Chicago é vista como a cidade que mais separa brancos de negros nos EUA

ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO

No começo dos anos 60, Birmingham, no Alabama, foi batizada por Martin Luther King (1929-1968) de a cidade mais segregada dos EUA.

Hoje, é Chicago que ocupa esse lugar, com uma separação não oficial entre brancos e negros, mas, nem por isso, menos evidente.

O título vem da análise feita pelo estatístico Nate Silver sobre o mapa criado pelo pesquisador Dustin Cable, onde cada ponto representa a raça de uma pessoa mapeada pelo último censo. Depois de Chicago, estão Atlanta, Milwaukee e Filadélfia.

No caso de Chicago, a região sul da cidade é praticamente dominada por pontos negros, enquanto o centro é predominantemente branco. Em alguns bairros, como Englewood, 97,5% são negros.

A separação tem início nas primeiras décadas do século 20, quando famílias negras migraram dos Estados do sul para os do norte, e, em Chicago, foram empurradas pelos valores dos imóveis para o chamado "Cinturão Negro".

"Hoje, o que a segregação racial e econômica faz é tirar a chance de oportunidades iguais de educação e emprego. Onde você mora influencia 100% na sua possibilidade de acesso", diz Stephanie Schmitz Bechteler, vice-presidente da organização Chicago Urban League.

A disparidade de pobreza entre brancos (14,7%) e negros (33,6%) na cidade evidencia o impacto da segregação por bairros. "O problema não é que brancos e negros não vivam nos mesmos bairros; é a disparidade entre as áreas negras e brancas", afirma Carl Nightingale, autor de "Segregation: A World History of Divided Cities" (Segregação: Uma História Mundial de Cidades Divididas).

Segundo o especialista, essa realidade pode começar a mudar se houver uma intenção de investir em comércio e infraestrutura nas áreas negras e pobres. "Mas, tendo em vista que muitas empresas privadas não veem isso como algo lucrativo, provavelmente teria de haver incentivo do governo e um planejamento dirigido pelo bairro", diz.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.