Quando legisladores pediram ao YouTube, uma unidade da Google, que fornecesse informações sobre os esforços de manipulação praticados pela Rússia, a empresa não revelou quantas pessoas assistiram em seu site aos vídeos que foram criados por "trolls" russos.
O Facebook não divulgou os comentários que seus usuários fizeram quando viram o conteúdo gerado por russos. E o Twitter só deu detalhes vagos sobre as contas controladas por russos que disseminaram propaganda na rede social.
A morosidade das companhias tecnológicas foi descrita em relatórios que a Comissão de Inteligência do Senado publicou na segunda-feira (17), os mais detalhados até hoje sobre como os agentes russos usaram as redes sociais contra os americanos nos últimos anos.
Nos relatórios, Google, Twitter e Facebook (que também é dona do Instagram) foram descritas por pesquisadores como tendo "omitido" e "mal representado" a si mesmas e a extensão da atividade russa em seus sites. As empresas também foram criticadas por não entregarem ao Senado conjuntos de dados completos sobre a manipulação russa.
Os dados que eles ofereceram "careciam de componentes básicos que teriam dado uma imagem mais completa e acionável", disse um dos relatórios, que foi escrito pela empresa de cibersegurança New Knowledge, juntamente com pesquisadores da Universidade Columbia e da Canfield Research.
Na segunda-feira em Washington, legisladores atacaram as companhias tecnológicas por esconder o jogo.
"Durante muitos meses pedimos que as empresas de redes sociais realizassem essa análise profunda sem sucesso, até quando divulgamos a maior quantidade possível de seus dados", disse o deputado democrata Adam Schiff, da Califórnia. Ele disse que a relutância das empresas a examinar profundamente a interferência russa "tornou nosso trabalho muito mais difícil do que deveria ser".
O senador republicano Richard Burr, da Carolina do Norte, que é presidente da Comissão de Inteligência do Senado, disse: "Esses relatórios são prova positiva de que uma das coisas mais importantes que podemos fazer é aumentar a troca de informações entre as empresas de rede social, que podem identificar campanhas de desinformação e os especialistas capazes de analisá-las".
As companhias de rede social foram atacadas por ajudar a disseminar desinformação russa. Facebook, Google e Twitter inicialmente minimizaram ou negaram a atividade russa em suas plataformas. Mas com o tempo ficou claro que a Rússia as havia usado para tentar influenciar os eleitores americanos.
Os relatórios comentaram como a informação incompleta tinha causado problemas. Como o Google não forneceu dados sobre quantas vezes os vídeos criados por russos foram vistos ou compartilhados no YouTube, os pesquisadores foram obrigados a procurar os vídeos por meio de sites alternativos, para recriar a escala em que a propaganda foi divulgada.
Dados do Google de 2014 a 2018 são "notavelmente escassos", disse o relatório dos pesquisadores de Oxford e da Graphika.
A falha do Facebook em fornecer comentários feitos por usuários sobre as postagens divisoras criadas por russos também dificultou a avaliação de como a propaganda foi recebida, segundo os relatórios.
O Twitter forneceu os dados mais extensos, disseram os pesquisadores, cobrindo de 2009 a 2018. Isso incluiu nomes de contas e informação que não é visível a outros usuários, como os endereços de protocolo da internet, dados de login e localizações de 3.481 contas, que produziram mais de 8 milhões de tuítes. Quatro das cinco contas mais populares no Twitter feitas por russos postaram mensagens visando os afro-americanos.
"O Twitter forneceu um vasto corpo de informação detalhada de contas que a companhia sabia que eram administradas por pessoal da Agência de Pesquisas na Internet", escreveram os pesquisadores.
Mas os dados do Twitter também estavam desorganizados. Os pesquisadores disseram que a companhia dificultou para eles coletar seus próprios dados através de seu site, e repetidamente deixou de trabalhar com eles para rastrear as operações de influência russa nos últimos dois anos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.