Aliado de Uribe vai enfrentar ex-guerrilheiro no 2º turno na Colômbia

Direitista Iván Duque teve 39,1% dos votos, contra 25,1% do esquerdista Gustavo Petro

Sylvia Colombo
Bogotá

Haverá segundo turno nas eleições para presidente da Colômbia, entre o direitista Iván Duque (Centro Democrático), afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, e o esquerdista Gustavo Petro (Colômbia Humana).

Com 99,9% dos votos contabilizados, Duque liderava com 39,1%, contra 25,1% de Petro. Segundo o CNE, a tendência já era irreversível. Eles se enfrentarão novamente agora no próximo dia 17 de junho.

A votação do domingo (27) foi muito maior do que a do primeiro turno de 2014. Num país em que a abstenção costuma ser alta (o voto não é obrigatório), 53% dos eleitores saíram de casa para votar. 

A votação do centro-esquerdista Sergio Fajardo foi a surpresa da eleição. Enquanto as pesquisas lhe davam ao redor de 16%, o ex-prefeito de Medellín e ex-governador de Antioquia ficou com 23,8%, apenas um pouco atrás de Petro, ainda que insuficiente para ir ao segundo turno. Em Bogotá e em Medellín, triunfou Fajardo.

 
Iván Duque, mais votado no primeiro turno na Colômbia, fala em Bogotá
Iván Duque, mais votado no primeiro turno na Colômbia, fala em Bogotá - Luis Acosta/AFP

Fajardo triunfou em Bogotá, e foi o primeiro a discursar na cidade, após a divulgação dos resultados.

“Parabenizo Duque e Petro e lhes peço que não coloquem em risco o caminho que este país escolheu de viver em paz. Cuidem da paz”, pediu ele, que evitou dizer quem apoiará no segundo turno.

Segundo pesquisa do instituto YanHaas para a RCN TV, , Duque sai como favorito, com 56% das intenções de voto, contra 31% de Petro.

Em seu discurso de vitória, em seu comitê de campanha, o advogado e ex-senador Iván Duque, 41, disse estar “emocionado com o triunfo de uma nova geração” e que queria representar principalmente “essa Colômbia em que 73% dos habitantes têm menos de 45 anos, estão cheios de ideias novas e de vontade de transformar o país. Não governarei com o espelho retrovisor e nem para apenas um setor da sociedade.”

Duque também elogiou Fajardo e disse que levaria adiante sua bandeira de defesa da educação, já acenando aos eleitores do terceiro colocado.

Entre seus agradecimentos, Duque mencionou principalmente os partidos Conservador e os ex-presidentes direitistas Andrés Pastrana (1998-2002) e Álvaro Uribe (2002-2010).

Quando pronunciou o nome do padrinho, foi interrompido por um coro de “Uribe, Uribe” sob muito aplausos, num momento em que uma câmera trazia a imagem do ex-presidente em seu comitê, em Medellín.

A Petro, Duque pediu uma “confrontação de ideias de alto nível, em que a esperança esteja acima do ódio de classes”, fazendo referência à personalidade algo divisiva do rival. No momento em que mencionou Petro, houve uma enorme vaia no recinto.

Duque não mencionou aspectos de seu programa, mas durante a campanha defendeu uma política econômica liberal. Já em questões de direitos civis, é mais conservador, mas tampouco levantou a hipótese de voltar atrás em legislações já existentes sobre casamento homossexual e adoção por casais gays. É, porém, contra o aborto. 

Apesar de ter participado da campanha pelo “não” ao acordo de paz com a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), vem deixando claro que não irá revogá-lo, mas sim que proporá mudanças, principalmente na questão da anistia a ex-guerrilheiros que entraram no Congresso ou que cometeram delitos relacionados ao narcotráfico.

O candidato de esquerda Gustavo Petro fala depois de votar em Bogotá
O candidato de esquerda Gustavo Petro fala depois de votar em Bogotá - Henry Romero/Reuters

Já em seu discurso, o esquerdista Gustavo Petro (Colômbia Humana), 58, que será o primeiro ex-guerrilheiro a disputar um segundo turno no país, disse que o resultado mostrou que distância entre ele e seu rival é menor do que o esperado. “Diziam que eu tinha um teto, mas parece que é ao contrário. Quem tem um teto é Duque. Nós vamos vencer.”

Petro também afirmou que o grande apoio dos eleitores e o fato de ter havido várias alternativas ideológicas no pleito mostram “o vigor e a diversidade da democracia colombiana. Essa diversidade é nossa maior riqueza.”

Petro declarou que lutará “pela classe média, pela proteção dos direitos dos trabalhadores e pela implementação com êxito do acordo de paz.”

“Outsider” desta disputa, Petro formou-se na guerrilha do M-19, que se desmobilizou nos anos 1990, foi senador (2006-2010) e prefeito de Bogotá (2012-2015). Durante a campanha pelo plebiscito da paz com as Farc, Petro apoiou o presidente Juan Manuel Santos em sua campanha pelo “sim”.

Ao final da jornada, Santos comemorou o fato de as eleições terem sido “um êxito”. “Foram as eleições mais tranquilas, mais seguras e mais transparentes dos últimos tempo, tivemos 300 observadores internacionais, que desenvolveram sua missão. E uma contagem rápida dos votos. Cumprimos o prometido.”

Uribe 

Uma reportagem publicada na sexta (25) pelo jornal americano The New York Times acusou o ex-presidente Uribe de ter ligação com o narcotráfico, o que ele negou neste domingo.  

Segundo a documentação apresentada pela publicação americana, uma correspondência diplomática recentemente liberada pelo Departamento de Estado dos EUA revelaria que, entre 1988 e 1995, Uribe teria tido contatos com Pablo Escobar (1949-1993) e outros líderes do cartel de Medellín e que a organização criminosa teria financiado suas campanhas ao Senado.

Após ter sido prefeito de Medellín, sua cidade-natal, nos anos 1980, Uribe ocupou o cargo de senador por dois mandatos (1986-1990) e (1990-1994).

O dinheiro recebido pelo cartel, segundo o jornal , teria servido a sua segunda campanha ao Senado. Uribe respondeu que “nunca recebeu dinheiro ilícito em suas campanhas” e pediu que estes documentos fossem entregues a seus advogados.

Se a acusação se confirmar, será mais uma que Uribe acumula. Na Justiça colombiana, estão parados processos contra ele referentes ao apoio oficial, quando era presidente, às milícias paramilitares que combateram as Farc.

Há ainda os casos dos “falsos positivos”, civis assassinados por paramilitares e apresentados como membros de guerrilhas, apenas para cumprir metas que eram pre-estabelecidas pelo comando das milícias, que respondiam a Uribe.

Por ora, porém, Uribe não pode ser julgado por nenhum desses casos, por ter foro privilegiado de senador, renovado na última eleição legislativa, em que foi o parlamentar mais votado no país. 


 

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