Italianos vão às urnas, e Berlusconi é alvo de protesto feminista

Expectativa é de que nenhum partido consiga a maioria de 40% dos assentos para formar um governo

Roma

Em uma jornada eleitoral carregada de ansiedade, 56,9% dos italianos já tinham votado às 19h locais (às 15h em Brasília), em comparação com os 46,8% do mesmo período no pleito de 2013.

Um deles foi o ex-premiê Silvio Berlusconi, que vive neste ano sua ressurreição política após acusações de corrupção, relações com a máfia e orgias com uma prostituta menor de idade. 

Uma ativista feminista subiu na mesa da zona eleitoral em que Berlusconi votava em Milão e despiu os seios diante dele gritando “você está acabado!”. “Acabou o meu tempo? Sim, efetivamente tinha terminado a fila”, ele comentou depois, sorrindo.

Encerrando uma campanha anedótica, este dia se estende madrugada adentro: abertas às 7h, as urnas serão fechadas às 23h (das 3h às 19h em Brasília) e apenas depois disso é que os primeiros resultados começarão a ser finalmente divulgados.

A expectativa é de que nenhum partido consiga a maioria de 40% dos assentos para formar um governo, o que significa que terão de negociar durante os próximos dias, semanas e meses. Alianças insólitas podem ter de ser travadas, como aquela entre a centro-direita e sua rival de centro-esquerda. É possível que um partido antissistema se una com a direita nacionalista.

Quando os resultados forem enfim confirmados, algo que pode acontecer apenas na tarde de segunda-feira (5), caberá ao presidente Sergio Mattarella incumbir algum dos candidatos de tentar formar um governo. Ele terá bastante autonomia nessa decisão, e não será obrigado a escolher o partido mais votado.

A alternativa provável é que Mattarella entregue a missão à coalizão de direita liderada pelo ex-premiê Silvio Berlusconi. Somados, os partidos —incluindo a ultranacionalista Liga— têm 37,5% dos votos, segundo a estimativa Termômetro Político.

A sigla mais votada individualmente deve ser, no entanto, o antissistema Movimento 5 Estrelas, com 26,3%. Seu fundador, Beppe Grillo, votou sem fazer nenhuma declaração à imprensa e saiu ouvindo canções de Lou Reed, segundo o diário “La Repubblica”.

O governista Partido Democrático, de centro-esquerda, deve ter só 21,3%.  O partido é liderado pelo ex-premiê Matteo Renzi, em momento de baixa popularidade. Ele chegou a pé ao colégio.

A pesquisa foi realizada com 4.500 pessoas de 12 a 16 de fevereiro, e sua margem de erro não foi divulgada. Por lei, é proibido publicar sondagens a menos de 15 dias das eleições.

O líder do Movimento 5 Estrelas, Luigi Di Maio, em colégio eleitoral em Pomigliano d'Arco, próximo a Nápoles - Ciro De Luca/Reuters

Uma das opções da aliança de Berlusconi é se aliar ao Partido Democrático em uma grande coalizão. Berlusconi não pode ser premiê, porque foi condenado por fraude fiscal, e se espera que seu eventual governo seja liderado pelo atual presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajaniuma boa notícia a quem se preocupa com o futuro desse bloco, diante do avanço dos populismos.

Uma alternativa seria uma aliança entre o 5 Estrelas e a Liga, no que a sigla nacionalista teria de desfazer sua aliança com Berlusconi. Seria um cenário esdrúxulo, mas agora possível.

Ambas as opções de governo são instáveis e significam que o Parlamento terá dificuldades em aprovar leis, em um país que deve crescer 1,5% neste ano e tem uma dívida de 135% de seu PIB.

No caso de nenhuma aliança funcionar, os italianos terão de voltar às urnas —é o mesmo impasse que a Alemanha viveu nos últimos meses, desde as eleições de setembro. Apenas neste domingo a coalizão entre os grandes partidos foi aprovada, e o governo deve ser criado nas próximas semanas.

LEI ELEITORAL

As primeiras horas das eleições foram marcadas, em Roma, pela normalidade de mais um dia com as ruas tomadas pelos turistas, abarrotando ruelas e cantinas. Um chuvisco no fim da tarde afugentou os eleitores mais tardios. A empresa de transporte Uber ofereceu corridas de graça para quem estivesse a caminho do voto.

Mas houve uma série de imprevistos nas zonas eleitorais, incluindo uma delas que precisou convocar eleitores para votar novamente depois de as cédulas serem desconsideradas —tinham sido depositadas sem a presença do supervisor do colégio. Em outras regiões do país houve atrasos na abertura e falhas no registro dos eleitores.  Onde eleitores depararam com filas, decidiram voltar mais tarde, em um país em que eles têm 16h para ir às urnas. O voto é facultativo.

Esta é a primeira vez em que a Itália vota com sua nova lei eleitoral, uma mistura entre o sistema majoritário com o proporcional. Um terço dos assentos da Câmara e do Senado será ocupado de maneira majoritária, ou seja, pelo candidato que tiver o maior número de votos em sua circunscrição. Os dois terços restantes serão entregues às listas eleitorais proporcionalmente ao resultado nacional. É um modelo ainda não testado no país e que confunde os eleitores, levando a erros no preenchimento das cédulas em diversos dos colégios.

Italianos elegem nestas eleições 630 deputados e 315 senadores, em um sistema parlamentar em que ambas as Casas têm o mesmo peso. Há 46 milhões de eleitores na Itália, um país de 60 milhões de habitantes.Mais de 4 milhões de eleitores no exterior puderam votar para representantes de suas circunscrições, incluindo os 400 mil italianos que residem no Brasil. Os votos tinham de chegar aos consulados por correio até o dia 1° para serem computados.  

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