Descrição de chapéu maternidade

Mães empreendedoras se reúnem para discutir negócios e maternidade

Grupos oferecem desde espaço em plataformas que dão visibilidade ao negócio até terapia

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São Paulo

Mães que abriram negócios depois de deixarem seus empregos para ficarem mais próximas dos filhos ou que não conseguiram se recolocar no mercado em um cenário de crise agravada pela pandemia encontram em grupos como CMP (Compre de uma Mãe Preta) e Maternativa o suporte de que precisam para trabalhar.

Com o objetivo de fortalecer o empreendedorismo materno, esses grupos oferecem desde espaço em plataformas virtuais que dão visibilidade ao negócio até rodas de conversa e terapia, em que é possível compartilhar dilemas e desafios de uma jornada dupla ou tripla de trabalho.

"Tenho uma baita dificuldade com o [ambiente] digital e falta tempo para fazer tudo", conta a empreendedora Fabiana Almeida, 43, de São Paulo. Formada em moda, ela está à frente da marca de roupas femininas Femi, que aposta numa estética "afrocentrada" —com o uso de estampas e tecidos africanos—, e diz que encontrou na CMP o suporte de que precisava para crescer.

Fabiana Almeida, dona da marca de roupas Femi, com a filha
Fabi Almeida, da Femi, com a filha Aiyra, em 2019 - Arquivo pessoal

Mãe de Aiyra, 6, Fabiana conta que a Femi nasceu com a filha, em 2016. Com a pandemia e a urgência de ampliar a presença da marca na internet, ela participou de oficinas da CMP para traçar uma estratégia de redes sociais. A partir daí, criou um site para vendas online e hoje faz entregas para todo o Brasil.

Rosyane Silwa, 37, uma das fundadoras da Compre de uma Mãe Preta, conta que a plataforma foi criada em 2020 para reunir mulheres negras, indígenas, imigrantes e refugiadas. Na pandemia, os problemas se multiplicaram. "Com lockdown e crianças em casa, eu me perguntava: ‘como elas [mães] trabalham e sobrevivem?’. E não havia um espaço que reunisse mulheres negras para falar de negócios."

O grupo promove oficinas de letramento digital e gestão de negócios, além de rodas de terapia com foco em autoestima e maternidade. Também possui uma vitrine virtual, a Kitanda, onde as mães expõem e vendem seus produtos —é cobrada mensalidade de R$ 17,90 usada para manter a CMP. O dinheiro das vendas vai totalmente para as empreendedoras que, além de moda, trabalham com produtos de beleza e de decoração.

De acordo com o estudo Estatísticas de Gênero - Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado no ano passado pelo IBGE, o tempo dedicado pelas mulheres às tarefas da casa e de cuidado é de 21,4 horas por semana, enquanto o dos homens é de 11 horas.

Outro estudo, da OIT (Organização Internacional do Trabalho), mostrou que, dos 23,6 milhões de postos de trabalho perdidos por mulheres na América Latina e no Caribe no pior momento da pandemia (em 2020), cerca de 4,2 milhões não tinham sido recuperados até o final de 2021. No caso dos homens, dos 26 milhões de empregos perdidos no período, quase todos foram resgatados.

Segundo Ana Fontes, fundadora da RME (Rede Mulher Empreendedora), que oferece consultoria e cursos para ampliar a presença feminina no empreendedorismo, para muitas brasileiras, abrir um negócio próprio depois de tornar mãe é a única maneira de garantir renda e dar conta da jornada tripla —que envolve carreira e cuidados com a casa e a família.

"Um dos principais desafios das mães empreendedoras é que muitas chegam ao mundo dos negócios por necessidade, e não por escolha. Elas saem de ambientes corporativos hostis, especialmente as mães de filhos pequenos", diz. Pesquisa realizada em 2016 pela RME mostrou que 75% das mulheres decidem abrir um negócio após a maternidade.

À frente da PFzinho, empresa especializada em marmitas orgânicas para crianças, Sabrina Marostica, 37, tinha carreira no audiovisual, mas diz que conciliar o trabalho com a criação da filha, Maria Flor, 4, ficou inviável.

O gosto pela cozinha surgiu com a chegada da pequena. "Fui cuidadosa com a introdução alimentar dela", diz. Os lanches que preparava para a filha faziam sucesso na vizinhança, e a mãe de Sabrina a incentivou a abrir um negócio.

Em 2019, com um investimento inicial de R$ 500 mil, ela colocou a empresa de pé. E contou com o suporte e a visibilidade da vitrine virtual da Maternativa, startup que investe na qualificação de mães empreendedoras.

"Eu estava em um momento fragilizado, com um negócio novo e uma criança pequena em casa, e me perguntava: ‘será que estou fazendo certo?", diz. Hoje a empresa conta com dez funcionários e vende marmitas pela internet para toda a Grande São Paulo.

Cerca de 2.800 negócios de mulheres do país integram a Maternativa. De acordo com Vivian Abukater, diretora-executiva da plataforma, o grupo foi formado em 2015 para reunir mulheres que enfrentavam dificuldades no ambiente corporativo após a chegada dos filhos.

Com a pandemia, o trabalho ganhou ainda mais relevância, diz Abukater. "Houve estafa mental, queda de vendas, filhos em casa. Ver o retrocesso da participação no mercado de trabalho é uma grande frustração das mulheres."

Gestora em São Paulo do Sebrae Delas, iniciativa que oferece formação em empreendedorismo para mulheres que desejam abrir um negócio, Camila Ribeiro ressalta a importância de iniciativas como CMP e Maternativa para alavancar a competitividade das mães empresárias e incentivar a troca de experiências.

Ela lembra, contudo, que a solução para o problema da desigualdade de gênero no mercado de trabalho passa necessariamente pela criação de políticas públicas e empresariais que de fato ouçam as demandas dessas mulheres.

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