Em carta, arcebispo acusa Francisco de acobertar casos de abuso sexual desde 2013

Carlo Maria Viganò disse que o pontífice foi informado de escândalos e de um dossiê sobre eles

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O cardeal Theodore McCarrick durante uma cerimônia em South Bend, em Indianápolis - Robert Franklin - 4.mar.2015/Associated Press
São Paulo | Associated Press e The New York Times

Em um dos mais diretos ataques contra seu pontificado, o papa Francisco foi acusado por um arcebispo de ter acobertado acusações de abuso sexual atribuídas a um ex-cardeal norte-americano de 2013 para cá.

O autor da acusação, o italiano Carlo Maria Viganò, pediu a renúncia do pontífice.

A polêmica ocorreu no último dia da visita do papa à Irlanda, país de maioria católica no qual a igreja vive uma grave crise ética por diversas acusações de abusos por parte de religiosos.

No sábado (25), Francisco havia pedido perdão por crimes passados da igreja. Neste domingo (26), comandou uma missa que o Vaticano disse ter 300 mil fiéis, enquanto houve protestos contra a igreja devido a abusos e também a um caso envolvendo mortes de bebês num orfanato.

No avião de volta à Itália, o papa disse que não "falaria uma palavra" sobre a acusação de Viganò, da qual tinha conhecimento. Ela "fala por si só", disse, insinuando que ela se insere num contexto de ataque de conservadores como Viganò contra seu papado dito progressista.

O italiano falou por meio de uma carta de 11 páginas, divulgada neste domingo. Ele foi embaixador da Santa Sé nos Estados Unidos de 2011 até atingir 75 anos e se aposentar, em 2016.

A mais antiga publicação católica dos EUA, o jornal National Catholic Register, e o site LifeSiteNews publicaram a carta. Nela, Viganò também acusou de ignorar os crimes atribuídos a McCarrick dois ex-números dois do Vaticano sob João Paulo 2º e Bento 16.

Segundo o arcebispo, sua consciência o ordenou a revelar o caso. "A corrupção alcançou o topo da hierarquia da igreja", escreveu.

Viganò não apresenta provas. Já a culpa de McCarrick está estabelecida em pelo menos um caso de abuso sexual de menor apurado pela Arquidiocese de Nova York --há ao menos outros três episódios sendo investigados.

Com os escândalos, a visita do papa Francisco à Irlanda foi marcada por protestos. Em Tuam, no oeste irlandês, centenas pessoas marcharam falando em voz alta os nomes de cerca de 800 bebês que morreram em um orfanato administrado pela Igreja Católica e que foram enterrados em uma vala comum.

"Elizabeth Murphy, 4 meses; AnnieTyne, 3 meses; John Joseph Murphy, 10 meses", diziam os manifestantes ao lerem a relação de vítimas. Eles acenderam velas e colocaram centenas de pequenos sapatos em torno de um caixão infantil branco para homenagear as crianças.

Na capital, Dublin, centenas de pessoas protestaram ao lado do local onde funcionava a Magdalene Laundries (abrigos da Igreja para mães solteiras pobres, onde podiam morar e trabalhar).

Nesse abrigo, cerca de 10 mil mulheres e crianças foram obrigadas a fazer trabalhos forçados, sem pagamento, entre 1922 e 1996. Em torno de 220 ex-residentes que migraram para outros países se reuniram novamente pela primeira vez neste domingo (26), para lembrar os maus-tratos.

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