Monitoramento constante de vulcão evita tragédia no Havaí

Cientistas acompanham diversos sinais em tempo real para prever erupções do Kilauea

Lava em cores amarelo e laranja sai de cratera à direita da imagem e forma um rio cinza-alaranjado à esquerda entre pedras de cor preta. Sai fumaça branca da cratera.
Lava jorra de fissura do vulcão Kilauea perto de Pahoa, na ilha grande do Havaí, durante erupção nesta terça-feira (5) - Serviço Geológico dos Estados Unidos - 5.jun.18/Associated Press
São Paulo

Impressiona a eficiência com que os EUA têm lidado com a erupção do Kilauea, o vulcão mais jovem do arquipélago do Havaí. Não é sorte nem acaso, mas ciência: o USGS (Serviço Geológico dos EUA) mantém monitoramento constante da situação, com todo equipamento possível.

Embora não seja fácil nem 100% seguro, ao menos com o Kilauea funciona bem.

"Ele não é um vulcão explosivo, e lavas não são perigosas porque dão tempo para sair de perto", disse à Folha Rosaly Lopes, pesquisadora do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa que já visitou vulcões em todos os continentes e explorou vulcanismo na lua Io (em Júpiter). Quando a Folha a contatou, ela estava no Havaí e acompanhava o Kilauea.

Uma aula rápida de geologia: a Terra tem crosta resfriada, mas seu interior ainda é bastante quente, e a parte inferior da crosta, em contato com o manto, é tão quente que ali a rocha se apresenta em estado pastoso. É o magma, mantido sob pressão imensa.

A camada superior da crosta não é uma bola íntegra, mas a junção de várias placas que se deslocam lentamente como balsas, levando os continentes nessa dança. Nas divisas entre as placas, há mais facilidade para que a pressão do interior quente e pastoso encontre caminho à superfície.

Por isso, essas regiões costumam coincidir com a localização dos vulcões, a válvula da pressão interna do planeta.

A ciência já progrediu o suficiente para permitir, com monitoramento adequado, predições a respeito de erupções.

"Há muitos métodos capazes de prever uma erupção, conforme o vulcão. Os sismógrafos são muito úteis, mas também usamos inclinômetros, que revelam quando o vulcão 'incha', significando que mais magma está vindo à superfície. Eles não entram em erupção sem aviso."

Ainda assim, é muito mais fácil identificar que ele está pronto para uma erupção do que saber exatamente quando será a erupção, diz Lopes.

E a informação não basta. É preciso levá-la às autoridades de defesa civil para que planos de remoção e mitigação sejam postos em prática.

O Programa de Perigos Vulcânicos do USGS faz esse monitoramento constante com instrumentos, observação remota e cientistas no local, quando a situação exige. Boletins regulares são emitidos, e alertas codificados indicam o nível de perigo. Outro componente essencial é a educação: quem vive perto de vulcões precisa saber dos riscos e agir apropriadamente.

Há sistemas similares, nem todos tão bem equipados, no mundo todo, e a ONU mantém um Sistema Global de Coordenação e Alerta de Desastres.

Contudo, não são só o nível de alerta e o treinamento da população que ajudam a conter uma catástrofe. O posicionamento dos focos habitados em relação ao vulcão e o temperamento dele pesam.

Tome-se a Guatemala, atualmente castigada pelo Vulcão de Fogo. "É um vulcão muito explosivo, que solta fluxos piroclásticos [ejeções violentas de rochas vulcânicas pelo ar] muito perigosos", explica Lopes. "Diferente do Kilauea."

Por isso, catástrofes ainda ocorrem. Faz lembrar Pompeia, cidade italiana da Antiguidade destruída num piscar de olhos por uma erupção.

Pode ocorrer de novo? Sim, diz Lopes. "Inclusive o Vesúvio é muito bem monitorado."

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