Descrição de chapéu refugiados

Governo Trump separa mães imigrantes ilegais de seus filhos na fronteira

Ao menos 700 crianças foram apartadas após serem apreendidas em família desde outubro

Quatro meninos se abraçam ao fundo, chorando. À frente deles um homem está com a cabeça baixa em frente a outro homem, que não aparece na imagem. Os seis estão em uma área de terra batida com mato perto de uma cerca, cuja parte de baixo é vista na foto.
Homens e crianças são capturados por agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA ao tentarem cruzar ilegalmente a divisa dos EUA perto de McAllen, no Texas - Adrees Latif - 2.mai.18/Reuters
Washington

Com uma prática de "tolerância zero" contra a entrada de imigrantes ilegais nos EUA, a administração de Donald Trump tem separado pais e mães de seus filhos nos presídios de imigração.

Desde outubro do ano passado, pelo menos 700 crianças foram apartadas dos responsáveis após serem apreendidas atravessando a fronteira em família, segundo o Departamento de Segurança Doméstica. Cerca de cem tinham menos de 4 anos.

Mas o número pode ser ainda maior: no último mês, os abrigos para crianças imigrantes receberam quase 2.000 delas, e estão 95% lotados.

"É uma maneira muito deliberada de deixar a vida do imigrante o mais difícil possível", diz o salvadorenho Abel Núñez, diretor da Carecen, que atende imigrantes latino-americanos em Washington.

Antes, sempre que possível, as famílias eram mantidas juntas em prisões e liberadas enquanto aguardavam a decisão sobre seus casos. Mas, com a política linha-dura de Trump para o tratamento do crime de travessia ilegal, os adultos têm sido denunciados imediatamente e encaminhados a presídios enquanto aguardam julgamento —assim, são separados dos filhos, que não podem ficar nos estabelecimentos e vão para abrigos.

Atualmente, há 10.852 crianças imigrantes sob a guarda do governo. Mas a administração não informa quantas delas foram separadas dos pais: boa parte atravessa a fronteira sozinha, em especial adolescentes fugidos da violência na América Central, e é encaminhada aos abrigos.

O governo argumenta que a separação é fundamentada na lei e adotada em benefício da criança, para preservá-la do ambiente carcerário e para que se possa agir em caso de suspeita de tráfico de pessoas —quando o adulto é um atravessador, não um parente.

"Se você não quer que sua criança seja separada de você, então não a traga à fronteira ilegalmente", disse o secretário da Justiça, Jeff Sessions. "[Estamos cumprindo] o que requer a lei."

Mas advogados e ativistas reclamam da prática e recorreram à Justiça. "A lei é a mesma há muitos anos, mas nunca antes houve tantos casos de crianças separadas dos pais", diz à Folha o advogado Spencer Amdur, da ACLU (American Civil Liberties Union), responsável por ação coletiva em andamento na Justiça federal.

O processo compila oito casos de mães e pais afastados de seus filhos entre agosto de 2017 e abril deste ano. Um dos exemplos é de uma brasileira que buscava asilo com o filho de 14 anos.

Ela foi presa na fronteira em agosto de 2017 e, apesar do pedido de asilo, foi processada por entrar no país ilegalmente. Encaminhada a um presídio, teve que ser separada do adolescente, hoje em um abrigo em Chicago.

Hoje, condenada e já com a pena de 25 dias cumprida, ela aguarda a definição sobre seu caso em liberdade —mas continua longe do filho. "Estou desesperada", afirmou, em um documento enviado à Justiça. "Ele é só um menino num país estranho, e sozinho."

Uma das mães teve seu bebê de um ano de idade levado a um abrigo. "Eu não sinto vontade nem de comer", disse a hondurenha à Justiça.

Nesta semana, o próprio presidente se declarou contrário à prática. Trump afirmou que uma "lei horrível separa as crianças de seus pais depois que eles atravessam a fronteira" e atribuiu a falha de legislação aos democratas.

"Não fomos nós que criamos essa política. Mas, ao contrário de administrações passadas, nós aplicamos a lei", disse a porta-voz Sarah Sanders.

O governo nega que separar famílias seja uma estratégia para inibir imigrantes. Mas, no passado, autoridades já afirmaram que viam na prática uma possibilidade de afugentar o fluxo na fronteira, que vem crescendo.

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