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Plano do governo quer fomentar digitalização em pequenas empresas

Cerca de R$ 2 bilhões serão destinados ao programa Brasil Mais Produtivo

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São Paulo


O Nova Indústria Brasil, plano de reindustrialização do Governo Federal, deve destinar R$ 2 bilhões para um programa de digitalização e aumento de produtividade de pequenas empresas.

Brasil Mais Produtivo, como o programa está sendo chamado, é coordenado pelo Ministério da Indústria, Comércio e Serviços e executado por Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

É dividido em duas vertentes: produtividade e digitalização. A primeira concentra-se em aumentar o faturamento e reduzir custos. A segunda, na implementação de ferramentas digitais de otimização de processos.

O programa é voltado a empresas de comércio, indústria ou serviços com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões. Em ambas as vertentes, que podem ser acessadas de forma sequencial, o empresário poderá ser acompanhado presencialmente por um consultor de inovação vinculado ao programa. É tudo gratuito.

Mulher sorri para câmera ao lado de biruta amarela. Foto foi tirada de dentro de outra biruta, cujo tecido ocupa as margens da imagem
Amanda Fontes é sócia da Aeroind, fábrica de birutas atendida por versão anterior do "Brasil Mais Produtivo" - Lucas Seixas/Folhapress

Amanda Fontes, sócia da Aeroind, uma fábrica de birutas, participou de uma versão anterior do programa, a "Brasil Mais", em 2021.

A partir de orientações dos consultores, a empresa paulistana implementou uma série de melhorias. Adotou um software de gestão de processos que monitora compras, produção e vendas, adaptou seu site para permitir comércio exterior e passou a fazer pesquisas de qualidade com clientes.

Fabricadas desde 1998, as birutas da Aeroind servem não apenas à aeronáutica. "Vendemos para a agricultura, já que auxiliam na pulverização de agrotóxicos", diz Fontes, "e para a indústria, uma vez que ajudam a definir rotas de fuga em casos de vazamentos em frigoríficos, por exemplo".

O professor da Faculdade de Economia da UFRJ João Carlos Ferraz diz que o programa ataca um problema central das pequenas empresas no mundo todo: a falta de eficiência.

A busca por maior eficiência, ele acrescenta, não é incompatível com absorção de empregos. "Se uma pequena empresa melhorar seus processos e produtos, venderá mais", diz. "Se o aumento no faturamento superar o aumento de produtividade, essa empresa vai precisar de mais trabalhadores."

Foi o que ocorreu na Aeroind. O faturamento anual aumentou de R$ 600 mil para R$ 1,8 milhão, ao passo que cresceu de quatro para sete o número de funcionários. Segundo Amanda Fontes, a empresa deve se inscrever na nova etapa do Brasil Mais Produtivo.

Samuel Pontes, sócio da empresa de injeção plástica Luka Plásticos, em Valinhos (SP), também se beneficiou de consultoria semelhante do Sebrae e do Senai.

A empresa produz brinquedos, copos e baldes de pipoca para redes de cinema e franquias de fast-food. Tem 40 funcionários e uma planta de 550 metros quadrados.

Pontes diz que os consultores ajudaram na implementação de um software de contagem de peças produzidas. "Antes dependíamos da contagem humana que, não por falha dos funcionários, era imprecisa", diz.

O Sebrae também ajudou a implementar mudanças baseadas no método japonês 5S, nome que vem das palavras seiri (utilização), seiton (organização), seiso (limpeza), seiketsu (padronização) e shitsuke (disciplina).

O 5S consiste em mudanças visuais e organizativas no local de trabalho cujo objetivo é otimizar o fluxo produtivo. Disposição correta das ferramentas, limpeza dos materiais e padronização dos procedimentos são algumas das metas na cartilha.

Pontes diz que viu aumento de produtividade depois das mudanças, embora sem ampliação da margem de lucro. Com faturamento anual de R$ 12 milhões, a Luka Plásticos já não se enquadra no escopo de empresas atendidas pelo Brasil Mais Produtivo, o que ele considera positivo.

"Depois do teto [de R$ 4,8 milhões], as empresas já têm áreas melhor demarcadas e condições de arcar com o custo de uma consultoria", diz.

Ricardo José dos Santos, professor de economia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, vê algumas fragilidades no programa do governo. A primeira delas é o timing.

"Essa demanda de aumento de produtividade e competitividade através da tecnologia já existia 15 ou 30 anos atrás", diz. "Estamos tentando suprir algo que está superado em outros países".

Santos também destaca um viés de adesão. "É provável que as inscritas no Brasil Mais Produtivo sejam empresas inovadoras, que tem menos de 30 anos, que são originárias de incubadoras e que já têm alguma relação anterior com o Sebrae."

Tentando suprir a dificuldade crônica de financiamento para pequenas empresas, que frequentemente ganham baixas pontuações de crédito nas instituições financeiras, o BNDES deve participar do programa.

Segundo José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior, o banco disponibilizará R$ 80 milhões em crédito não-reembolsável para desenvolvimento de tecnologias a serem implantadas nas pequenas empresas e cerca de R$ 100 milhões em créditos para digitalização.

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