Para driblar crise, escolas improvisam com sucata e enviam kits para a casa dos alunos

Cultura maker ganhou destaque nas instituições de ensino que incentivam o 'faça você mesmo'

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São Paulo

A pandemia trouxe entraves também às escolas especializadas em cultura maker, que ganharam destaque nos últimos anos levando para dentro das salas de aula disciplinas que incentivam o “faça você mesmo”.

Com laboratórios fechados ou restritos, o jeito foi usar uma premissa maker, a criatividade, para seguir com as atividades e ajudar os estudantes a pensar diferente.

“Os primeiros dois meses foram desafiadores, mas depois fomos nos adaptando”, diz Fabio Zsigmond, fundador da Mundo Maker, escola com duas unidades na capital paulista e 25 parceiras no interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

“Crescemos menos do que prevíamos, mas, diante da catástrofe que foi 2020, todo o nosso esforço criativo surtiu efeito”, avalia Zsigmond.

Uma das ações foi literalmente encaixotar o programa extracurricular para escolas parceiras, o Tech Lab. Nascia assim o Tech Lab Box, no qual caixas de materiais passaram a ser enviadas direto para a casa dos alunos.

Os kits, que podem ser adquiridos por escolas ou pais, custam a partir de R$ 99 e são divididos por temas. Há, por exemplo, o “arquiteto em ação”, com materiais para fazer uma obra que pode ser um ambiente, uma casa completa ou até um hospital.

“Não é um kit fechado de montagem. Ele permite construir alguma coisa, mas o que vai ser é o aluno quem vai decidir”, diz Zsigmond.

Na caixa tem material estrutural, peça de madeira, motor, engrenagem, EVA, tinta, tesoura, palito e canetas.

Já a Little Maker, empresa com sede em Campinas (SP) e parceira de cem escolas em todo o Brasil, decidiu passar a trabalhar com o que os alunos têm em casa.

Longe do laboratório, onde podiam imprimir peças e protótipos na impressora 3D, as crianças ficaram encarregadas de juntar tudo que poderia ser reciclado, como latinhas, papéis, plásticos, embalagens e tampas de garrafas.

Os alunos mais novos participam de aula online e, depois, ficam livres para desenvolver suas criações com o material que garimparam.

Enquanto isso, os mais velhos participam de um processo mais investigativo.

O instrutor apresenta um lugar, que parte do real e, a partir dali, os adolescentes vão pesquisando e formulando ideias. Por meio de uma plataforma, os alunos trocam experiências, mostram suas criações e até conseguem acessar dicas de como fazer, por exemplo, uma manivela, acabamento ou articulação.

Fundador da Little Maker, Diego Thuler diz que, apesar da perda com as restrições do laboratório —espaço atraente e que leva à exploração—, as aulas remotas acabaram abrindo novas possibilidades.

Uma turma de jovens decidiu criar uma revista digital com vários relatos para contar a história do movimento Black Lives Matter. “Teve uma outra equipe que fez uma história em quadrinhos com uma ferramenta online que nem a gente conhecia.”

Assim, a Little Maker conseguiu virar 2021 com 20% mais alunos em relação ao ano anterior e manter o faturamento. “O trabalho e o envolvimento aumentaram, mas também houve bastante dificuldade financeira e tivemos que negociar contratos”, relembra Thuler.

A unidade do Grupo Positivo dedicada à cultura maker viu os negócios aumentarem cerca de 20% nos primeiros nove meses do ano passado na comparação com o mesmo período de 2020.

Para manter as aulas, a instituição também adotou uma metodologia virtual para trabalhar com o que aluno tinha em casa. “Além disso, dividimos os kits de Lego e os enviamos para as crianças. Por fim, criamos uma ferramenta de compartilhamento com os professores para que eles pudessem adaptar suas atividades”, diz Alex Paiva, gerente de produtos e parcerias da unidade de tecnologia educacional.

Criada em 2018, a Luminova, escola da educação infantil ao ensino médio com quatro unidades em São Paulo e uma em Sorocaba, resolveu aplicar a cultura maker em várias disciplinas.

“Os alunos botam a mão na massa, do planejamento até a execução do projeto”, diz Nathan Schmucler, diretor de novos negócios da Luminova. A empresa, que entrou no mercado de franquias no ano passado, teve de adaptar o modelo de negócio e a metodologia para o mundo virtual. “Mesmo diante das dificuldades do ano pandêmico, a rede fechou nove contratos em 2020.”

Agora, a expectativa dos empreendedores que trabalham com educação maker é que a busca pelo método aumente após a pandemia. “Ficou claro como esse tipo de atividade fez falta. As escolas com cursos e dinâmicas diferentes conseguiram engajar mais os alunos”, diz Diego Thuler, da Little Maker.

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