Plataformas organizam lista de espera em restaurantes

Casas que usam cultura da fila como marketing aderem a aplicativos para atrair também clientes apressados

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Homem de camisa branca atrás de vidro com post-its coloridos
Marcos Maramaldo, presidente da Get In, em seu escritório, na Barra Funda (zona oeste de SP) - Zanone Fraissat/Folhapress
São Paulo

Comer fora numa metrópole como São Paulo às vezes tem seus percalços. Alguns restaurantes na cidade têm longas esperas, o que pode espantar parte dos clientes.

Foi após passar por esse tipo de experiência que Vinicius Rittes e Thiago Sinisgalli, egressos do mercado financeiro, resolveram, em 2014, investir num aplicativo para otimizar filas de espera.

“Na nossa cabeça não fazia sentido só conseguir ter o nome na lista uma vez que você estivesse fisicamente no restaurante”, lembra Rittes.

A dupla fundou, então, com R$ 150 mil do próprio bolso, a empresa Styme. Por meio da plataforma é possível entrar em filas a partir de qualquer lugar, pagando uma taxa de R$ 6 por pessoa. 

A plataforma calcula, então, quantas mesas há na frente do cliente, discriminando-as também por número de pessoas em cada uma.

“O brasileiro tem o hábito de decidir de última hora onde vai comer. A gente queria facilitar a vida de quem deseja ir a um lugar que fica cheio, mas não se organizou previamente nem tem paciência para ficar muito tempo na fila”, afirma Rittes.

O Styme também trabalha com os restaurantes, que pagam a partir de R$ 99 por mês pelo serviço. A recepcionista controla, por meio de um tablet fornecido pela empresa, a chegada de quem não reservou mesa ou colocou seu nome na fila previamente. 

Na porta, o cliente recebe uma mensagem SMS com um link que informa quantas mesas estão na sua frente na fila, tendo ou não o aplicativo instalado em seu celular.

A empresa terminou o ano passado com uma carteira de 80 clientes, a maioria na cidade de São Paulo, e faturamento de R$ 200 mil —50% maior do que o número de 2017.

Percival Maricato, presidente do braço paulista da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirma que uma boa gestão de fila é imprescindível para os estabelecimentos, mas que, por outro lado, alguns lugares gostam de ostentar longas esperas.

“Há uma visão de alguns empresários de que se tem fila é porque é bom. Isso realmente acontece”, diz. De acordo com ele, as filas podem servir de chamariz para quem passar em frente à casa.

A “cultura da fila” dá outra vantagem ao dono do estabelecimento: enquanto esperam, os clientes consomem. 

“Desde que você tenha uma boa equipe para isso, que sirva entradas, drinques e trate bem o cliente, o tíquete médio gasto na casa pode aumentar bastante quando há filas”, avalia Karyna Muniz, consultora do Sebrae.

Mas nem todo o mundo está disposto a esperar na fila, e mudar o tipo de mentalidade de alguns donos de restaurantes é um dos objetivos de Marcos Maramaldo, 26, CEO e fundador do Get In, outro aplicativo que gerencia filas.

“Há dois perfis de cliente. Um que não liga de ficar nas filas e outro que deixa de jantar num lugar por causa delas. Tento mostrar para os restaurantes que os primeiros eles já têm e que eu posso ajudá-los com os outros”, afirma.

O Get In surgiu quase que por acaso. Maramaldo tinha, junto com seus sócios, uma desenvolvedora de aplicativos e, um dia, um restaurante lhes pediu para que criassem uma plataforma de gerenciamento de filas.

“Vimos então que isso era uma necessidade do mercado e que poderíamos usar em outros restaurantes”, relembra.

Eles se ofereceram, então, para desenvolver o aplicativo de graça ao cliente e, em troca, pediram para usar o restaurante em questão como piloto, de forma a pegar feedbacks e testar a plataforma. 

Pouco mais de quatro anos depois, a empresa tem 300 clientes e faturou R$ 600 mil no ano passado.

Nessa plataforma também é possível pagar uma taxa de conveniência (R$ 7,90 por mesa) e entrar numa fila de espera de qualquer lugar. 

Além do número de mesas à frente, o aplicativo mostra uma estimativa de tempo —isso se dá por meio de inteligência artificial e só é possível usar a ferramenta após cerca de seis meses de trabalho em um restaurante, tempo que o robô leva para estimar a espera para cada cliente.

A empresa conseguiu dobrar a média mensal de entradas remotas (usuário que se coloca na fila a partir de algum lugar que não o restaurante, como da própria casa) neste ano em relação ao ano passado: 1.600 contra 800.

“Foi orgânico. Não gastamos um centavo a mais para isso. A pessoa chegava ao restaurante, reclamava da fila para a hostess, e ela dizia ‘olha, hoje já foi, mas quando vier da próxima vez você pode entrar na fila de casa’”, conta.

Assim como o Styme, o Get In também atua na outra ponta e faz a gestão da fila para o restaurante. 
Numa pesquisa interna com seus cerca de 300 clientes, a empresa descobriu que aproximadamente 15% das pessoas deixam de comer em determinado lugar se a lista de espera estiver muito grande.

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