Bispos chilenos pedem demissão por escândalo de pedofilia

Cúpula da igreja no país é acusada pelo Vaticano de ter negligenciado denúncias

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O papa Francisco recebe no Vaticano o bispo Juan Barros, acusado de acobertar casos de pedofilia, durante encontro entre o pontífice e a cúpula da igreja no Chile
O papa Francisco recebe no Vaticano o bispo Juan Barros, acusado de acobertar casos de pedofilia, durante encontro entre o pontífice e a cúpula da igreja no Chile - CTV/Associated Press
Buenos Aires | Reuters e Associated Press

Após promover um encontro com as principais vítimas de abusos sexuais por parte de religiosos chilenos e depois com 34 bispos deste país, o papa Francisco recebeu nesta sexta-feira (18) o pedido de renúncia de toda a delegação. É a primeira vez que acontece uma renúncia coletiva na história da Igreja Católica.

Os escândalos de pedofilia no Chile ganharam projeção durante a visita do papa ao país, em janeiro. Na época, um grupo de vítimas insistiu em se reunir com o pontífice para entregar-lhe provas dos abusos, mas o papa se recusou a recebê-los por acreditar na inocência dos religiosos.

Depois, porém, o papa reconheceu ter cometido “graves erros de avaliação” sobre caso, desculpando-se e chamou as vítimas a Roma. 

O principal acusado é o bispo de Osorno, Juan Barros, um dos que renunciaram. Ele teria acobertado atos de pedofilia cometidos pelo padre Fernando Karadima nas décadas de 1970 e 1980. O sacerdote foi condenado em 2011 por abusar sexualmente de adolescentes. 

Em um comunicado, os bispos afirmaram que continuarão em suas funções até que o papa tome uma decisão. 

Também pedem desculpas “pela dor causada às vítimas, ao papa, aos povos de Deus e ao país” e elogiam as vítimas por sua “valentia e perseverança em busca da verdade”.

“Estes dias de diálogo com o papa foram importantes para que todos refletissem sobre uma mudança que é necessária”, diz ainda o comunicado. 

A vítima que liderou as acusações, Juan Carlos Cruz, que hoje vive nos EUA, falou sobre o fato nas redes sociais. “Todos os bispos renunciaram. Inédito e bom. Isso muda as coisas para sempre.”

Na última segunda (14), o papa havia se reunido, no Vaticano, com os 34 bispos para analisar as denúncias de “abuso de poder e sexuais”.

Francisco também apresentou o resultado de um informe realizado no país sul-americano por um enviado do Vaticano, o arcebispo Charles Scicluna. Após a leitura, o papa pediu que todos refletissem e orassem.

Citando o informe de seu enviado, o papa Francisco atribui ao caso a disseminação do delito de abusos de menores.

Isso, segundo a interpretação do pontífice, estaria por trás do fato de o Chile vir se transformando, nos últimos tempos, no país mais laico da região, depois do Uruguai, e estaria causando o afastamento de fiéis da Igreja Católica.

Esse distanciamento dos fiéis ficou evidente durante a visita de Francisco quando houve episódios violentos, como a queima de igrejas. 

À imprensa italiana Fernando Ramos, bispo auxiliar de Santiago, disse que o relatório causou “imenso espanto e grande preocupação” devido à “extensão e à quantidade dos delitos apontados”. 

E acrescentou: “o texto lido pelo papa indica com claridade uma série de fatos absolutamente reprováveis que ocorreram dentro da igreja chilena, quando foi usado de modo inaceitável o poder dos religiosos, que abusaram sexualmente de pessoas que estavam sob nossa proteção”.

Os 34 bispos depois se expressaram individualmente diante do papa antes de entregarem sua renúncia.

No Brasil, existem hoje 321 bispos.

 
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