Buscar o sucesso de forma indisciplinada leva ao fracasso, diz especialista em estratégia

Autor de livro sobre essencialismo, Greg McKeown afirma que empresários devem abrir mão do que não dá certo

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São Paulo

Foi no dia do nascimento de sua filha que Greg McKeown, 47, começou a repensar suas escolhas na vida pessoal e profissional. Ao deixar o hospital para comparecer a uma reunião de trabalho, ele esperava conquistar o respeito de seus colegas, mas foi recebido com espanto por decidir priorizar o emprego naquele momento.

Segundo ele, a expressão dos executivos o fez refletir sobre a importância de ter claras as suas prioridades. "O que estava fazendo ali? Só dissera ‘sim’ [à reunião] para agradar e, com isso, prejudicara minha família, minha integridade e até o relacionamento com o cliente."

O episódio é narrado no livro "Essencialismo: a Disciplinada Busca por Menos", publicado originalmente em 2015 no Brasil, em que o britânico defende que é preciso deixar de lado o que não for essencial para ter sucesso. A obra figurou na lista de mais vendidos do The New York Times.

Homem branco de cabelos curtos veste camisa verde escura e está sentado com os braços apoiados sobre os joelhos
Greg McKeown, autor de "Essencialismo: A Disciplinada Busca por Menos" - Lauren Hurt

Especialista em liderança e estratégia, McKeown dá palestras sobre viver como essencialista e já atendeu empresas como Apple, Google, Microsoft e Nike.

Em 2021, ele publicou "Sem Esforço: Torne Mais Fácil o que É Mais Importante", sequência de "Essencialismo". Ambos foram lançados pela Editora Sextante.

Em sua visão, a sobreposição de responsabilidades que pequenos empresários encontram ao montar um negócio atrapalha que eles identifiquem o que é realmente essencial. "Se buscarmos o sucesso de forma indisciplinada, gastaremos muito tempo, dinheiro e esforço e permaneceremos estagnados", afirma.

McKeown recomenda que os empreendedores saibam eliminar aquilo que não dá certo. "Os essencialistas exploram mais opções do que os não-essencialistas, que não desistem da primeira ideia mesmo se ela não estiver funcionando."

De forma resumida, o que é ser um essencialista?

Essencialistas fazem três coisas: eles criam espaço para explorar o que é essencial; usam critérios para selecionar e eliminar o que não é essencial; e constroem sistemas para facilitar a execução daquilo que mais importa. Essas três coisas formam um processo contínuo, uma busca disciplinada por menos. Em uma única frase, ser um essencialista significa viver sob o mantra "menos, porém melhor".

Como identificar o que é essencial?

Isso é um grande desafio para pequenos empresários, porque há muitas responsabilidades diferentes ao mesmo tempo. Chegam pedidos urgentes, há pressão para crescer e pagamentos para fazer. E ainda existem as responsabilidades fora da empresa, com a família e relacionamentos que importam ainda mais do que o negócio.

Uma sugestão é assumir o controle dos primeiros 30 minutos do dia. Em vez de checar emails e mensagens, pegue papel e caneta e escreva: "O que realmente é essencial hoje? Qual é a prioridade?". Depois de responder, anote mais duas coisas que são essenciais e urgentes. Depois, outras três tarefas que ajudam a manter a ordem no seu dia.

Chamo isso de método 1,2,3. É uma maneira de afastar a pressão do dia e refletir por um tempo. Se eu só pudesse fazer uma coisa hoje, o que seria? Essa é uma prática diária que não parece nada demais no início, mas, quando feita por mais tempo, pode ajudar a atingir metas importantes que antes não estavam recebendo atenção suficiente no seu negócio.

No seu primeiro livro, você diz que a busca indisciplinada por mais leva ao fracasso. De que forma pequenos empresários podem focar o crescimento sem perder de vista o que é essencial?

Não sou contrário ao crescimento ou ao sucesso. Mas o essencialismo nos ensina que, se buscarmos o sucesso de forma indisciplinada, gastaremos muito tempo, dinheiro e esforço e permaneceremos estagnados. O que eu recomendaria a um empresário é que ele cresça de forma disciplinada.

