Empresas incentivam funcionário a criar e manter negócio próprio

Profissionais contam com estrutura de companhias, mas podem ter que trabalhar mais

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São Paulo

O empreendedorismo tem ganhado espaço em empresas tradicionais, que deslocam hoje parte de suas equipes para o desenvolvimento de projetos inovadores durante o expediente.

Ao se transformar em incubadoras de startups, as companhias buscam ganhar agilidade e modernizar seus negócios, o que é fundamental para se destacar no mercado.

“Hoje as ações de intraempreendedorismo são imprescindíveis, porque o mundo digital muda o jeito de consumir, de comercializar e de se relacionar”, afirma Cláudio Santos, fundador da consultoria de negócios em tecnologia SantoDigital.

Fundada em 2010, sua empresa, diz ele, adotou um modelo utilizado com sucesso pelo Google para incentivar funcionários a desenvolver projetos próprios que sejam inovadores. Os profissionais podem dedicar até 20% do tempo a negócios paralelos.

O time de empreendedores internos é responsável, por exemplo, por desenvolver para a companhia projetos de inteligência artificial para reconhecimento facial. 

Para isso, contam com estrutura, dinheiro e expertise da empresa como impulsionadores de novos projetos —recursos que muitas vezes fazem falta a quem abre um negócio por conta própria.

Em contrapartida, correm o risco de terem sua ideia de negócio apropriada por um superior ao longo do caminho, alerta a coordenadora do departamento de empreendedorismo da Faap, Alessandra Andrade.

Nem todas as grandes corporações dão tempo suficiente para que o intraempreendedor se dedique exclusivamente ao projeto, o que, na opinião de Maximiliano Carlomagno, fundador da Innoscience Consultoria em Gestão da Inovação, é um erro. 

De acordo com ele, para criar algo realmente novo, seria preciso trabalhar numa ideia em tempo integral. O mais comum, entretanto, é que o funcionário tenha apenas parte do seu expediente para desenvolver o projeto. 

Nesses casos, para que sua empresa dê certo, muitas vezes o empregado tem de levar trabalho para casa.

“As empresas costumam dar o tempo de um ‘projetinho’ para um ‘projetão’. Mas não é todo dia que o funcionário quer tocar o projeto da empresa em casa e à noite”, afirma Carlomagno. Para ele, falta entendimento sobre a real complexidade de se criar um negócio novo.

Thomas sentado em frente a uma janela com vista para prédios de São Paulo
Thomas Barth, que conciliava trabalho na Movile com sua startup, Fraîche, em escritório em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

O administrador Thomas Barth, 34, tocava sua startup Fraîche, fora de seu horário de trabalho, na empresa de tecnologia Movile, dona do aplicativo de delivery iFood. 

Desenvolvida por ele com dois sócios, a Fraîche oferece opções saudáveis nas máquinas de comida que, geralmente, vendem salgadinhos.

O sucesso de seu negócio somado à experiência na criação, execução e liderança de projetos inovadores que adquiriu como empreendedor chamaram a atenção dos chefes de Barth no grupo Movile.

Barth foi chamado para modernizar a modalidade de pagamentos da empresa, o Movile Pay. No início, podia se dedicar ao trabalho dois dias por semana, com mais uma pessoa. Hoje, é diretor financeiro da fintech, que conta com mais de 50 funcionários.

Entre os projetos desenvolvidos sob sua liderança estão a máquina de cartões iFood e a viabilização de pagamentos no aplicativo via QR Code, espécie de código de barras digital escaneado pelo celular.

“A startup foi como um grande MBA na minha formação. Você tem a oportunidade de vivenciar todas as áreas. Quando você trabalha para uma empresa, normalmente você fica restrito à sua área”, afirma Barth.

Diploma de graduação e especializações não bastam mais para ter sucesso em grandes empresas, afirma o professor da escola superior de empreendedorismo do Sebrae, José Marques Junior. 

Ele diz que cada vez mais as empresas procuram profissionais que tragam soluções inusitadas para seus problemas. 

“As grandes organizações só se tornaram grandes porque tiveram na base um perfil intraempreendedor muito proeminente”, diz Junior.

Para Alessandra Andrade, coordenadora da Faap, o empreendedorismo interno, encabeçado por funcionários mais jovens, ajuda empresas a criar engajamento com consumidores dessa faixa etária.

“Elas começaram a perceber o tamanho do impacto da mudança de comportamento dessa geração.”

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