Economia morna e desgaste com UE pautam escolha partidária

Itália deve crescer 1,5% neste ano, e o país acumula dívidas; desemprego é estimado em 11%

Roma

Camilla e Edoardo enxergam um mesmo problema na Itália.

Ela, 23, diz que “não existe perspectiva para os jovens italianos” e que “é difícil lidar com esse desconforto”.

Já ele, 26, afirma que “não temos nada, não temos emprego e não conseguimos nem sustentar nossas famílias”.

A despeito das semelhanças, esses dois eleitores —que não dizem o sobrenome— chegaram a duas conclusões distintas para as eleições deste domingo (4) no que diz respeito ao voto. Camilla boicotará o pleito, enquanto Edoardo vai escolher a extrema-direita.

Apesar de a migração ter dominado o debate político nos últimos meses, é o tema clássico —a economia— que deve determinar o resultado dessa corrida, afirma à reportagem o cientista social Leonardo Morlino, da Universidade Guido Carli.

Em especial, importa a má forma daquela: o desempenho insatisfatório do país castiga o governista Partido Democrático, de centro-esquerda, representado pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas.

A economia da Itália deve crescer 1,5% neste ano, e o país segue acumulando dívidas, já devendo 135% de seu PIB. O desemprego é estimado em 11%, mas chega a 33% no segmento dos cidadãos com menos de 25 anos.

Essa situação contribui para o crescimento de partidos de protesto, como o 5 Estrelas, criado quase que como piada por um comediante, e líder nas sondagens —ao menos individualmente.

Também se beneficiam as forças nacionalistas, como a Liga, um dos polos de uma coalizão de centro-direita que os levantamentos dizem ser o bloco mais forte.

A Liga elegeu a integração da Itália na União Europeia como a responsável pela morosidade econômica do país e propôs no passado abandonar o euro. O neófito 5 Estrelas já discutiu exatamente a mesma solução, assustando a vizinhança.

A ideia seduz os eleitores prejudicados, nas últimas décadas, pela competitividade minguante da indústria italiana, ameaçada por produtos mais baratos vindos de outros mercados. 

Em fevereiro, a empresa brasileira Embraco decidiu transferir sua fábrica da Itália para a Eslováquia, eliminando quase 500 empregos.

“Os governos anteriores defendiam apenas o interesse europeu”, afirma Edoardo. “Agora, queremos o ‘Italy first’.”

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.