Em encontro no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, discutiram nesta quarta-feira (2) medidas de cooperação para tentar solucionar a crise na Venezuela.
O país vizinho enfrenta um cenário de instabilidade política e econômica com a gestão do ditador Nicolás Maduro. Como consequência, o número de imigrantes venezuelanos por países da América Latina e EUA aumentou.
No Brasil, há um fluxo constante de entrada dos estrangeiros pela fronteira com Roraima, o que sobrecarregou os serviços públicos como educação, saúde e segurança no Estado.
Bolsonaro tem posicionamento crítico à gestão de Maduro e já afirmou que não pretende manter relações com o país vizinho. Quando questionado sobre a situação migratória, já deu declarações contraditórias e ainda não deixou claro qual política seu governo adotará em relação aos venezuelanos que chegam no país.
Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência, Pompeo expressou que o governo americano “acompanha com preocupação a grave crise em que se encontra a Venezuela e pediu ao presidente brasileiro que cooperasse ativamente com a resolução dessa questão”.
Em resposta, Bolsonaro disse estar preocupado com a situação venezuelana e disse que o Brasil está comprometido com a estabilidade regional da América do Sul e com a situação da Venezuela, considerada grave.
No encontro, eles falaram sobre cooperação bilateral entre Brasil e os EUA, e Pompeo convidou Bolsonaro para uma visita ao presidente Donald Trump.
O Planalto informou também que o secretário dos EUA manifestou interesse de Trump em visitar o Brasil.
Sobre as cooperações bilaterais, o governo americano disse ter interesse em se aproximar do Brasil em áreas como comércio, educação, segurança e defesa. Bolsonaro também reafirmou que pretende revogar a adesão do Brasil ao Pacto Global Sobre Migrações, como havia sido divulgado por Araújo.
Bolsonaro teve a manhã do primeiro dia de trabalho como presidente dedicado à agenda internacional. Além de Pompeo, ele recebeu representantes de outros três países: Portugal, Hungria e China.
A agenda no Palácio do Planalto começou com as transmissões de cargos dos ministros palacianos: Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Na sequência, Bolsonaro recebeu Pompeo ao lado do chanceler Ernesto Araújo. Estiveram no encontro os ministros Fernando Azevedo (Defesa) e Heleno. O secretário-geral do Itamaraty, Otávio Brandelli, também participou.
Pelos americanos, estiveram Mark Green, administrador da Agência para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), William Popp, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, Julia Chung, subsecretária geral adjunta para assuntos do Hemisfério Ocidental, e Mauricio Claver-Carone, assessor especial do diretor do Conselho Nacional de Segurança.
Após encontro com Araújo, antes de ir ao Planalto, Pompeo disse que os EUA pretendem "aprofundar a cooperação [com o Brasil] em questões de segurança e trabalhar conjuntamente contra regimes autoritários no mundo".
O secretário americano veio ao Brasil para a posse de Bolsonaro, e deixou o país após os encontros desta quarta-feira.
Desde o período eleitoral, o presidente elogiou Trump e defendeu uma aproximação entre os dois países. Em novembro, o assessor de segurança da Casa Branca, John Bolton, esteve no Brasil e reuniu-se com Bolsonaro no Rio de Janeiro.
No mesmo mês, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente, também foi a Washington e a Nova York, onde se reuniu com empresários e políticos locais.
Bolsonaro também recebeu nesta quarta o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que reforçou a importância de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
"A posição portuguesa é a seguinte: independente das posições de política externa de cada país, o pragmatismo obriga que é útil que além das relações bilaterais também instrumentos de acordos multilaterais, que, mesmo sem conteúdo ideológico, mesmo sem debate doutrinário, possam facilitar as exportações, o comércio, a circulação econômica e financeira. E neste ponto o pragmatismo é importante nas relações entre países", disse.
Ele afirmou ter tratado também de questões migratórias envolvendo os dois países.
Bolsonaro recebeu ainda o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e o vice-presidente do Parlamento chinês, Ji Bingxuan.
O presidente fez um aceno ao país asiático, o maior parceiro comercial do Brasil, após críticas durante a campanha eleitoral.
Ele disse na reunião bilateral que sua intenção é ampliar o relacionamento com o país, independentemente da mudança do contexto político brasileiro e do cenário econômico mundial.
Segundo assessores presidenciais, Ji Bingxuan defendeu a importância dos dois países desempenharem conjuntamente papéis protagonistas na pacificação mundial.
Em rede social, ele agradeceu o apoio do presidente do Chile, Sebastián Piñera, que compareceu à posse, e do argentino Mauricio Macri.
"Obrigado por suas palavras, presidente. Sem dúvida, Brasil e Argentina vão caminhar juntos em direções diferentes às dos últimos governos. Um grande abraço!", escreveu em espanhol.
Na terça-feira (1º), em encontro bilateral no Palácio do Itamaraty, Piñera defendeu a criação de uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico.
Ele também convidou o presidente brasileiro a fazer uma visita ao Chile, o que foi aceito por Bolsonaro, que ficou de estabelecer uma data neste ano.
No encontro, o brasileiro pregou a eliminação do que chamou de viés ideológico dos blocos regionais da América do Sul.
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