas vai cumprir?

Maioria dos projetos para reformular o sistema de transporte está pendente para cumprir a promessa

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Jill Cowan Soumya Karlamangla
Los Angeles e San Francisco | The New York Times

Quando estava em campanha para ser sede das Olimpíadas de 2028, o comitê de Los Angeles prometeu que organizaria a edição mais ecológica da história, adotando para isso a estratégia da "primeira Olimpíada sem carro".

Foi uma declaração ousada porque, bem, é Los Angeles. A capital americana da cultura do carro, onde o trânsito molda a vida diária mais do que o clima, poderia realmente conseguir isso?

A imagem mostra uma rodovia com tráfego intenso, onde muitos carros estão parados ou se movendo lentamente. Há várias faixas de veículos, incluindo caminhões e carros de passeio. Ao fundo, é possível ver uma ponte e placas de sinalização. O céu está nublado, e a paisagem é urbana, com árvores e edifícios ao longe.
Los Angeles é conhecida por congestionamentos nas estradas como essa na cidade de Alhambra, em abril de 2023 - Frederic J. Brown - 12.abr.2023/AFP

Com o encerramento das Olimpíadas de Paris neste domingo (11), o tempo está correndo. Los Angeles deve completar as tão necessárias melhorias no sistema de transporte da região para suportar o grande fluxo de atletas e turistas sem paralisar o tráfego de carros.

Isso inclui aumentar as linhas de trem, elevar a frota de ônibus e a liberação de inúmeras faixas de tráfego para permitir que centenas de milhares de pessoas circulem por uma metrópole que se espalha por 4.000 milhas quadradas (6.400 quilômetros quadrados).

"Estou otimista", disse Eli Lipmen, diretor-executivo da Move L.A., uma organização que defende a expansão do transporte público na região. "Não há nada melhor do que um prazo."

A prefeita da cidade, Karen Bass, lembrou como foi espetacular ter as Olimpíadas na cidade em 1984, quando ela assistiu a algumas provas de atletismo. Apesar das preocupações com congestionamentos, aqueles Jogos ocorreram sem problemas —e isso pode ocorrer novamente, disse ela. "Temos quatro anos. Vamos nos preparar."

Mas, de certa forma, o sonho de uma Olimpíada sem carros —ou, como os organizadores têm dito mais recentemente: "priorizando o transporte público"— em Los Angeles pode parecer ainda mais distante do que há sete anos, quando foi escolhida a sede olímpica.

O número de passageiros no transporte público, que inclui 175 quilômetros de linhas de trem e quase 120 rotas de ônibus, despencou durante a pandemia de Covd-19, assim como em outras cidades em todo o país, e ainda não se recuperou totalmente.

O uso do metrô de Los Angeles está em cerca de 85% dos níveis de 2019 (ano anterior ao da pandemia), de acordo com a agência de transporte. E é comum que viagens de transporte público em Los Angeles demorem o dobro do tempo em relação ao carro devido ao serviço infrequente e paradas distantes das casas de algumas pessoas.

A imagem mostra duas pessoas se abraçando em uma estação de trem, com um trem em movimento ao fundo. A luz do sol cria um contraste, destacando as silhuetas das pessoas. O ambiente é urbano, com um piso de ladrilhos visível.
Passageiros aguardam em estação de metrô de Los Angeles - Bing Guan - 15.set.2022/Reuters

O aumento da população sem-teto na região transformou alguns ônibus e composições do metrô em abrigos, fazendo com que muitos passageiros se sintam inseguros, e episódios de maior violência no sistema amplificaram essas preocupações.

O tráfego rodoviário geral aumentou. No ano passado, o motorista em Los Angeles gastou, em média, 89 horas em congestionamentos, um dos números mais altos do país, já que as viagens de carro no meio do dia aumentaram com menos pessoas fazendo deslocamentos diários para o trabalho, de acordo com a empresa de análise de transporte INRIX.

Somar o tráfego dos dias de jogos em praticamente todos os principais locais da região, desde o histórico estádio Rose Bowl, em Pasadena, até o Centro de Convenções Long Beach, pode parecer apocalíptico para os motoristas.

