Eficácia do ataque na Síria é alvo de polêmica entre Ocidente e Rússia

Russos falam em 70% de mísseis derrubados; EUA não apresentam provas de armas químicas nos alvos

São Paulo

Além da inexistência de verificação independente de que Bashar al-Assad conduziu o ataque químico que justificou a operação liderada pelos EUA na sexta (13), a própria eficácia militar do bombardeio é alvo de polêmica entre Ocidente a Rússia.

O Pentágono afirmou que 105 mísseis e bombas usados por forças americanas, britânicas e francesas atingiram seus objetivos. Já a Rússia, patrona de Assad, e o governo sírio afirmam que 70% de 103 mísseis lançados foram interceptados.

Como tanto americanos como russos foram enfáticos em dizer que os sofisticados sistemas antiaéreos que Moscou opera nas suas duas bases na Síria desde 2015 não foram empregados, a verdade tende a estar mais do lado ocidental.

Isso porque Assad tem à sua disposição sistemas mais antigos fornecidos pela então União Soviética, como o S-200 e o Buk, menos eficientes do que os modernos S-300 e S-400 que as forças de Vladimir Putin operam.

Além disso, recentemente Israel bombardeou boa parte da infraestrutura de defesa antiaérea síria.

“Estou confiante de que os alvos foram destruídos e a defesa aérea síria, ineficiente”, disse o general Kenneth McKenzie, do Estado-Maior Conjunto americano.

Ele disse que os sírios atiraram 40 mísseis terra-ar, mas depois que os alvos já haviam sido destruídos e sem risco a aviões ocidentais. Não há relatos, disse, de vítimas. Os sírios falam em três civis feridos.

Ele apresentou fotos de satélite que mostram o que seria a destruição dos três alvos, todos supostamente ligados ao programa de armas químicas que o Ocidente acusa Assad de ter.

OS ALVOS

Foram bombardeados um centro de pesquisa em Damasco e dois depósitos, um deles subterrâneo, em Homs.

Confrontada por repórteres se havia provas de que as instalações realmente tinham armas químicas, a porta-voz do Pentágono, Dana White, apenas disse que “confiava na inteligência” disponível sobre os locais.

Além disso, o jornal The New York Times afirmou que integrantes do Departamento de Defesa disseram que talvez Assad tenha retido parte de seu suposto arsenal químico, parte admissão de fracasso, parte abertura para ações à frente

A falta de confiabilidade nos relatos de lado a lado deverá pautar o tom do debate entre Ocidente e Rússia daqui em diante.

Mas ficou evidente, na operação, o cuidado dos EUA e aliados em não atingir nenhum dos cerca de 5.000 soldados russos que apoiam Assad em sua guerra civil desde 2015.

Moscou havia dito que qualquer baixa seria respondida, e enviou os cerca de 15 navios que tem estacionados no porto sírio de Tartus.

Com isso, além de protegê-los de uma posição fixa exposta, garantia o risco de contra-atacar.

Os russos também foram insistentes em dizer que seus sistemas antiaéreos não foram acionados. É um xadrez complexo, mas mostra que ninguém procura uma escalada direta entre as duas maiores potências nucleares do mundo.

O homólogo de McKenzie na Rússia, o general Serguei Rudskoi, afirmou também em entrevista coletiva em Moscou que 71 dos mísseis haviam sido disparados teriam sido atingidos pela defesa síria.

Se isso fosse verdade, seria uma derrota sem precedentes para o padrão de ataque aéreo adotado pelos EUA e seus aliados desde o fim da Guerra Fria. Mas parece altamente improvável.

Rudskoi também afirmou que o sistema S-300, que atinge alvos a até 300 km de distância, poderá ser fornecido a Assad.

O ditador tentou receber a arma no começo da guerra civil, em 2011, mas a pressão ocidental sobre Moscou foi bem-sucedida para evitar a entrega.

AS ARMAS

Segundo o Pentágono, a maior parte do ataque ocorreu com o uso de mísseis de cruzeiro Tomahawk, que voam a baixa altitude e velocidades subsônicas, usando GPS para se guiar pelo terreno e atingir o alvo com precisão.

Desde a primeira Guerra do Golfo, em 1991, eles simbolizam o modo americano de conduzir guerras à distância.

Segundo o Pentágono, as armas foram disparadas de navios americanos no Mediterrâneo oriental e também do Mar Vermelho.

Os americanos também usaram mísseis de cruzeiro AGM-158 JASSM, lançados no ar por dois bombardeiros B1B Lancer oriundos da base americana Al Udeid, no Catar.

Um número indeterminado de caças, provavelmente os avançados e furtivos F-22, também participou pelo lado dos EUA.

Já os britânicos lançaram mísseis de cruzeiro Storm Shadow a partir de quatro aviões de ataque a solo Tornado, baseados em sua base em Chipre.

Os franceses dispararam 12 mísseis Scalp, nome de sua versão do Storm Shadow, de caças Rafale e Mirage que voaram a partir de bases francesas perto da costa mediterrânea.

Além disso, a moderna fragata Aquitaine disparou uma versão marítima do Scalp das proximidades de Chipre.

Um número não divulgado de aviões de reabastecimento e de vigilância eletrônica participou da operação.

Dado o alcance dos mísseis empregados, nenhuma das aeronaves ocidentais teve de entrar em espaço aéreo sírio e se expor a fogo de defesa. 

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