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Trump pode reivindicar crédito por aumento nas ações, mas realidade é mais complicada

Analistas indicam que não há correlação tão clara entre presidentes e mudanças no mercado

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Joe Rennison Jeanna Smialek
The New York Times

Como presidente, Donald Trump regularmente atribuía a si mesmo o mérito de um mercado de ações em alta, citando isso como evidência de que suas políticas econômicas estavam enriquecendo os americanos.

Agora, Trump está novamente usando o mercado de ações como um barômetro —atribuindo sua alta no início deste ano à empolgação com sua candidatura e culpando sua rival, a vice-presidente Kamala Harris, quando as ações recentemente oscilaram.

Fotografia em detalhe mostra um homem de terno azul escuro e gravata vermelha. Ele está com expressão séria e lábios entreabertos. Há um microfone preto em sua frente. Ao fundo, é possível ver bandeiras dos Estados Unidos.
Donald Trump durante evento da campanha presidencial republicana de 2024 em Las Vegas - Ellen Schmidt - 23.ago.2024/AFP

À medida que o S&P 500 se aproxima de mais um recorde, o mercado de ações pode ser ainda mais destacado como um ponto de discussão na campanha eleitoral. Embora o presidente Joe Biden tenha sido menos enfático em suas proclamações sobre o mercado de ações, ele também o citou como um sinal de economia saudável sob sua gestão.

A realidade do que impulsiona Wall Street é muito mais complicada. As ações, assim como a economia, sobem e descem por muitas razões. Enquanto a perspectiva da política da Casa Branca pode ser uma delas, grandes e sustentadas movimentações no mercado geralmente têm mais a ver com outras coisas, desde as decisões do Fed (Federal Reserve) até o potencial de inovações corporativas como a IA (inteligência artificial).

"Acho que os mercados são politicamente agnósticos", disse Kristina Hooper, estrategista-chefe de mercado global da Invesco. "Com boa razão, porque isso não importa realmente."

Tanto Biden quanto Trump desfrutaram de saudáveis ralis no mercado de ações sob suas gestões. O S&P 500 subiu aproximadamente 67% desde que Biden venceu a última eleição, em comparação com pouco menos de 60% para o mesmo período sob Trump. O índice subiu 65% desde que Trump foi eleito em 2016 até a eleição de 2020.

A alta de 15% do S&P 500 durante o primeiro semestre do ano tem sido amplamente atribuída ao rali de um punhado de ações consideradas beneficiárias do boom em IA e não às chances de Trump de recuperar a Casa Branca.

A breve queda do índice, de meados de julho até o início de agosto, surgiu em parte devido à política monetária divergente entre o Japão e EUA e ao rápido desenrolar de negociações que já não eram tão lucrativas, e não da entrada de Harris na corrida presidencial.

Uma forte recuperação do mercado de ações neste mês é vista predominantemente como uma reação à crescente probabilidade, à luz dos dados econômicos, de que o Fed reduza as taxas de juros em setembro.

Embora o atentado contra Trump e a decisão de Biden no mês passado de deixar a corrida presidencial tenham sido registrados pelos investidores, "não acredito que seja o que está impulsionando o mercado agora", disse George Goncalves, chefe de estratégia macroeconômica dos EUA na MUFG Securities.

Isso não quer dizer que a política não tenha nenhuma influência sobre o mercado de ações. A política da Casa Branca tem o potencial de influenciar a economia. A economia ajuda a impulsionar os lucros corporativos. O mercado de ações é, teoricamente, um reflexo de quão lucrativos os investidores pensam que as empresas públicas serão.

"Não é que as eleições não importem, mas para os investidores, o foco no crescimento e inflação faz um trabalho melhor em explicar qual pode ser o resultado potencial," disse Thomas Hainlin, estrategista de investimentos global do U.S. Bank, que estudou a relação estatística entre presidentes e o mercado de ações.

"Existe alguma correlação definitiva entre presidentes e o mercado de ações? Descobrimos que tem sido bastante fraca," disse ele.

Tipicamente, o S&P 500 cai antes de uma eleição e sobe depois. A vitória de Biden em 2020 foi precedida por dois meses de perdas para o índice, antes de um aumento de 10% em novembro que coincidiu com avanços no desenvolvimento de vacinas para a covid-19. Em 2016, o S&P 500 caiu um pouco durante três meses antes de subir um pouco mais de 3% após a vitória de Trump.

Os analistas atribuem essa dinâmica à máxima de que os investidores não gostam de incerteza, com uma alta começando assim que o resultado da eleição é conhecido, em vez de ser específico a qualquer candidato ou partido. A longo prazo, quem está na Casa Branca tem importado menos.

Voltando ao primeiro mandato de Dwight Eisenhower, que começou em 1953, apenas três mandatos presidenciais resultaram em retornos negativos para o S&P 500 —o segundo mandato de Richard Nixon, que Gerald Ford terminou, e ambos os mandatos de George W. Bush.

Na verdade, o mercado de ações pode se sair melhor quando o governo está dividido —com a Câmara ou o Senado capazes de bloquear legislação— precisamente porque os gestores de fundos têm maior certeza sobre o cenário político no qual estão investindo. Menos coisas provavelmente mudarão se o Congresso não conseguir concordar com nada.

A pesquisa mensal de gestores de fundos do Bank of America listou uma "varredura" nas eleições dos EUA —onde um partido controla a Casa Branca e o Congresso— como um dos riscos para o mercado, embora tenha sido considerado muito menos importante do que uma recessão, conflito geopolítico ou inflação e outros fatores.

Mesmo quando a política é clara, pode ter resultados inesperados. Os preços das ações de empresas de energia tradicional se saíram melhor sob Biden do que sob Trump, mesmo que as políticas trumpistas sejam mais favoráveis à indústria de combustíveis fósseis. E as ações de energia limpa dispararam sob Trump, mas ficaram estagnadas sob Biden, mesmo que ele tenha aprovado um amplo pacote de investimento em energia verde.

Olhando para o futuro, os investidores acreditam que uma onda vermelha —dando aos republicanos o controle tanto da Casa Branca quanto do Congresso— poderia abrir caminho para políticas potencialmente inflacionárias, incluindo cortes de impostos que poderiam aumentar o déficit. Isso, por sua vez, poderia elevar os custos de empréstimos do governo.

Mas tais políticas podem chegar enquanto o Fed está reduzindo as taxas de juros, puxando os custos de empréstimos do governo para baixo e tornando a direção dos mercados financeiros mais difícil de prever.

Chris Krueger, diretor administrativo do grupo de pesquisa de Washington na TD Cowen, apontou o comércio, a imigração e as políticas do mercado de trabalho como outras áreas onde uma administração presidencial poderia mudar a política e direcionar tanto os mercados quanto a economia.

"Elas são enormemente consequentes," disse ele, embora tenha acrescentado, achar "que os presidentes provavelmente recebem muito crédito quando os mercados sobem e muita culpa quando os mercados caem."

Krueger disse que não tem certeza de como uma vitória de Trump afetaria o mercado de ações. "É inflacionário —provavelmente é mais um negócio de taxas, em vez de ações, mas historicamente, taxas mais altas não foram uma ótima coisa para as ações", disse ele. O resultado é que "2024 não é tão linear quanto 2016".

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