Sem acordo para formar governo, Itália pode ter de voltar às urnas

Partidos chamados por presidente não chegam a consenso; negociações devem levar semanas

De terno e gravata azul, Luigi Di Maio passa à esquerda de um guarda presidencial italiano que bate continência na porta de um dos salões do palácio
O líder do Movimento Cinco Estrelas, Luigi Di Maio, deixa o palácio presidencial após encontro com o presidente Sergio Mattarella - Alessandro Bianchi/Reuters
Diogo Bercito
Madri

Um mês depois de uma eleição que não desenhou maioria parlamentar clara, representantes dos principais partidos da Itália se reuniram nesta semana com o presidente, Sergio Mattarella, para discutir os possíveis governos a serem formados.

Mas as condições estabelecidas pelas siglas, com variados vetos e exigências, impossibilitam por enquanto qualquer aliança —o que significa que o país poderá voltar às urnas ainda neste ano.

Após a primeira rodada de negociações, Mattarella anunciou nesta quinta-feira (5) que não houve progresso e que as discussões seriam prolongadas por pelo menos mais uma semana.

O partido mais votado em março foi o 5 Estrelas, com uma plataforma contrária ao sistema político tradicional. Ele recebeu 32,7% dos votos à Câmara, quando eram necessários 40% para poder governar a sós, segundo as regras eleitorais italianas.

Seu líder, Luigi Di Maio, tem agora duas opções se quiser de fato governar: pode se aliar à coalizão de direita formada pela Liga e pela Força Itália (somados, 37% dos votos) ou travar um pacto com o Partido Democrático, de centro-esquerda (escolhido por 18,7% dos eleitores).

Mas Di Maio, em encontro com Mattarella nesta quinta, lançou duas condições para essas alianças.

No caso da coalizão de direita, ele só está disposto a governar ao lado da Liga, rejeitando a Força Itália do ex-premiê Silvio Berlusconi. Isso significa que seu governo só funcionaria caso os dois partidos de direita rompessem seus laços históricos.

"A Liga precisa escolher de que lado está: se quer ajudar o 5 Estrelas a mudar o país, ou se quer continuar ancorada ao passado e a Berlusconi", escreveu Di Maio no blog de seu partido.

CIAO, RENZI

Quanto ao Partido Democrático, Di Maio diz que só formará um governo se ele não incluir o ex-premiê democrata Matteo Renzi. Mas a legenda de centro-esquerda não demonstra interesse nisso.

Complicando o cenário, o Partido Democrático recusa de antemão formar um governo com Di Maio ou com a Liga. A derrota nas eleições de março foi traumática para a agremiação, e sua liderança considera que cerrar fileiras com um partido contrário ao sistema político tradicional —como o 5 Estrelas— afugentaria de vez sua base.

Para além das condições e dos vetos impostos pelos partidos, os governos matematicamente possíveis são inusitados para a Itália, do ponto de vista ideológico.

A aliança entre 5 Estrelas e Liga, por exemplo, colocaria em um mesmo governo um movimento crítico ao sistema político e uma força nacionalista e separatista.

Suas propostas econômicas tampouco funcionam bem juntas. O 5 Estrelas quer instituir um salário universal a todos os desempregados, enquanto a Liga quer reduzir o imposto de renda.

A Itália, cuja economia deve crescer apenas 1,5% neste ano, já tem uma dívida equivalente a 135% de seu PIB (Produto Interno Bruto).

Não há um prazo para a formação do governo, e a expectativa é de que o processo leve semanas —a média italiana é de 51 dias após as eleições.

Enquanto isso, o país segue sob o comando do primeiro-ministro Paolo Gentiloni, da centro-esquerda.

É improvável que, no caso de um impasse entre os partidos, uma nova eleição seja realizada antes de outubro.

A repetição do pleito não é um cenário desejável para nenhuma das forças, já que a expectativa é a de que o resultado se repita, como aconteceu na Espanha, que votou em 2015 e em 2016, mantendo o empate.

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