Pequenos negócios dominam mercado pet, que está em expansão e fatura bilhões

Empreendedores aproveitam momento em que donos se preocupam cada vez mais com a saúde dos animais

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José Carlos Videira
São Paulo

O Brasil abriga cerca de 150 milhões de animais de estimação, dos quais mais de 85 milhões são cães e gatos, segundo dados do IPB (Instituto Pet Brasil). As necessidades desses animais são atendidas, em sua maioria, por pequenos empreendedores.

"Os pequenos negócios dominam o segmento pet", afirma Flávio Barros, analista técnico do Sebrae Nacional especializado na área.

Dos 225 mil negócios voltados a esse setor, 126 mil são de MEIs (microempreendedores individuais) —mais da metade de todas as empresas do ramo.

O casal Dan Batista e Cleber Conceição e sua clientela canina, na Comport Pet, em São Paulo
O casal Dan Batista e Cleber Conceição e sua clientela canina, na Comport Pet, em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

"Enquanto as grandes redes têm público-alvo em grandes centros, os pequenos e médios têm participação relevante no que chamamos de lojas de vizinhança", diz o presidente do IPB, Caio Villela.

Segundo o instituto, o levantamento sobre a população de animais é anual e cruza dados de fontes como IBGE e Euromonitor, além de números do Ministério da Fazenda.

Barros acrescenta que os pequenos pet shops, muitas vezes, têm a preferência dos tutores por estarem mais familiarizados com os animais. O analista do Sebrae lembra que o dono do negócio não precisa ser necessariamente um veterinário, profissional que pode ser contratado ou terceirizado.

Além disso, "o investimento médio na montagem de um pet shop é baixo, em relação às grandes redes, um dos fatores para a concentração de MEIs no segmento".

Em 2022, pequenos e médios pet shops representaram 48,7% do faturamento total do setor, ainda de acordo com o IPB. Em comparação, as megastores, que vêm se disseminando nas grandes cidades, responderam por 8,9% do mercado. Completam a lista clínicas e hospitais veterinários (18,1%), agrolojas (8,8%), varejo alimentar (7,9%), ecommerce (6%) e outros, que inclui farmácias e lojas de conveniência (1,6%).

No ano passado, segundo o IPB, o faturamento da área chegou a R$ 60,2 bilhões, aumento de 16,4% em relação ao ano anterior. A projeção para 2023 é de que esses negócios cresçam mais 12,1%, chegando a R$ 67,4 bilhões, também segundo o instituto.

Um dos fatores que explicam esses números é o fenômeno da humanização dos animais. "A boa nutrição e o bem-estar e saúde dos pets são cada vez mais importantes para os seus donos", afirma Villela.

Cleber Conceição dos Santos, empresário e especialista em comportamento animal, dono da Comport Pet, em São Paulo, emprega atualmente 32 funcionários, além de garantir demanda para outros tantos prestadores de serviços, como o de veterinária.

Ele começou a atuar no ramo em 2010, como passeador de cães. Em sociedade com a sua mulher, Dan Batista, responsável pela gestão financeira do negócio desde 2014, fatura R$ 3 milhões por ano, oferecendo serviços de creche, hotelaria, adestramento, recreação e banho e tosa, além de clínica veterinária.

A empresa ocupa atualmente uma área de 700 metros quadrados, em Cidade Vargas, bairro da zona sul da capital paulista. Até setembro, vai quase dobrar o espaço de atendimento em outro local, na Vila Mariana, também na zona sul.

A nova sede, com área total de 1.200 metros quadrados, onde Santos e sua mulher vão expandir os serviços, demandou investimento, com recursos próprios, de R$ 1,5 milhão. "Em três anos, vamos elevar nossas receitas para R$ 7 milhões anuais", diz o empreendedor.

Desde 2018, Santos foca seu negócio integralmente em serviços presenciais, quase 100% dedicados a cães. Gatos, aves e outros animais são atendidos individualmente nas próprias residências dos tutores.

