Descrição de chapéu Itamaraty

Cachaças tentam ganhar mercado na terra do soju com apoio da embaixada brasileira

Ásia está longe de ser prioridade da maioria dos produtores, mas celeridade para exportar chama atenção

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São Paulo

Garçons contratados pela embaixada do Brasil na Coreia do Sul rodeavam o salão do hotel Four Seasons de Seul com 80 garrafas de vinhos e espumantes. Paralelamente, em um canto do salão, um grupo de empresários brasileiros oferecia doses de duas cachaças produzidas em Minas Gerais: a Lótus, de banana, feita pela cachaçaria Sagrada, e a B Spirits, bebida mista à base do destilado.

O evento, em setembro do ano passado, comemorava o bicentenário da Independência do Brasil e reunia cerca de 300 convidados. Entre eles, grandes importadores coreanos, representantes de Samsung, LG e Hyundai e autoridades do país asiático, inclusive um vice-ministro.

Produção da cachaça Lótus, mais conhecida como bananinha, em Bom Jesus do Amparo (MG)
Produção da cachaça Lótus, mais conhecida como bananinha, em Bom Jesus do Amparo (MG) - Divulgação

"Aquela parte do salão ficou lotada o tempo todo", lembra a embaixadora do Brasil na Coreia do Sul, Márcia Donner Abreu.

A festa foi o ponto de partida para a exportação das duas bebidas para a Coreia do Sul. Nos dias seguintes, a embaixada coordenou encontros entre os empresários e importadores e, até dezembro, as duas empresas já haviam fechado contratos para exportar 10 mil garrafas para a nação asiática —a maioria da B Spirits.

Os lotes embarcaram para o país no início deste mês e serão comercializados inicialmente em lojas de bebidas alcoólicas —os distribuidores locais não revelaram o preço das garrafas, de 750 ml, mas em comparação uma de mesmo tamanho da cachaça 51 custa cerca de R$ 125 no país.

No Brasil, uma garrafa de Lótus custa cerca de R$ 50, e uma da B Spirits, R$ 70.

"Levando em consideração que normalmente se leva no mínimo 18 meses para construir um mercado e conseguir a assinatura do primeiro contrato, as empresas tiveram um grande sucesso", diz Helena Lee, sócia da Latitude 3733, empresa que auxilia a exportação de produtos brasileiros para a Coreia do Sul.

Entre os argumentos utilizados pela agente para convencer os produtores a exportarem para o país asiático estão a possibilidade de as marcas se inserirem no mercado premium mais facilmente e a influência da Coreia do Sul no Sudeste Asiático, o que facilitaria a exportação das cachaças para outros países do continente.

Além disso, o país asiático é um dos que mais consomem bebidas alcoólicas. A Jinro, principal produtora de soju, bebida típica coreana, é marca que mais vende destilados no mundo, segundo ranking da revista Drinks International publicado no ano passado –foram 94,5 milhões de caixas de 9 litros da bebida em 2021; a segunda marca, de gin, vendeu 37 milhões.

Antonio Marinho Junior, sócio das duas empresas, conheceu a Latitude 3733 durante um evento em São Paulo e, segundo ele, o apoio da agência de negócios foi fundamental para conduzir os trâmites com os distribuidores coreanos.

Essa é a primeira vez que a cachaçaria Sagrada exporta seu produto. No ano passado, a empresa –que tem 15 funcionários– associou-se ao Ibrac (Instituto Brasileiro da Cachaça) e se inscreveu no projeto Cachaça: Taste the New, Taste Brasil (prove o novo, prove o Brasil), que auxilia produtores a exportar suas marcas. A iniciativa também é apoiada pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

As vendas para a Ásia, porém, ainda estão longe de ser a prioridade dos produtores. De acordo com Carlos Lima, diretor-executivo do Ibrac, exportar para o mercado asiático exige grandes custos logísticos, como bancar as idas a feiras de negócios nesses países.

Não é à toa que a Ásia foi, no ano passado, o destino de apenas 40 mil litros de cachaça, enquanto só os Estados Unidos —o maior importador do produto— receberam quase 1,5 milhão de litros, segundo o Ministério da Agricultura.

A ideia principal da cachaçaria Sagrada, aliás, era exportar o produto para EUA e Portugal, mas o encontro com Lee facilitou que o produto chegasse, primeiramente, à Coreia. "As decisões na Europa são mais lentas e passam por várias etapas", diz Gilberto Pereira, sócio da empresa.

Paralelamente, a B Spirits, que tem o piloto Nelsinho Piquet como sócio, já exporta para Bélgica, Holanda, Alemanha, Portugal, França e EUA.

Seja como for, a chegada ao mercado coreano deixou os produtores esperançosos quanto ao sucesso do produto no país asiático.

A embaixadora Márcia Donner afirma que o sul-coreano é curioso e muito consumidor.

"Além disso, ele tem cada vez menos interesse nos produtos domésticos e cada vez mais em produtos importados. Então, ele pode passar do soju para o vinho e para a cachaça."

No próximo mês, a embaixada deve lançar um guia sobre como exportar para o país.

Já Ko Young Ho, importador que fechou negócio com as duas empresas, diz que o maracujá —um dos sabores produzidos pela empresa— está em alta no mercado coreano e que o produto da B Spirits "espalha o aroma pelo ambiente só de abrir a garrafa".

Além disso, ele destaca que a Lótus tem um sabor que lembra o do leite de banana coreano, popular no país. "O produto vai conquistar o público pelo paladar e pela nostalgia."


Folha abre canal para receber dúvidas sobre empreendedorismo

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