Empresário transforma experiência com alcoolismo em app para abandonar vícios

Plataforma propõe exercícios e meditação para quem quer largar bebida ou cigarro

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São Paulo

O abuso no consumo de álcool na pandemia, apontado como preocupante por organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde), foi uma das razões que levaram o empresário Marcos Tartuci, 47, a lançar a startup Dei um Tempo.

O aplicativo, voltado a quem quer se desvencilhar de hábitos indesejados, atraiu, nos primeiros 15 dias deste mês, 17 mil interessados em aderir às duas frentes iniciais, tabagismo e alcoolismo.

O projeto da plataforma é inspirado em uma rotina de atividades criada pelo próprio Tartuci, em 2019, quando foi diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada e alcoolismo.

“Nunca imaginei que pudesse estar bebendo demais. Eu nunca fui convidado a sair de uma festa ou dei algum vexame. Mas há diferentes graus de alcoolismo e existe uma dificuldade das pessoas reconhecerem isso”, diz.​

O levantamento, que é anterior à Covid, mostra que nos últimos quatro anos aumentou a proporção de brasileiros com 18 anos ou mais que costumavam ingerir bebida alcoólica uma vez ou mais por semana —o tabagismo, por outro lado, vem apresentando declínio.

Depois de receber o diagnóstico, Tartuci, decidiu, então, pedir demissão do cargo de presidente da Cinesystem, uma rede nacional de complexos de cinema, e procurar especialistas que o ajudassem a traçar um plano de recuperação.

“Montei um processo que envolvia hábitos regulares de leituras e terapia para o autoconhecimento, meditação, exercícios físicos e também o registro da minha evolução em uma espécie de diário”, diz ele, que já foi executivo em companhias como a rede de academias Bio Ritmo/Smartfit e o grupo de educação Pearson.

Com os impactos da quarentena na saúde mental, o empreendedor imaginou que mais pessoas poderiam passar pela mesma situação e resolveu transformar seu conjunto de métodos em um negócio.

O segmento das healtchtechs ganhou destaque na pandemia, afirma Natália Bertussi, analista de inovação e especialista em startups do Sebrae. O distanciamento social estimulou o consumo de tecnologia e, com a mudança de comportamento do consumidor, muitas empresas decidiram investir no desenvolvimento de produtos voltados à saúde.

Em abril do ano passado, Tartuci começou a reunir o time de profissionais, que incluía programadores e também preparador físico, psicólogo, psiquiatra e nutricionista. Entre o capital pessoal e aplicado por um investidor-anjo, a pesquisa e desenvolvimento inicial custou cerca de US$ 250 mil (ou cerca de R$ 1,3 milhão).

O resultado foi uma plataforma que centraliza atividades de diferentes naturezas e que teve entre as inspirações o aplicativo de meditação milionário HeadSpace, fundado pelo ex-monge Andy Puddicombe em Londres em 2010.

No caso da Dei um Tempo, a proposta é realizar uma rotina diária de 15 minutos que inclui meditação, vídeos com recomendações de especialistas e o registro das reflexões sugeridas ao participante. Entre os 12 blocos de conteúdo estão, por exemplo, como lidar com a abstinência e a diferença entre lapso e recaída. Além disso, há uma rede social interna para participantes trocarem suas experiências.

Marcos Tartuci, criador do aplicativo Dei um tempo
Marcos Tartuci, criador do aplicativo Dei um tempo, - Divulgação


No setor de saúde, diz Natália Bertussi, do Sebrae, é comum que a inovação aconteça por meio de pesquisa, mas não no modelo de negócio. “É um dos segmentos mais enraizados e um dos grandes desafios é trazer novas formas de atuação que envolvam médicos, operadoras de saúde, hospitais, clínicas e pacientes”, diz.

Outro desafio dessas empresas é estabelecer uma relação de confiança com o usuário, que pode questionar tanto a confiabilidade da plataforma em preservar suas informações pessoais quanto a qualidade dos profissionais —uma relação que também começou a se transformar na pandemia, com fatores como o acesso à telemedicina.

Disponível em iOS e Android, a Dei um Tempo tem quatro planos, que duram 7, 28, 90 ou 365 dias. O mais curto, por ora, é gratuito; no caso dos restantes, os valores variam de R$ 197 a R$ 1.497.

Agora, a healthtech deve participar de rodadas de captação para desenvolver uma plataforma clínica em que profissionais de saúde poderão fazer acompanhamento dos participantes, além de um marketplace de produtos e serviços.

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