Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Após polêmica sobre Israel, países islâmicos esperam 'consideração' de Bolsonaro

Embaixadores árabes lembram que Brasil sempre foi um 'mediador de conflitos', não 'parte do problema'

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O presidente eleito Jair Bolsonaro, ao sair do gabinete de transição em Brasília - Evaristo Sá/AFP
Brasília

Em meio à insatisfação de países árabes com a decisão de mudança da embaixada brasileira em Israel, a Organização para a Cooperação Islâmica pediu que o presidente eleito Jair Bolsonaro tenha "máxima consideração" com as nações muçulmanas.

A posição foi manifestada em memorando assinado nesta terça-feira (11) pelos embaixadores dos países que integram o grupo e que atuam no Brasil. Os representantes diplomáticos se reuniram nesta manhã na embaixada da Palestina, em Brasília.

"A Organização para Cooperação Islâmica está esperançosa de que o novo governo brasileiro, que emergiu ao poder por meio de um processo transparente e democrático, direcione a máxima atenção às relações do Brasil com o mundo árabe e continue pavimentando o caminho dessas relações", disse.

Fachada da embaixada brasileira em Tel Aviv, Israel - Jack Guez - 28.out.2018/AFP

O documento traduz as preocupações com as mudanças no rumo da política externa brasileira. Ele enfatiza "uma vez mais" a importância das relações entre o Brasil e países árabes, na qual destaca que "há espaço para fazer esse relacionamento crescer em todos os níveis e setores". 

"Os países muçulmanos aqui representados expressam sua ansiedade em trabalhar arduamente com o novo líder brasileiro para servir aos interesses de todas as partes em um espírito de cooperação e respeito de sua histórica herança", disseram.

O memorando ressalta ainda que os países muçulmanos têm "alto apreço pelo apoio histórico do Brasil" às causas dos países árabes e destaca o reconhecimento do Estado da Palestina e o apoio "pela solução de dois estados". A Organização para Cooperação Islâmica agrega 57 países no Brasil.

A relação do Brasil com as nações árabes sofreu um abalo após o presidente eleito ter cogitado transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Em resposta, o governo egípcio cancelou visita do chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, ao país.

A Liga Árabe também enviou carta alertando Bolsonaro de que a medida pode prejudicar as relações do Brasil com os países árabes, que hoje representam o segundo maior comprador de proteína animal brasileira.

De acordo com a Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), 45% da carne de frango e 40% da bovina que o país exporta hoje levam o selo halal --ou seja, pode ser consumida segundo preceitos islâmicos.

Em conversas reservadas, embaixadores das nações islâmicas reafirmam que não cabe a nenhum país interferir em decisões de outras nações e que entendem que o governo federal é soberano para direcionar suas posições sobre política externa. 

Eles observam, contudo, que o Brasil sempre foi um país mediador de conflitos, e não parte do problema no Oriente Médio. Acrescentam que as posições do Brasil na ONU nos últimos 50 anos foram de votar de maneira a reduzir os conflitos na região e que ninguém quer que o país perca a liderança no cenário internacional. 

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