Políticos da Assembleia Nacional venezuelana, de maioria opositora, e jornalistas foram cercados na tarde desta terça-feira (26) no prédio onde o órgão funciona.
O episódio aconteceu ao final de uma sessão que teve como principal orador o líder da oposição, Juan Guaidó, desde 23 de janeiro juramentado como presidente interino da Venezuela.
Durante pelo menos três horas, jornalistas venezuelanos que trabalham em veículos e blogs locais ficaram isolados dentro da Assembleia Nacional.
Membros de coletivos, como são chamados os grupos paramilitares ligados ao governo, estavam estacionados do lado de fora do edifício e bloquearam todas as saídas.
Ao final da tarde desta terça, a assessoria de imprensa de Guaidó divulgou vídeos que mostram seu comboio sendo atacado por membros de coletivos.
Nas imagens, eles tentavam abrir as portas e golpeavam os vidros dos automóveis com força.
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa afirmou, em comunicado, que houve vários ataques aos profissionais no local.
Jornalistas da Reuters tiveram material de gravação e celulares roubados.
Após saírem do prédio, integrantes da rede colombiana NTN 24 sofreram pauladas dos coletivos.
Enquanto isso ocorria, outros meios se atrincheiraram dentro da Assembleia, como o Efecto Cocuyo e El Pitazo, esperando que os coletivos deixassem o local.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou em um comunicado divulgado na noite de terça que os Estados Unidos condenam os ataques à comitiva de Guaidó e o assédio aos deputados da Assembleia Nacional e aos profissionais da mídia.
"Estamos monitorando de perto os relatos desses atos de intimidação praticados pelas gangues armadas sem lei de Nicolás Maduro", diz o texto.
A chancelaria dos EUA também afirmou que "proteger a Assembleia Nacional, que foi eleita democraticamente, é responsabilidade das forças de segurança", e que elas deveriam "por fim à intimidação desses grupos armados".
Na sessão desta terça, Guaidó falou aos parlamentares sobre os próximos passos para a chamada "tomada de Miraflores", série de protestos e eventos que culminaria em uma marcha até o palácio presidencial para ocupar o lugar de Nicolás Maduro.
Nas últimas semanas, o ditador contou com uma demonstração de apoio da Rússia —dois aviões das forças armadas russas pousaram na Venezuela no sábado (24); cerca de uma centena de militares estavam a bordo.
O regime também tem intensificado suas ações contra opositores e jornalistas.
O incidente acontece justamente quando o entorno de Guaidó vem sofrendo baixas importantes e ataques.
Nos últimos dias, Roberto Marrero, chefe do escritório de Guaidó, foi preso e levado à temida prisão do Helicoide.
O deputado Sergio Vergara, que faz parte do círculo íntimo do líder opositor, teve sua casa revistada, assim como a deputada Kelly Perfecto, ligada a Marrero, e o advogado Juan Antonio Planchart Márquez, primo de Guaidó que costuma ajudá-lo com questões jurídicas.
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