'Coletes amarelos' fazem novo dia de protestos na França apesar de concessões

Público foi menor do que em outros sábados; em Paris lojas ficaram abertas

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Manifestante vestido de Papai Noel e colete amarelo protesta na Opera Garnier, em Paris - Sameer Al-Doumy/AFP)
Paris | AFP

​Um mês após o início do movimento, milhares de "coletes amarelos" foram neste sábado (15) às ruas de cidades da França, no quinto fim de semana de mobilização nacional, apesar das concessões e apelo à calma feitos pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

Em Paris, um contingente policial de peso foi alocado para conter episódios de violência como os vistos em outras semanas. As manifestações, contudo, atraíram bem menos "coletes" do que nos sábados passados.

Isso não impediu eventual confronto entre os manifestantes e a polícia, que usou canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersar grupos de "coletes amarelos" na avenida Champs Elysees e nas ruas adjacentes, em Paris, na tarde deste sábado.

Ativistas feministas de topless encararam o frio para confrontar as forças de segurança perto do palácio presidencial.

A imprensa francesa mostrou cenas de confrontos em Nantes, no oeste da França, além de Bordeaux e Toulouse, mais ao sul.

Diferentemente do sábado passado (6), grandes lojas, como as Galerias Lafayette, abriram ao público em busca dos compradores de Natal. 

Loic Bollay, 44, passava pela avenida Champs Elysees em um colete amarelo. Ele disse que a manifestação deste sábado foi menor, o que atribuiu ao ataque a tiros nesta semana em Estrasburgo, mas o movimento seguirá até conseguir todas as suas reivindicações.

"Por conta do ataque de Estrasburgo, está mais calmo, mas eu acho que no próximo sábado e nos seguintes, vai voltar", afirmou.

Às 17h (14h em Brasília), as autoridades contabilizavam 66 mil manifestantes por toda a França. Uma semana antes, no mesmo horário, eram 126 mil.

Em Paris, 2.200 pessoas se manifestavam no início da tarde —e ao menos 168 foram presas, segundo a polícia. Há uma semana, eram 10 mil nas ruas. "É uma mobilização mais fraca e com menos agitadores", disse Johanna Primevert, porta-voz da prefeitura parisiense. 

​Pouco antes das 9h30 locais (6h30 em Brasília), cerca de trinta pessoas foram detidas na região parisiense —muito menos que as 300 presas interpeladas no mesmo horário no último sábado, no âmbito de controles preventivos.

"A última vez viemos aqui por causa dos impostos, desta vez é mais sobre instituições: queremos uma democracia mais direta", diz Jérémy, 28, que veio de Rennes (oeste) com sua família para "protestar e ser ouvido" na capital.

As autoridades temiam novos episódios de violência. A manifestação do último sábado terminou com um número recorde de prisões (quase 2.000), mais de 320 feridos e danos e confrontos em várias cidades, como Paris, Bordeaux e Toulouse (sudoeste). Aproximadamente 136 mil pessoas saíram às ruas para protestar em toda a França naquele dia.

Para este sábado, a prefeitura de Paris anunciou um reforço da segurança, com 8.000 agentes adicionais e 14 veículos blindados. Em todo o país, 69 mil agentes foram mobilizados, contra 89 mil no sábado anterior.

"Esperamos uma mobilização um pouco menor, embora com indivíduos mais determinados", disse o secretário de Estado do Interior, Laurent Nunez.

Mais uma vez, a polícia realizava revistas principalmente nas estradas, estações e transportes públicos. Também protegia o acesso a instituições como o Palácio do Eliseu e a Assembleia Nacional.

Na capital, os bancos cobriram suas fachadas com cercas de proteção, mas os cafés abriram neste sábado, para tentar compensar as perdas econômicas sofridas nos dois sábados anteriores.

O presidente Emmanuel Macron visitou o mercado de Natal de Estrasburgo na sexta (14) - AFP

Em Bordeaux, o acesso a vários parques, bibliotecas e museus foi fechado; enquanto em Avignon haverá uma marcha branca em memória de um "colete amarelo" que morreu atropelado em uma rotatória na quarta-feira à noite. Foi a sexta morte à margem das manifestações do movimento.

"Hoje, nosso país precisa de calma, precisa de ordem", declarou Emmanuel Macron em Bruxelas na sexta-feira.

"Eu dei uma resposta aos pedidos dos 'coletes amarelos'", declarou o presidente depois de uma cúpula europeia. "O diálogo [...] não é feito ocupando espaço público e com violência", acrescentou.

O aumento de 100 euros por mês no salário mínimo e a anulação de um imposto sobre a aposentadoria não foram suficientes para convencer os manifestantes.

Tampouco os apelos à "responsabilidade" após o ataque em Estrasburgo da última terça-feira, que deixou quatro mortos e alimentou o medo de novos atentados.

No entanto, certos membros do coletivo começam a pedir calma. Alguns "coletes amarelos" decidiram se desassociar do chamado "canal histórico", que consideram radical demais, e pediram uma "trégua" porque "chegou a hora do diálogo".

"Sábado será um dia importante para ver mais claramente o futuro deste movimento [...] se desmorona ou não", apontou o sociólogo Michel Wieviorka, professor na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Paris. 

Segundo ele, é muito provável que "antes da chegada das festividades", com "o ataque de Estrasburgo" e as medidas de Macron, o "movimento evolua nos próximos dias".

"Uma parte poderia se desvincular e, a partir de então, há o risco de radicalização" de alguns elementos, acrescentou ​Wieviorka.

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