Destinos de luxo atraem turistas brasileiros com oferta de exclusividade

Segmento absorveu demanda reprimida de roteiros para o exterior e sofreu menos perdas durante o ano passado

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São Paulo

O golpe da pandemia foi forte para todos os segmentos do turismo, mas o de luxo conseguiu, de certa forma, passar bem pela crise.

Embora destinos internacionais e turistas estrangeiros, que respondiam pela maior parte dos clientes desses serviços, tenham sofrido um corte generalizado, o luxo dentro do Brasil surgiu como uma opção para quem podia pagar.

"O setor começou a trabalhar opções domésticas, e produtos pouco conhecidos pelos brasileiros começaram a atrair esses clientes", diz Frederico Levy, diretor de luxo da (Abav) Associação Brasileira de Agentes de Viagens.

Casa para aluguel em Santo Antônio do Pinhal (SP),  ofertada pela agência de turismo de luxo Matueté
Casa para aluguel em Santo Antônio do Pinhal (SP), ofertada pela agência de turismo de luxo Matueté - Divulgação

Hotéis e roteiros na natureza, na montanha e na praia, com atividades ao ar livre, tornaram-se objeto de desejo.

Como dependem de serviço impecável, nos períodos mais críticos alguns locais mantiveram empregados recebendo salários sem trabalhar. "Ficaram prontos para a reabertura e deu certo. Quando retomaram, lotaram com diárias de R$ 4.o00, R$ 6.000", diz Levy.

A fase mais difícil foi de março a junho de 2020, quando a maioria dos hotéis fechou, diz Simone Scorsato, diretora-executiva da BLTA (Brazilian Luxury Travel Agency).

"A partir de julho de 2020, a demanda voltou. Primeiro, foram mais buscados os hotéis próximos a grandes centros, que garantiam distanciamento social e contato com a natureza. Aos poucos, destinos mais isolados passaram a ser procurados", diz Scorsato.

Guto Costa, que abriu em 2017 o primeiro hotel-boutique na Amazônia, o Anavilhanas, começou 2020 com ocupação excelente. "Teria batido 2019", conta. Mas veio março, a Covid 19 e uma enxurrada de cancelamentos de reserva.

De 29 de março, quando saiu o último hóspede, até junho de 2020, o Anavilhanas ficou fechado. Em julho, foi reaberto, com adaptações. Os transfers de Manaus até o hotel, que fica a 180 km da capital amazonense, em Novo Airão, passaram a levar menos passageiros. O café da manhã e o almoço, antes servidos em bufê, passaram a ser à la carte.

cabana iluminada em meio a vegetação
Bangalô no Anavilhanas Jungle Lodge, que fica no meio da floresta amazônica - Marcelo Isola/Divulgação

O hotel sofreu pela situação especialmente difícil de Manaus durante a pandemia, mas pôde tirar proveito de seus diferenciais, como bangalôs, recepção e restaurante em áreas abertas e oferta de atividades em ambientes externos, entre elas minicruzeiro fluvial e trilha na floresta.

A ocupação no segundo semestre de 2020 foi boa, mas em janeiro deste ano, com o colapso do sistema de saúde no Amazonas, caiu de novo. A procura voltou a crescer em junho e agora o Avilhanas funciona com capacidade total.

A clientela, antes 80% estrangeira, passou a ser quase 100% nacional. E as estadas ficaram mais longas. Antes, o pacote mais vendido era de três noites; agora, a maioria fica cinco ou seis dias, com diárias acima dos R$ 6.000.

Costa diz estar trabalhando com margem de lucro menor, mas mantém a equipe de funcionários. "Não sei o que vai acontecer, mas tenho que estar preparado para uma grande demanda, não há plano B."
Os poucos hotéis que abriram quando as regras estavam mais rígidas tiveram alta demanda, diz Bobby Betenson, fundador da agência de viagens de luxo Matueté.

No primeiro ano da pandemia, a agência criou um novo produto para manter o distanciamento social: uma road trip para locais próximos a São Paulo. Em parceria com Jaguar e Land Rover, a empresa montou programas nos quais o cliente recebia em casa o carro higienizado, com cesta de piquenique e podcast sobre o roteiro, como uma volta por fazendas coloniais no interior de São Paulo e uma viagem a Paraty com hospedagem em veleiro.

Quarto do hotel Kenoa, em Barra de São Miguel (AL)
Quarto do hotel Kenoa, em Barra de São Miguel (AL) - Lucas Pinhel/Divulgação

Com a flexibilização das regras de isolamento, as road trips pararam, mas, no auge da quarentena, a agência chegou a ter 80 pedidos dessas viagens em uma semana.

A Matueté também oferece aluguel de vilas --residências luxuosas em locais paradisíacos, na praia e na montanha, com serviço de hotelaria. O produto já existia antes, mas com a crise sanitária a procura cresceu 200%, diz Betenson.

Atualmente, a agência sente os efeitos da demanda reprimida por viagens: "As vendas gerais já são comparáveis às de 2019", afirma Betenson.

É o que também acontece no Kenoa Resort, em Barra de São Miguel (AL). O hotel fechou logo após o Carnaval de 2020 e reabriu em julho daquele ano com 50% de ocupação e uma equipe já treinada nos novos protocolos de atendimento. A partir de agosto, com a retomada de voos diários para Maceió, o hotel já estava com a taxa de ocupação de 90%. As diárias custam de R$ 2.200 a mais de R$ 8.000.

Segundo Sergio Romero, gerente-geral, o desempenho está relacionado à experiência de luxo: atendimento individualizado, serviço impecável e gastronomia cinco estrelas.

O Kenoa passou também a organizar miniweddings, cerimônias enxutas de casamento. Participam os noivos, um celebrante, um ou dois músicos, todos mantendo o distanciamento. Familiares e amigos podem assistir à festa, transmitida por celular.

"Mesmo na crise, os mais ricos ficaram ainda mais ricos e, não podendo viajar para fora, concentraram a demanda dentro do país", avalia Wellington Melo, diretor-geral do Hotel Unique, em São Paulo.

Mesmo com as limitações, o hotel tem conseguido passar bem pelo período, atraindo clientes com sua oferta de luxo e exclusividade, segundo Melo. "Mudou o perfil do hóspede. Há menos turismo de negócios, mas há uma demanda pelo turismo de lazer."

Foram criados pacotes especiais, incluindo na diária jantares temáticos no restaurante do hotel ou massagem no SPA Caudalie. Os pacotes custam a partir de R$ 2.500 a noite.

O SPA Caudalie, no hotel Unique, em São Paulo
O SPA Caudalie, no hotel Unique, em São Paulo - Divulgação
Erramos: o texto foi alterado

A inauguração do hotel Anavilhanas Jungle Lodge aconteceu em 2007 e não em 2017, como foi incorretamente afirmado. O texto foi corrigido.

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