Mas as autoridades de Los Angeles dizem que tudo isso torna os Jogos Olímpicos uma oportunidade única para finalmente libertar a população local de seus carros e das horas de congestionamento que suportam, mostrando-lhes o que é possível —se os oficiais conseguirem fazer o suficiente em quatro anos.

"É uma oportunidade incrivelmente boa para mostrar o investimento de bilhões de dólares que tivemos em infraestrutura", disse Stephanie Wiggins, CEO do metrô de Los Angeles, que é supervisionado por oficiais eleitos representando o condado de Los Angeles, bem como algumas das 88 cidades dentro dele.

O plano ousado do Metrô para melhorar o sistema de transporte da região a tempo para as Olimpíadas apresenta uma combinação de melhorias planejadas há muito tempo e soluções mais rápidas. Como parte do plano, chamado "28 by ’28" e composto por dezenas de projetos, uma nova linha de trem no sul de Los Angeles foi inaugurada em 2022. E, no ano passado, o Metrô revelou a linha de trem leve mais longa do país, que oferece uma rota direta do leste a oeste de Los Angeles.

Mas a lista de pendências é longa, e apenas cinco projetos estão concluídos: a construção de uma faixa de ônibus rápido dedicada ao longo da avenida Vermont, um importante corredor norte-sul onde os passageiros fazem 45 mil viagens por dia, ainda nem começou. E a pressão está aumentando para terminar a extensão da linha roxa do metrô do centro de Los Angeles até o campus da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde ficará a Vila Olímpica, o que poderia transformar uma viagem de duas horas em um trajeto de 30 minutos de trem.

"Acho que o maior desafio é que provavelmente parte do sistema de transporte planejado não estará completo até 2028 como se esperava", afirmou Joshua Schank, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Transporte da UCLA e ex-diretor de inovação do Metrô.

Parte dos moradores têm as mesmas dúvidas. Sebastiaan Gregoir, 45, editor de cinema e TV que mora no centro, avaliou que a cidade foi corajosa na forma como está investindo no transporte público, mas está longe de acreditar que o sistema metroviário poderia comportar o fluxo olímpico. "Minha resposta é provavelmente não", afirmou. "No transporte público, quatro anos não é nada. Basicamente é amanhã."

Paris também prometeu tornar seus Jogos totalmente acessíveis por transporte público —e conseguiu. A cidade tem mais rotas possíveis de serem feitas a pé e tem uma infraestrutura de transporte melhor, além de sinalização por toda parte e um exército de voluntários indicando às pessoas para onde ir.

Mas há providências que Los Angeles pode tomar além das melhorias no transporte para aliviar o aumento do tráfego durante o evento. A cidade pode alterar os horários de entrega de caminhões e incentivar o trabalho remoto, disse Casey Wasserman, presidente da LA28, que está organizando as Olimpíadas de 2028.

Ele e outros do grupo estiveram em Paris observando as operações diárias dos Jogos deste ano. Wasserman acrescentou que campanhas de comunicação e parcerias com grupos da cidade e de transporte também serão essenciais.

Durante as Olimpíadas de 2028, o Metrô planeja emprestar mais de 2.700 ônibus para ajudar a transportar atletas e turistas. A agência de transporte da Califórnia definirá faixas de rodovias apenas para ônibus.

Esse também era o plano em 1984, antes mesmo de existirem linhas de trem em Los Angeles. Apesar das preocupações antes dos Jogos, o sistema de ônibus, além dos horários de trabalho escalonados adotados pelas empresas, resultou em um tráfego extraordinariamente leve, ou "nirvana automotivo", como relatou o jornal Los Angeles Times na época.

Bass disse que, desta vez, a cidade tem mais opções de transporte público, bem como tecnologia que pode facilitar o trabalho remoto para manter as estradas mais vazias.

Ela também observou que Los Angeles terá alguns ensaios gerais antes dos Jogos. A região será sede de partidas da Copa do Mundo em 2026 e do Super Bowl (a final do futebol americano) em 2027.

Alguns moradores disseram que, embora estivessem céticos sobre ver novas estações brilhantes ou vagões de metrô mais bem iluminados em um sistema de transporte transformado nos próximos quatro anos, estariam abertos a usar o transporte público se fosse conveniente.

"Definitivamente odeio a ideia de tentar dirigir e estacionar", disse Nick Andert, produtor de documentários que mora em West Hollywood.

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