Artesãos transformam materiais do cotidiano, como vidro e latão, em joias

Saber precificar as peças é desafio para empresários; valores variam entre R$ 130 e R$ 20 mil

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São Paulo

Na joalheria contemporânea, metais preciosos têm dado espaço para uma variedade de materiais do cotidiano, como o vidro, madeira e latão, que são transformados em peças valiosas pelas mãos de designers e artesãos.

A foto mostra a designer Mariana Genoveze, uma mulher de cabelos cacheados, curtos, com um vestido florido. Na sua frente, as peças que produz em seu ateliê, feitas de vidro.
A marca Ada Love produz peças que levam o vidro borossilicato como principal matéria prima, criando peças únicas que exploram o material e suas possibilidades - Lucas Seixas/ Folhapress

"Hoje, é possível vender uma joia de papel, dependendo de como é feito o branding da marca e de como o produto foi desenvolvido", afirma Camila Rossi, professora de joalheria da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

No Studio Oco, em Bragança Paulista (SP), os pingentes, anéis e pulseiras são confeccionados a partir de restos de madeiras nobres. "Transformo resíduos que seriam descartados em peças com alto valor agregado e dou uma segunda vida a eles", diz o dono, João Paulo Scigliano, 49.

Geógrafo de formação, o designer prestava consultorias no interior do Pará quando decidiu aprender a manipular o material, que era coletado em serralherias na região. "Na oficina de um colega artesão, comecei a tornear madeira, depois aprendi a marchetaria [técnica de ornamentação de madeira], aí fui para as joias."

Então, transformou a atividade em negócio, em 2006. Hoje, é ele quem toca todos os processos de produção das joias, do desenho à venda. Em datas festivas, quando a demanda é maior, conta com o auxílio de parceiros para a fabricação das peças, que custam entre R$ 150 e R$ 350 e são vendidas principalmente em feiras.

A imagem mostra a designer montando um colar de vidro colorido em cima de uma mesa de madeira. A direita, dois alicates, um com cabo amarelo e outro vermelho.
As principais matérias-primas das peças da Ada Love são o vidro borossilicato e a prata

Na Ada Love, de São Paulo, o principal insumo é o vidro. "É um material com que posso me expressar melhor, ter uma resposta mais imediata e fazer um volume de joias muito maior", conta Mariana Genoveze, 31, que criou a marca em 2022.

Para fazer as peças, a designer estudou a técnica fora do Brasil. Ela também importa parte dos materiais usados na confecção, feitos de material mais resistentes. Os preços dos adornos variam entre R$ 345 e R$ 1.253. Em meses mais movimentados, a joalheria chega a vender dez itens.

Já o artista plástico André Caperutto, 45, da Caperutto Jewelry, em São Paulo, utiliza materiais como madeira, inox, latão e cobre na produção das peças, que custam de R$ 130 a R$ 1.920.

"A ideia é explorar os materiais e ressignificá-los através do design. A qualidade do desenho é mais importante, independente do material que está sendo usado", afirma. Hoje, a marca vende cerca de 30 a 40 joias por mês e o faturamento anual da marca, que lucrou já no primeiro ano, fica na casa dos R$ 100 mil.

O ateliê de Isabella Blanco, 60, que leva seu nome, foi criado em 2009, na capital paulista, com o diferencial de usar peças antigas, dos séculos 19 e 20. "Eu faço uma reinterpretação de itens raros, que já tiveram uma função no passado e hoje estão parados em antiquários, e tento resgatá-los", explica.

O investimento inicial foi de cerca de R$ 370 mil, a maior parte destinada à compra de matéria-prima (itens antigos, metais e pedras preciosas). Hoje, a marca conta com uma equipe de quatro pessoas, além de dois ourives terceirizados. O faturamento é de cerca de R$ 500 mil por ano.

Segundo a designer, os preços dos adornos, que variam de R$1.180 a R$ 19.880, são estipulados pela percepção de valor dos clientes sobre o produto. Por mês, são vendidas cerca de dez peças.

O caminho nem sempre é fácil

Genoveze, da Ada Love, trabalha no ramo da joalheria há sete anos, mas afirma ter sido difícil conseguir estabilidade. "É complicado entender como as pessoas vivem disso, porque eu sinto que acaba sendo uma coisa muito passada de pai para filho", diz.

A designer Mariana Genoveze busca explorar o vidro borossilicato e suas possibilidades na criação das peças - Lucas Seixas

"No início, não sabia como precificar minhas peças e vendia tudo bem barato. Fui percebendo que não tem como ser assim. Também estou aprendendo a me valorizar e entender que é um produto único, agora com o vidro mais ainda", conta a designer.

Juliana Segallio, consultora de negócios do Sebrae, explica que essa é uma questão recorrente na venda de produtos artesanais. "Isso acontece quando o empresário não identifica qual é o público correto para ele e oferece uma peça para um consumidor que não reconhece e não tem interesse por aquele objeto", diz.

"É legal que as ideias e os conhecimentos técnicos do empresário sejam usados para criar um diferencial na proposta de valor da marca, que deve estar encaixada com uma demanda identificada no mercado", acrescenta Segallio.

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