Medo afeta o discurso numa Turquia sem imprensa livre

País viveu guinada autoritária nesta última década, em especial após tentativa de golpe

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Simpatizantes do presidente Recep Tayyip Erdogan posam com retrato dele em feira de Istambul 
Simpatizantes do presidente Recep Tayyip Erdogan posam com retrato dele em feira de Istambul  - Diogo Bercito/Folhapress
Istambul

A economia turca passa por maus bocados, uma situação preocupante o suficiente para levar o presidente Recep Tayyip Erdogan a antecipar as eleições em mais de um ano: o pleito deste domingo (24) estava previsto somente para novembro de 2019.

Daí a surpresa de ouvir de mercadores no bazar de Esmirna, na costa mediterrânea, que está tudo bem no país, obrigado. Crise, que crise? Os comerciantes negavam mesmo a escalada dos preços, algo bastante concreto. Como escrevi em uma reportagem recente, o quilo da cebola custa hoje R$ 5, três vezes mais do que há um ano.

Uma das razões para esse descompasso entre realidade e discurso, quando os turcos conversam com um repórter, é o medo. O país viveu uma guinada autoritária nesta última década, em especial depois da tentativa frustrada de golpe militar em julho de 2016. O governo de Erdogan deteve 140 mil pessoas em um duro e criticado expurgo —às vezes, a partir de acusações vagas como “apoiar o golpe”.

Outra possível explicação é a falta de imprensa livre. Sete dos dez jornais mais lidos no país são controlados pelo governo ou por seus aliados. Como me disse uma turca nestes dias, parte da população ainda não ouviu que está caminhando rumo a um precipício econômico.

Ainda assim, entre repressão e desinformação, não são tão raros os dissidentes e os desbocados —uma multidão de descontentes se reuniu em Istambul no último sábado (23) para um gigante comício do candidato de oposição.

Em uma feira de rua, um turco me disse sem medo o que pensa do atual governo. Comparou o presidente Erdogan ao líder nazista Adolf Hitler e, diante do meu espanto por sua sinceridade, explicou: “Já sou velho. Vão fazer o que, me prender? Que me prendam”. Depois, seguiu o seu caminho com uma risadinha. 
 

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