O número de pessoas que passam fome no mundo aumentou e 821 milhões de indivíduos estão subnutridos, devido principalmente à mudança climática e às guerras, diz um novo relatório da ONU.
O documento divulgado nesta terça-feira (11) aponta que a fome aumentou em quase toda a África e em parte da América do Sul em 2017 —ano base do estudo— e que a meta de erradicar o problema até 2030 está longe de ser alcançada.
Foi o terceiro aumento consecutivo no número de subnutridos no mundo após uma década de queda e o pior resultado em número absoluto desde 2009, quando 840 milhões de enfrentavam o problema. Em 2016, a estimativa era que 804 milhões de pessoas estivessem subnutridas.
No total, 10,9% da população mundial estava subnutrida em 2017, pior resultado desde 2013.
Para os autores do relatório, a subnutrição acontece quando a quantidade de comida que uma pessoa normalmente tem acesso não é suficiente para fornecer a quantidade de energia necessária para manter uma vida normal, ativa e saudável.
O levantamento, a edição 2018 do Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, diz ainda que o número de pessoas obesas também cresceu, indo de 600 milhões em 2014 para 672 milhões no ano passado.
A editora do estudo, a economista Cindy Holleman, da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) disse à agência Reuters que a variação de temperatura no globo, secas prolongadas, grandes tempestades e mudanças de estações ter prejudicada a disponibilidade de comida.
“Por isso falamos que temos que agir imediatamente. Nossa preocupação é que isto não ficará melhor, só vai piorar”, afirmou ela.
Segundo a ONU, cerca de 124 milhões de pessoas em 51 países enfrentam níveis alarmantes de fome, causados por conflitos armados e por mudanças climáticas —caso do Brasil. Algumas dessas nações, como o Afeganistão, o Iêmen, a Somália e o Sudão do Sul, passam pelos dois problemas simultaneamente.
No Brasil, menos de 2,5% da população (o equivalente a 5,2 milhões de pessoas) tinham subnutrição entre 2015 e 2017, diz o relatório, produzido pela FAO, Fida (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), PMA (Programa Mundial de Alimentos) e OMS (Organização Mundial da Saúde).
O estudo também afirma que o aumento da fome na América do Sul se deve principalmente a queda no valor das commodities que a região exporta, em especial do petróleo. O relatório aponta que a situação é especialmente preocupante na Venezuela, onde em média 3,7 milhões de pessoas estavam subnutridas no período entre 2015 e 2017.
Neste mesmo período, 11,7% da população do país estava subnutrida, um aumento em relação ao outro período analisado, entre 2004 e 2006 —no restante da América do Sul, o número caiu.
O relatório não deixa claro como foi feito o cálculo para estabelecer a quantidade de subnutridos durante três anos. Como a Venezuela vive uma crise de desabastecimento e uma inflação que pode chegar a 1.000.000% segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), os números do estudo podem estar defasados.
Uma pesquisa feita pela Ucab (Universidade Católica Andrés Bello) também com dados de 2017 mostrou que 61% da população do país vive sob pobreza extrema. E 80% dos entrevistados afirmaram que tiveram que comer menos nos três meses anteriores porque não havia alimento suficiente.
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