Incensos, cristais e tarô movimentam mercado místico

Empreendedoras apostam em formalização do negócio e comunicação com o público

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Campinas

O momento de crise no Brasil cria um ambiente propício para o desenvolvimento de produtos e serviços ligados a crenças, afirma o superintendente do Sebrae-SP, Marco Vinholi.

"Em períodos assim, muita gente vai atrás de respostas em outros campos, e aí o misticismo vem à tona", diz. Com isso, a leitura de mapa astral e a venda de artigos religiosos se tornam oportunidades de negócio.

Criada em 2019, a marca de produtos holísticos Lunnare Co., especializada em ervas e aromaterapia, cresceu durante a pandemia. "Acho que o fato de as pessoas, naquele momento, estarem precisando de algo acolhedor, ajudou", afirma Karla Lopes, 30, fundadora.

A iniciativa nasceu como uma forma de reconexão com sua infância. "Na casa da minha avó tinha muita erva medicinal e eu ia muito à benzedeira." ​

Depois de perceber a oportunidade de empreender, estudou sobre o assunto para criar a empresa. Os produtos, primeiro, eram vendidos em feiras de artesanato e online.

Um dos passos para a profissionalização da marca foi o seu registro no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

Na mesma época, Karla foi procurada por investidoras anjo, que atuam como conselheiras e estrategistas da empresa. O investimento serviu para escalar a marca e possibilitar a produção de parte dos produtos em fábrica, como os sprays energéticos.

Incensos, velas e banhos de erva, porém, continuam artesanais, feitos por Karla e três funcionários. "É um trabalho muito delicado. Acho que faz mais sentido, até para o valor de marca, ser feito à mão", afirma.

O site da Lunnare recebe cerca de 70 pedidos por mês, com ticket médio de R$ 140. Os produtos também são vendidos em lojas físicas por consignação e revendidos por marketplaces como Westwing e Amaro.

Para o superintendente do Sebrae, o principal desafio para empreender com o misticismo é a construção da credibilidade do negócio. Aspectos como uma divulgação alinhada ao público-alvo e o investimento no espaço de trabalho devem ser considerados.

Essa é uma das preocupações de Maria Paula Horta, 26, que deixou a carreira na área de estética para se tornar taróloga. No início, em 2018, direcionou seu trabalho, então incipiente, ao autoconhecimento dos clientes.

Começou atendendo até 15 pessoas por dia, por R$ 20 a sessão. Depois de criar o perfil de sua empresa, a Luz Mística, no Instagram, passou a ganhar mais público. Com o aumento do faturamento, procurou um contador para a formalizar o negócio.

"Ler cartas pode ser entendido como uma prestação de serviço. Para quem gosta disso, e entende do assunto, vai ser um mercado [de atuação]", afirma Vinholi.

Hoje, Maria tem uma equipe de oito pessoas, com tarólogos, auxiliar de administração e produtora de conteúdo. A empresa faz cerca de 260 atendimentos mensais online, com ticket médio de R$ 187.

A taróloga afirma que o alinhamento entre o serviço oferecido e a expectativa do cliente vem de sua postura profissional. "Prometer alguma coisa para alguém a partir de plano espiritual cai no charlatanismo."

Tatiane é dona da Ametysta, loja online que vende cristais e outros produtos místicos - Jardiel Carvalho/Folhapress

Dona da Ametysta, Tatiane Silva, 35, também se preocupa em comunicar de forma clara o que oferece. Depois de fechar sua loja física de produtos místicos durante a pandemia, ela migrou para o ambiente digital.

Além de divulgar seu trabalho, Tatiane publica conteúdo sobre os cristais e suas propriedades. "Não adianta eu encher o meu cliente de produtos se ele não conseguir se conectar", diz.

Pensando nisso, uma de suas preocupações é com os fornecedores de sua loja.

"Tem pedras muito bonitas que são sintéticas e eu opto por não vender. Não interessa vender um produto para uma pessoa afirmando ser natural se ele não for, porque a pessoa não vai receber nenhum benefício energético com aquilo", diz.

Além da autenticidade do produto, ela acredita que as ações do indivíduo também interferem na experiência.

Hoje sem equipe, a empreendedora cuida de todas as áreas de seu negócio, exceto a contabilidade, que fica a cargo de um contador. A Ametysta recebe cerca de 200 pedidos por mês, com ticket médio de R$ 100.

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