Descrição de chapéu tecnologia

Startups usam inteligência artificial para testar e contratar desenvolvedores

Algoritmo avalia habilidades e indica os candidatos mais adequados para a vaga

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Startups de tecnologia estão oferecendo uma nova solução para quem deseja contratar desenvolvedores: plataformas de testagem, recrutamento e seleção baseadas em inteligência artificial.

Algoritmos testam habilidades específicas, filtram candidatos e oferecem às empresas cardápios com aqueles que seriam mais adequados às vagas.

A depender da plataforma, o algoritmo também faz uma peneira digital, comparando os requisitos da vaga com as características dos profissionais disponíveis em um banco de talentos.

Além da qualificação técnica, os programas consideram a personalidade e as chamadas soft skills –capacidade de trabalhar em equipe, por exemplo.

A Coodesh é uma dessas startups. Fundada em 2020, a empresa oferece testes práticos de habilidades em programação e permite que os desenvolvedores certifiquem aquilo que, em outras plataformas de contratação, é declaratório.

A aplicação oferece provas práticas em que o programador é obrigado a escrever códigos, resolvendo problemas propostos pela máquina. Além de corrigir as provas e conferir notas, a inteligência artificial da Coodesh serve para coibir fraudes.

Gabriel Ferreira é presidente da Coodesh, plataforma que testa desenvolvedores usando inteligência artifcial - Alexandre Rezende/Folhapress

O código monitora o movimento do mouse e as imagens da webcam do computador do candidato, com o intuito de verificar se ele está fazendo buscas na web ou usando um segundo computador para colar.

Empresas interessadas em avaliar habilidades de candidatos podem convidar os desenvolvedores a fazer os testes na plataforma.

No plano premium, que custa a partir de R$ 650, os clientes ganham acesso ao banco de desenvolvedores da startup. A aplicação é gratuita para programadores.

Com 11 funcionários e faturamento anual de R$ 2 milhões, a startup testou 150 mil usuários e tem 926 empresas cadastradas em sua plataforma. Em 2021, a Coodesh levantou US$ 200 mil com uma rodada de investimentos da Niu Ventures e The Venture City.

Growyx, uma startup sediada em São Paulo, presta serviço semelhante. A diferença é que, além de testar habilidades práticas, a empresa agrega testes de personalidade e soft skills.

A partir da vaga de trabalho inserida pela empresa na plataforma, o algoritmo da Growyx encontra os desenvolvedores mais apropriados em sua base de talentos e cria uma lista tríplice.

"[Além da qualificação técnica], o algoritmo considera disponibilidade para o formato de trabalho, características pessoais e pretensão salarial", diz Yukio Yokota, cofundador da empresa.

Funcionários da Growyx entram em contato com os desenvolvedores selecionados pela máquina para perguntar se seguem disponíveis para trabalhar. Se a resposta for positiva, aquela lista é enviada à empresa que ofertou a vaga e a Growyx viabiliza entrevistas entre as partes.

O código pratica o chamado aprendizado de máquina (machine learning, no original). Compara as características dos profissionais oferecidos às empresas com as contratações realizadas.

Nesse processo, o algoritmo consegue progressivamente "entender" quais são as características profissionais que garantem maiores taxas de sucesso em determinadas vagas.

A plataforma é gratuita para desenvolvedores e cobra taxas de empresas que firmam contratações. No caso de recrutamento permanente, a plataforma fica com valor igual ao do primeiro salário. É cobrada uma taxa variável quando a contratação é para projetos específicos.

A Growyx faturou R$ 3 milhões em 2023. São 3.800 desenvolvedores cadastrados na plataforma, com 603 contratações realizadas entre 2022 e 2023.

Homem sorri
Yukio Yokota, cofundador e diretor de vendas Growyx, na sede da empresa em São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Há pouca evidência científica sobre uso de IA para contratações", alerta Edvalter Holz, professor de liderança e gestão de pessoas no Insper. "Mas existe uma grande expectativa de redução de custos e aumento de eficiência nesses processos, que hoje são demorados e burocráticos."

A reprodução de vieses de raça e gênero está no centro da discussão sobre adoção de IA em processos de contratação, gerando o que alguns pesquisadores chamam de círculo vicioso de contratações.

A máquina aprende com base em contratações já realizadas. Se as empresas da base de dados contratam majoritariamente homens brancos e formados em determinadas faculdades, por exemplo, o algoritmo tende a privilegiar candidatos com esse perfil. A capacidade dos algoritmos de avaliar aspectos subjetivos de personalidade também é questionada.

"O problema não é usar a IA, mas confiar plenamente na IA", diz Fabricio Barili, mestre em comunicação social pela Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e autor de artigos sobre o tema. "É importante que haja supervisão humana do processo."

Empresas como a Growyx dizem evitar vieses eliminando certas variáveis de suas plataformas. "O algoritmo não tem como ter viés de gênero ou de raça porque esses dados simplesmente não estão lá", diz Yokota, acrescentando que o algoritmo também não considera escolaridade e histórico profissional.

"Ainda assim, alguém desenhou esse algoritmo, e essa pessoa tem vieses", afirma Holz, do Insper.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.