Se um empreendedor descobre que sua empresa está prestes a falir, garanto que ele imediatamente se tornará um essencialista. Mas esse é o pior momento para isso, porque ele pode não ter as melhores opções disponíveis ou o espaço para tomar boas decisões. Portanto, a chave é ser um empreendedor essencialista antes de precisar ser um.

É preciso perguntar a si mesmo "qual é a próxima direção a seguir?" e, então, construir uma estratégia em torno disso, o que inclui também saber dizer não. Muitos empreendedores são tão reativos ao que está acontecendo que acabam fazendo coisas demais. Eles precisam aprender a se tornar mais seletivos e disciplinados ao longo do tempo se quiserem construir um negócio que possa crescer e ser saudável.

Como alguém interessado em abrir um negócio pode filtrar melhor as opções?

Tenho dois casos em mente. Um deles é de um fundador de uma empresa avaliada em bilhões de dólares, mas que começou com oito funcionários e fornecia serviços de consultoria para empresas financeiras. Com a crise de 2008, todos os contratos foram encerrados, exceto um.

Era um contrato pequeno, com as Forças Armadas, e eles perceberam que, se quisessem sobreviver, precisariam se tornar competentes em segurança cibernética. Desenvolveram a habilidade e passaram a ter uma receita de US$ 10 milhões a US$ 12 milhões por ano.

Em outro momento, o empresário se juntou a um grupo militar para poder entender o que estava acontecendo no mercado além daquele contrato. Disseram a ele que os contratos e o dinheiro no ramo estavam acabando. Antes de seus concorrentes, ele mudou de segmento e passou a fazer softwares de segurança cibernética para o setor comercial.

Todo empreendimento bem-sucedido cresce rápido assim que identifica uma grande ideia que o mercado realmente deseja. Se você começa uma ideia e ela não funciona, então você deve mudar e se adaptar a outra.

É o caso de três cofundadores de uma empresa que queriam fazer cereal matinal para os partidos Republicano e Democrata. Eles foram às convenções nacionais de cada um deles, mas ninguém se interessou. Então, eles pensaram: "Essa é uma ideia ruim."

A próxima ideia foi encher um colchão inflável no apartamento deles em São Francisco para tentar alugar parte do espaço por meio de um site. Era outra ideia terrível, mas funcionou. E assim começou o Airbnb.

Em ambos os casos, não acho que foi apenas sorte. É fundamental explorar e eliminar muitas opções, exceto aquela que realmente funciona. Os essencialistas exploram mais opções do que os não-essencialistas, que não desistem da primeira ideia mesmo se ela não estiver funcionando.

Às vezes é preciso ter uma ideia ruim para ter outro pensamento e continuar tentando até encontrar uma boa ideia.

De que forma um empreendedor pode incentivar que seus empregados sigam o essencialismo?

Você precisa aumentar as habilidades interpessoais de todos, o que significa aprender a conversar uns com os outros sobre o que é essencial e o que não é e a trabalhar juntos sem atritos constantes.

Uma maneira de fazer isso é estimular que seus funcionários pensem ao que eles precisam dizer não quando aceitam fazer algo. Você não quer que sua equipe diga sim para tudo o que você diz. Você quer alguém que esteja pensando "Por que você quer isso? Por que estamos fazendo dessa maneira?".

Não estou dizendo que ser um essencialista significa apenas dizer não para o seu chefe. No entanto, existem maneiras de negociar. Tenho pessoas que dizem não para mim, mas elas não apenas dizem de forma rude. Elas dizem: "Não tenho certeza se essa é realmente a coisa certa em que investir, porque precisamos seguir o plano estratégico". Toda vez que elas fazem isso, eu adoro, porque elas estão me ajudando a manter o foco nas coisas de fato importantes.

Se os funcionários quiserem deixar de ser meros cumpridores de ordens para se tornar conselheiros de confiança, eles devem começar a ter essa conversa.

Raio-X

Greg McKeown, 47
Especialista em liderança e estratégia, é autor dos livros "Essencialismo: a Disciplinada Busca por Menos" e "Sem Esforço: Torne Mais Fácil o que É Mais Importante". Já atendeu empresas como Apple, Google, Microsoft e Nike

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