Tony Blair renuncia; Gordon Brown assume cargo de premiê britânico
Após dez anos à frente do governo britânico, Tony Blair renunciou ao cargo nesta quarta-feira, deixando o ministro das Finanças Gordon Brown como sucessor.
Blair apresentou sua renúncia durante uma reunião de cerca de 25 minutos com a rainha Elizabeth 2ª, e deve deixar ainda hoje o cargo de deputado, que ocupa há 24 anos, durante visita a Sedgefield, seu reduto eleitoral, no interior da Inglaterra. Após a renúncia, Brown foi recebido pela rainha para a confirmação no cargo de premiê.
Durante seu último discurso no Parlamento britânico, Blair disse que "lamenta" os riscos enfrentados diariamente por soldados no Iraque e no Afeganistão. "Nunca me encontrei com pessoas com uma dedicação tão constante, valor e compromisso", afirmou ele, no último comparecimento na tradicional sessão das quartas-feiras de perguntas ao premiê na Câmara dos Comuns, que teve a presença de sua mulher, Cherie, e de outros familiares.
AP |
Tony Blair (à esquerda) deixa cargo de premiê e é sucedido por Gordon Brown (à direita) |
Com promessas de restaurar a confiança no governo, Brown, 56, planeja deixar de lado a era Blair e mudar o posicionamento do Reino Unido ante questões como a Guerra do Iraque.
A sucessão de Brown dá fim à uma parceria que teve início quando ele e Blair foram eleitos para o Parlamento, em 1982, dividindo a visão de que iriam modificar o Partido Trabalhista.
Especula-se que, em 1994, ambos selaram um acordo: Brown teria concordado em não concorrer com Blair pela liderança do partido após a morte do então presidente, John Smith.
Em troca, Blair teria prometido a Brown o cargo de Ministro das Finanças em seu governo.
Brown, sua mulher e seus dois filhos já estão morando no apartamento 10 de Downing Street --residência oficial do premiê. Blair, que tem uma família maior e precisava de mais espaço, ocupa por enquanto o apartamento 11, que seria o endereço oficial de Brown.
Iraque
O novo premiê promete mudar a política britânica em relação ao conflito no Iraque, cada vez mais impopular no Reino Unido. O número de soldados britânicos no país diminuiu em 2007.
Kevin Coombs/Reuters |
Ativistas contra Iraque protestam em frente a Downing Street |
Blair deixa para seu sucessor a opção de trazer de volta, em 2008, os cerca de 5.500 soldados que ainda estão no Iraque.
Brown prometeu montar uma comissão de inquérito a respeito do Iraque, similar ao Grupo de Estudos para o Iraque americano, para analisar os "erros cometidos" no conflito.
Pais de soldados mortos no Iraque fizeram uma manifestação perto de Downing Street quando Blair deixar a sede do governo a caminho do Palácio de Buckingham.
Membros do grupo Famílias dos Militares Contra a Guerra disseram que o objetivo do protesto é " não deixar que Blair esqueça os sofrimentos que causou".
Oriente Médio
O presidente americano, George W. Bush, fez uma última homenagem a Blair e deve telefonar para seu sucessor para congratulá-lo pelo cargo.
"Tony realizou um grande mandato, e a história o julgará de forma positiva", disse Bush ao tablóide inglês "The Sun". "Eu ouvi dizer que ele é chamado de 'poodle de Bush'. Ele é muito maior do que isso", afirmou Bush.
O líder dos EUA tem sido um dos principais articuladores para que Blair assuma o cargo de enviado do Quarteto para o Oriente Médio --EUA, ONU, Rússia e União Européia-- para representar o grupo nas negociações de paz.
O premiê irlandês, Bertie Ahern, disse que Blair comentou que o cargo seria "difícil", mas que quer se dedicar ao diálogo de paz. "Ele acredita que, se você se engaja de fato, consegue obter progresso", disse o líder irlandês à rede de TV RTE.
Blair reuniu-se com o presidente russo, Vladmir Putin, na noite desta terça-feira, para acalmar a apreensão da Rússia a respeito de sua saída do cargo, segundo seu porta-voz.
De acordo com o porta-voz, as conversas foram "positivas", sem especificar o que foi tratado.
Com Efe e Associated Press
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