Paquistão veta cobertura do Dia dos Namorados no país

Decisão é novo embate entre tradicionalismo islâmico e valores ocidentais

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Vendedores infla balões com formato de coração para oferecer a clientes em Islamabad, no Paquistão
Vendedores infla balões com formato de coração para oferecer a clientes em Islamabad, no Paquistão - Faisal Mahmood - 8.fev.2018/Reuters
São Paulo

Em mais um round do seu infindável embate entre tradicionalismo islâmico e valores ocidentais, o Paquistão decidiu proibir emissoras de TV, de rádio e mídia impressa de fazerem cobertura sobre o Dia dos Namorados.

Em sua versão fora do Brasil, a data é o dia de São Valentim, 14 de fevereiro. A Autoridade Regulatória de Mídia Eletrônica do Paquistão emitiu um aviso geral banindo notícias sobre o evento, incluído veículos impressos, nesta quarta (7). O órgão diz seguir um entendimento da Corte Superior de Islamabad.

A decisão do ano passado, que ainda não teve um julgamento final, veio em resposta ao protesto de um cidadão chamado Abdul  Wahid contra a data —considerada por ele não islâmica e promotora de "indecência e nudez".

A primeira parte da queixa é recorrente entre muçulmanos mais ortodoxos, influentes na sociedade paquistanesa —um país 96,4% aderente ao islã. O próprio presidente, Mamnoon  Hussain, disse que o Dia dos Namorados obedecia a "valores ocidentais".

Para complicar, o dia comemora o martírio de um santo cristão, Valentim de Roma. No século 3º, conta a lenda (sua hagiografia é contestada), ele teria sido morto por promover o amor ao oficiar casamentos de cristãos, o que era proibido.

O governo decidiu abraçar o veto judicial provisório.

A data movimenta o comércio paquistanês, com cartões, flores e toda forma de coraçõezinhos presentes em lojas das grandes cidades.

Jornalistas paquistaneses ironizaram a decisão na internet. Shaukat Ahmed, de Lahore (na província de Punjab), escreveu em uma rede social que "poderiam impedir que a mídia veiculasse notícias positivas sobre os extremistas", em referência ao tratamento de heróis dado em boa parte da imprensa a grupos terroristas que atuam contra a Índia.

Não é a primeira data ocidental a alimentar controvérsia no Paquistão. No ano passado, houve um boicote promovido em redes sociais contra a Black Friday, dia de pechinchas após a celebração americana de Ação de Graças (em novembro) que "pegou" no mundo todo.

Em troca, lojistas passaram a oferecer a Green Friday, sendo o verde a cor do islã.

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