Nessa modalidade, ele trata animais com quadros de estresse e depressão. Uma sessão de atendimento custa R$ 500.

A Comport Pet, que cobra a partir de R$ 75 por serviços de banho e tosa e até R$ 2.000 para adestramento, ainda deve virar franquia até o fim do ano.

"O novo espaço vai servir como piloto para a franquia do negócio e de treinamento para os futuros franqueados", diz Santos. Em fase final de formatação, a modalidade vai custar de R$ 80 mil a R$ 200 mil, com unidades entre 60 metros quadrados e 500 metros quadrados.

No primeiro ano de franchising, o empreendedor prevê faturar R$ 2 milhões, sem contar as receitas do negócio de pet shop. Em dois anos, quer estar com 20 unidades franqueadas.

Por enquanto, ele dá preferência a cães, que, segundo ele, são mais rentáveis, embora vá oferecer também hotel para gatos na nova unidade.

E há quem se especialize nos felinos, que vêm ganhando espaço nos lares brasileiros.

Segundo o IPB, a população de gatos cresce mais do que a de cães no Brasil. Em 2018, os felinos somavam 23,9 milhões. Em 2021, havia 27,1 milhões, avanço de 14,4%, exatamente o dobro do crescimento do número de cachorros, 7,2%, no mesmo período.

O menor porte, a maior independência, na comparação com cães, e a adaptação mais fácil a ambientes menores têm contribuído para esse aumento.

Na Gattini Vet & Café, cachorro não entra. A veterinária Anna Bandini tem pós-graduação em felinos desde 2019 e conta com 1.200 gatos cadastrados em sua clínica, no bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo.

A especialista diz que esses bichos têm particularidades biológicas e são mais difíceis de atender. Por semana, ela faz de 30 a 40 consultas, por R$ 300 cada.

Cleber Conceição dos Santos, dono da Comport Pet, posa para foto com os cachorros que atende; sua empresa tem serviços de creche, adestramento, hotelaria, recreação, banho e tosa e veterinária
Cleber Conceição dos Santos, dono da Comport Pet, posa para foto com os cachorros que atende; sua empresa tem serviços de creche, adestramento, hotelaria, recreação, banho e tosa e veterinária - Lucas Seixas/Folhapress

"Gato não gosta de sair de casa, de cheiro ou barulho de cães e se estressa muito", afirma. Por isso, um ambiente menos estressante para o animal também é mais confortável para o tutor, que na clínica pode tomar um café em um espaço criado pela empreendedora.

Anna conta que muita gente adotou felinos durante a pandemia. "Conheço quem pegou oito gatos de uma só vez." No ano passado, eram 850 gatos no seu cadastro de pacientes. Em 2023, calcula que deve chegar a 1.500.

A Weasy, fabricante de produtos voltados para pets, também está notando maior demanda por produtos relacionados a esses animais.

A fábrica, na região de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, produz 50 mil banheiros por ano para cães, gatos, e coelhos, com preços a partir de R$ 479,90 (banheiro simples).

Os produtos podem ser ligados à rede de água para facilitar o escoamento dos resíduos, além de uma espécie de descarga automática por sensor de presença. Com essas funções, o banheiro para gato custa R$ 1.039,90. O de cães varia de R$ 939,90 (mini) a R$ R$ 1.089,90 (porte grande).

Em 2022, a empresa comercializou 536 sanitários para gatos. Até junho deste ano, já tinha vendido 416, e deve chegar a 1.000 unidades até o final de 2023, ou 87% de crescimento. Além de banheiros, a Weasy oferece para gatos, brinquedos e arranhadores. Em dezembro, prevê lançar um bebedouro especial para gatos, investimento de R$ 100 mil no desenvolvimento do produto.

Fundada em 2016 pelo casal Lara Lorga e Fábio de Carvalho, a empresa nasceu a partir de um protótipo de sanitário para cães, solução para o xixi de suas goldens retrievers Pepa e Lili. Com investimento inicial de R$ 5.000, o negócio deve dobrar o faturamento de R$ 16,6 milhões registrado em 2022.

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