Papa Francisco expulsa ex-cardeal americano por abusos sexuais

Exclusão de Theodore McCarrick é a primeira de um cardeal na história da Igreja devido a abusos

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Cidade do Vaticano | AFP

O papa Francisco expulsou o norte-americano Theodore McCarrick, 88, ex-cardeal e arcebispo de Washington, acusado de abusar sexualmente de ao menos um adolescente na década de 1970.

Theodore McCarrick, ex-cardeal e arcebispo de Washington; ele foi expulso da Igreja por acusação de abuso sexual de menores
Theodore McCarrick, ex-cardeal e arcebispo de Washington; ele foi expulso da Igreja por acusação de abuso sexual de menores - Chip Somodevilla/AFP

Em comunicado divulgado neste sábado (16), o Vaticano afirma que o ex-cardeal foi considerado culpado de ter "infringido o sexto mandamento [que proíbe o adultério] com menores e adultos, com a circunstância agravante do abuso de poder."

Esta é a primeira vez na história da Igreja Católica que um cardeal é expulso da vida religiosa por razões de abuso sexual.

De acordo com o jornal The New York Times, McCarrick também é acusado de abusar de três menores e de assediar padres e seminaristas adultos.

Uma reportagem do jornal denunciou que a arquidiocese de Nova Jersey pagou pelo silêncio de homens que fizeram acusações contra o ex-cardeal quando ele era bispo no estado nos anos 1980. As acusações eram conhecidas há tempos por líderes da Igreja.

A expulsão implica perda de todos os direitos e prerrogativas de um sacerdote e é considerada a punição mais severa que um prelado pode sofrer.

O papa Francisco, que assegurou "tolerância zero" com casos de abusos sexuais, prometeu nos últimos meses que seria intransigente com a alta hierarquia eclesiástica.

A decisão acontece a menos de uma semana de uma reunião no Vaticano que reunirá presidentes das conferências episcopais de todo o mundo para discutir a responsabilidade de líderes da Igreja Católica que silenciaram casos de agressões sexuais a menores de idade cometidos por membros do clero.

Escândalos do tipo foram revelados recentemente nos Estados Unidos, no Chile e na Alemanha.
Com sua exclusão oficial da Igreja, o ex-cardeal McCarrick, que atualmente vive recluso no estado do Kansas, nos Estados Unidos, torna-se um civil. Ele era um dos cardeais norte-americanos de maior projeção internacional.

Durante muito tempo, ele foi muito influente para levantar fundos para a Santa Sé.

Embora estivesse oficialmente aposentado, continuava viajando, especialmente para defender questões de direitos humanos. Desempenhou papel importante na exigência de reformas que punissem severamente os padres pedófilos nos Estados Unidos. 

McCarrick também foi alvo de uma acusação de um prelado italiano aposentado, o arcebispo Carlo Maria Vigano, que chegou a pedir a renúncia de Francisco e de outros membros da cúria por ignorarem o comportamento do ex-cardeal por cinco anos, apresentado como um notório predador sexual. 

Desde julho, McCarrick já estava proibido de exercer seu ministério, e renunciou ao seu título honorário de cardeal.

A Santa Sé solicitou, em setembro de 2017, ao arcebispo de Nova York, uma investigação do ex-cardeal, depois do testemunho de um homem que acusou o religioso de ter abusado sexualmente dele nos anos 1970. Diante das "sérias indicações" reveladas na investigação, o papa depôs McCarrick do título de cardeal no final de julho passado.

O caso abalou a hierarquia da Igreja Católica americana, pouco antes da publicação de um relatório sobre os abusos sexuais cometidos por membros do clero na Pensilvânia.

No início do mês, o papa admitiu que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras e que é possível encontrar registros desses abusos "em todas as partes", mas estão mais presentes em "congregações novas e em algumas regiões". Segundo ele, a igreja não pode se refugiar "na negação".

Erramos: o texto foi alterado

A versão inicial do texto dizia que Theodore McCarrick foi excomungado da Igreja Católica, o que faria com que o americano ficasse proibido de receber a Eucaristia e outros sacramentos, como a confissão. O ex-cardeal foi, na verdade, expulso, e com isso perdeu as funções sacerdotais. A informação foi corrigida. 

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